Hospitais retêm macas e prejudicam socorro imediato do Samu em Campo Grande

Ambulâncias estão tendo que deixar macas com pacientes nos hospitais, já que a unidade está superlotada e com isso a Samu fica paradas, deixando de realizar o socorro imediato.

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Ambulâncias estão tendo que deixar macas com pacientes nos hospitais, já que a unidade está superlotada e com isso a Samu fica paradas, deixando de realizar o socorro imediato.

A superlotação dos hospitais em Campo Grande refletem também na qualidade do Serviço de Atendimento Médico de Urgência – Samu, que há quase uma década transfere pacientes que precisam de socorro imediato. Sem macas suficientes nas unidades hospitalares, o jeito é deixar o equipamento no hospital até que outra maca seja desocupada e com isso a viatura fica ‘parada’, prejudicando quem precisa ser socorrido.

O problema, de acordo com quem trabalha na unidade, é antigo, mas foi exposto ao Midiamax e a quem estivesse presente no Hospital Regional, na manhã desta terça-feira (13).

“Estou aqui desde cedo para saber notícias do meu marido, que inclusive foi transferido em estado grave pela Samu ontem à noite. E sentada aqui vi funcionários de duas ambulâncias, que chegaram por volta das 8h, pedindo seis macas, sendo informados que não seriam devolvidas porque o hospital está lotado”, disse a cozinheira S.O.L., 40 anos.

Após muita conversa, segundo a testemunha, eles devolveram duas macas e prometeram devolver o restante em um curto período de tempo. Os pacientes então foram remanejados e um deles transferido para o Hospital São Julião. Logo em seguida, outra ambulância chegou para trazer mais um doente.

”Vendo esta cena entendi ainda mais o descaso com a população. Meu marido passou mal e não queria de jeito algum ir ao hospital, porque sabia da demora no atendimento. Insisti e chegamos no posto da Coophavila às 16h. O médico disse que era urgente porque ele teve um infarto e que seria transferido rapidamente para o hospital regional. Só que a Samu só chegou às 20h e agora acredito que o problema eram as macas”, fala S.

Já na unidade, além da superlotação e da falta de macas, ela comenta o descaso com os parentes das vítimas. “Eles falam que só podem passar informação às 10h, sendo que se ele estiver morto nem tem como eu saber. Isso é um absurdo”, fala S.

O carregador Luis Augusto do Amaral, 50 anos, também conta que chegou pela Samu, como acompanhante da mãe que sofre de problemas pulmonares. “Ela teve de ficar na maca deles e no corredor. À noite, a bagunça era tamanha que havia crianças misturadas com adultos e idosos em macas descobertas, além de sujeira para todos os lados”, afirma Amaral.

Problema abrange todos os hospitais da Capital, diz médico da Samu

Em contato com um médico plantonista da Samu, ele confirmou o problema das macas. “Realmente está complicado trabalhar dessa maneira. E se o hospital faz isso é porque não tem mais aonde colocar gente. Na Santa Casa, isso acontece menos, mas no Hospital Universitário é frequente, sendo que em 90% dos casos deixamos a maca para pegar só 24 horas depois, já que a alta médica lá acontece geralmente às 15h”, fala o médico.

Na base da Samu, segundo ele, existem macas reservas, provenientes de ambulâncias que estão no conserto. “Cada ambulância tem uma maca específica, de encaixe. Se deixamos a maca no hospital com o paciente, aquela ambulância não pode circular porque está sem o equipamento. Então muitas vezes deixamos o paciente, voltamos à base para pegar uma reserva e retornamos ao hospital para fazer a troca”, conta o médico.

Nesse período, segundo ele, a ambulância fica sem rodar e quem precisa de atendimento fica desassistido. “Ficamos aguardando melhorias, que parecem ser eternas”, lamenta o profissional da Samu.

Descaso da saúde pública

Recentemente, indignados com o descaso da saúde pública, profissionais da área enviaram um comunicado ao prefeito da Capital, Nelson Trad Filho, ao presidente da Câmara dos Vereadores, Paulo Siufi, ao Secretário Municipal de Saúde, Leandro Mazina, ao coordenador da Samu, Mauro Luiz de Britto Ribeiro e a coordenadora de urgência e emergência, Gislayne Budib Poleto, entre outras autoridades.

No papel eles externam sua ‘profunda insatisfação com as precárias condições de trabalho às quais tem sido submetido, principalmente com relação à redução do número efetivo de viaturas em circulação para atendimento e a descaracterização do serviço de urgência e emergência’.

O documento foi protocolado no dia 25 de junho deste ano, no Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul. Na ocasião foi constatado o não funcionamento de mais de 50% da frota do serviço, por motivo de manutenção. E entre as principais causas estavam à retenção rotineira de macas das viaturas nos hospitais.

Novas ambulâncias no próximo mês

Questionado a respeito do problema, o coordenador da Samu, Dr. Mauro Luiz de Brito Ribeiro, diz o problema não tem ocorrido na Santa Casa, mas com frequência nos hospitais Universitário e Regional.

”Não temos como ter controle da situação dos hospitais, mas aumentamos a frota. Eram 28 ambulâncias, sendo que oito foram retiradas de circulação e serão leiloadas em breve. A intenção é comprar novos carros apenas para fazer a transferência”, fala o Dr. Ribeiro.

Segundo ele, a Samu realiza de 400 a 450 atendimentos ao dia. Destes, 180 são pedidos de transferência de pacientes. “É quase 50% do nosso trabalho diário. Então, com os novos carros e mais cinco ambulâncias que estão previstas para chegar no dia 5 de dezembro, vamos melhorar ainda mais o atendimento”, conclui o coordenador da Samu.

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