Ministro: enraizamento no Estado faz organizações criminosas florescerem
Para o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, corruptos devem ir para a cadeia e ter os bens adquiridos de forma ilegal confiscados. “Todo mundo que desvia dinheiro público tem que ser punido”, afirmou neste domingo no 11º Fórum de Comandatuba. Ele considerou “impressionante” e “impactante” a forma como foi montado o suposto esquema de […]
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Para o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, corruptos devem ir para a cadeia e ter os bens adquiridos de forma ilegal confiscados. “Todo mundo que desvia dinheiro público tem que ser punido”, afirmou neste domingo no 11º Fórum de Comandatuba. Ele considerou “impressionante” e “impactante” a forma como foi montado o suposto esquema de corrupção de Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira, e afirmou que esse tipo de atividade ilegal está profundamente ligada ao poder. “Organizações criminosas dificilmente florescem se não houver um enraizamento muito forte no próprio aparelho do Estado”, disse.
O ministro questionou ainda se o sistema político brasileiro não acaba criando condições para que o crime organizado se instaure. “Será que um sistema político com campanhas tão caras não favorece isso (corrupção)? Eu entendo que sim (…), e tem que ser punir com rigor todo mundo que faz mal feitos e desvia dinheiro público”. E completou: “não é à toa que temos escândalos de forma cíclica”.
A 11ª Edição do Fórum de Comandatuba é promovida pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), do empresário João Doria Jr., e trará debates enfocados no tema “O Brasil que Nós Queremos”. O evento será realizado entre os dias 28 de abril e 1º de maio no hotel Transamérica, em Comandatuba (BA). O fórum, que é anual, foi criado em 2002.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir ouros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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