Membros da CPI se irritam com silêncio de Cachoeira, negam ser “palhaços” e o comparam a “marginal”
O direito a permanecer em silêncio, repetido inúmeras vezes pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira durante depoimento na reunião da CPI nesta terça-feira (22), irritou alguns parlamentares. O deputado Fernando Franscichini (PSDB-PR), por exemplo, pediu à presidência da CPI que os parlamentares fossem tratados com respeito e não “como palhaços”. “Não brinque conosco. O senhor não pode…
O direito a permanecer em silêncio, repetido inúmeras vezes pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira durante depoimento na reunião da CPI nesta terça-feira (22), irritou alguns parlamentares. O deputado Fernando Franscichini (PSDB-PR), por exemplo, pediu à presidência da CPI que os parlamentares fossem tratados com respeito e não “como palhaços”.
“Não brinque conosco. O senhor não pode vir aqui para jogar com quem quiser, ou para salvar da fogueira quem o senhor quiser”, disse o tucano. Cachoeira apenas respondeu: “Quem forçou [a ida dele próprio à CPI] foram os senhores”.
Apesar de mais magro e com olheiras profundas, Cachoeira não demonstrou desconforto com as perguntas dos parlamentares. O contraventor repetiu frases como “Vou te ajudar, mas depois”; “Quero permanecer calado”; “Permaneço calado”; “Falarei tudo depois”.
O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR) também perdeu a paciência com as mesmas respostas e chamou o bicheiro de “marginal” e “tomado da arrogância de quem é livre, e não preso”.
“Ouro para bandido”
“Estamos fazendo um papel ridículo diante deste senhor, que está nos manipulando, [estamos] perguntando para uma múmia. O que as pessoas em casa vão pensar de nós? Não vou ficar dando ouro para bandido”, vociferou a líder do PSD no Senado, Kátia Abreu.
A senadora sugeriu ainda que as perguntas fossem interrompidas, o bicheiro fosse embora e os parlamentares retomassem a votação de outros requerimentos, como quebra de sigilo e convocação de pessoas que possam, de fato, contribuir com os trabalhos da comissão.
Direito constitucional x “silêncio cínico”
Já o deputado Chico Alencar (RJ), líder do PSOL na Câmara, criticou o direito evocado pelo contraventor: “Esta sessão não foi inútil, o senhor Carlos Cachoeira acaba de alegar aqui (…), ele aqui declarou que o que o delegado trouxe para a investigação é a pura verdade”, afirmou o líder do PSOL na Câmara dos Deputados, Chico Alencar (RJ). “Este é um silêncio cínico, um silêncio desrespeitoso”, definiu.
Logo no início da sessão, Cachoeira afirmou que ficaria calado, como havia antecipado sua defesa –ele afirma que só se manifestará em juízo. “Como manda a lei responderei constitucionalmente, fui advertido pelos advogados para não dizer nada e não falarei nada aqui”, afirmou o bicheiro. Já na terceira pergunta não respondida, Cachoeira começou a ironizar o fato de que não iria responder e que só responderia depois de falar na Justiça de Goiás.
O deputado federal Sylvio Costa (PTB-PE), por sua vez, satirizou o andamento da reunião. “Este silêncio não é o ‘silêncio dos inocentes’ [em referência ao filme com mesmo nome], é óbvio”, afirmou.
Indagado pelo relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), logo no início da reunião, sobre bens e relação com empresários, Cachoeira reforçou que não falará –nas primeiras perguntas feitas, foi essa a resposta tanto sobre a relação dele com empresas como a Delta, quanto sobre a relação com um sul-coreano e sobre seus bens, tais como uma casa em Miami.
O bicheiro também invocou o direito de permanecer calado ao ser indagado por membros da CPI sobre sua relação com Waldomiro Diniz, com o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, e com Idalberto Matias Araújo, o Dadá. Novamente, o silêncio e um leve sorriso foram expostos pelo bicheiro ao ser indagado sobre sua relação com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).
Cachoeira foi preso em fevereiro durante uma operação da Polícia Federal –ele é acusado de comandar um esquema de jogos ilegais de azar, além de outros crimes. O depoimento do pivô do escândalo hoje foi possível uma vez que seu segundo pedido de habeas corpus para não depor foi rejeitado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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