Maioria do STF é a favor das cotas raciais nas universidades

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considera constitucional o sistema de cotas raciais para ingresso de alunos afrodescendentes em universidades públicas. Seis ministros já deram seus votos favoráveis à ação – até o fim do julgamento, os votos podem mudar, o que não costuma ocorrer. Três ministros ainda devem pronunciar seus votos, […]

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A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) considera constitucional o sistema de cotas raciais para ingresso de alunos afrodescendentes em universidades públicas. Seis ministros já deram seus votos favoráveis à ação – até o fim do julgamento, os votos podem mudar, o que não costuma ocorrer.

Três ministros ainda devem pronunciar seus votos, já que Dias Toffoli declarou-se impedido por ter atuado como advogado-geral da União à época da instituição do sistema de cotas. O voto decisivo foi dado pelo ex-presidente da Corte, ministro Cezar Peluso. Interrompido por apartes dos ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, Peluso resumiu a questão ao afirmar que as cotas são necessárias à sociedade brasileira no atual momento, mas que devem ser analisada no futuro para verificar se ainda atingem o objetivo de inserir afrodescendentes em posições de mais destaque.

“Não posso deixar de concordar com o relator que a ideia (cota racial) é adequada, necessária, tem peso suficiente para justificar as restrições que traz a certos direitos de outras etnias. Mas é um experimento que o Estado brasileiro está fazendo e que pode ser controlado e aperfeiçoado”, votou o ministro.

O voto de Peluso foi antecedido pelo do ministro Joaquim Barbosa que, surpreendendo a todos no plenário, levou apenas dez minutos para concluí-lo. O ministro, o único negro da Corte Suprema, acusou que a discriminação está tão enraizada na sociedade brasileira que as pessoas nem percebem.

“Aos esforços de uns em prol da concretização da igualdade que contraponham os interesses de outros na manutenção do status quo, é natural que as ações afirmativas sofram o influxo dessas forças contrapostas e atraiam resistência da parte daqueles que historicamente se beneficiam da discriminação de que são vítimas os grupos minoritários. Ações afirmativas têm como objetivo neutralizar os efeitos perversos da discriminação racial”, disse Barbosa em seu voto.

O ministro Luiz Fux foi o primeiro a se pronunciar nesta quinta-feira. Elogiando o voto do relator feito ontem, Fux definiu que ações afirmativas ainda são necessárias em um País com desigualdades sociais tão grandes como o Brasil.

 “A opressão racial dos anos da sociedade escravocrata brasileira deixou cicatrizes que se refletem no campo da escolaridade. A injustiça do sistema é absolutamente intolerável”, disse. Rosa Weber e Cármen Lúcia A ministra Rosa Weber, que seria a primeira a votar na sessão de hoje, deu lugar a Fux por um pedido do ministro: hoje ele comemora 59 anos e teria de se ausentar mais cedo.

Rosa Weber iniciou seu voto afirmando que não se pode dizer que os brancos em piores condições financeiras têm as mesmas dificuldades dos negros, porque nas esferas mais almejadas das sociedades a proporção de brancos é maior que de negros.

“A representatividade, na pirâmide social, não está equilibrada. Se os negros não chegam à universidade, por óbvio não compartilham com igualdade de condições das mesmas chances dos brancos. Se a quantidade de brancos e negros fosse equilibrada, seria plausível dizer que o fator cor é desimportante. A mim não parece razoável reduzir a desigualdade social brasileira ao critério econômico”, disse a ministra.

Na opinião da ministra Cármen Lúcia, que votou em seguida também a favor das cotas raciais, as ações afirmativas não são as melhores opções. “A melhor opção é ter uma sociedade na qual todo mundo seja livre para ser o que quiser. Isso é uma etapa, um processo, uma necessidade em uma sociedade onde isso não aconteceu naturalmente”, disse Cármen Lúcia.

STF julga ações sobre cotas e Prouni Além das cotas raciais na UnB, o STF vai analisar duas ações que contestam a constitucionalidade da reserva de vagas por meio de cotas sociais e o perfil do estudante apto a receber bolsas do Prouni.

A outra ação sobre cotas que aguarda julgamento foi ajuizada pelo estudante Giovane Pasqualito Fialho, reprovado no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para o curso de administração, embora tivesse alcançado pontuação superior à de outros candidatos. Os concorrentes que tiveram nota menor foram admitidos pelo sistema de reserva de vagas para alunos egressos das escolas públicas e negros.

Em relação ao Prouni, implementado a partir de 2005 com a concessão de bolsas de estudo em universidades privadas, a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem) alega que a medida provisória que originou o programa não atende ao princípio constitucional da isonomia entre os cidadãos brasileiros.

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