Fernando Gabeira explica como perder a eleição e plantar semente para a próxima

Fernando Gabeira é jornalista, escritor e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro. Nascido em 1941, ele se sente dentro da política desde que ele liderou o movimento contra um professor de Matemática na escola e ele foi demitido. Exilado por dez anos do Brasil, esteve em vários países e trabalhou em uma rádio sueca até […]

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Fernando Gabeira é jornalista, escritor e ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro. Nascido em 1941, ele se sente dentro da política desde que ele liderou o movimento contra um professor de Matemática na escola e ele foi demitido.

Exilado por dez anos do Brasil, esteve em vários países e trabalhou em uma rádio sueca até voltar em 1979.

Encara a política como um projeto de planos e metas distante do momento da eleição e de apenas ganhar,  motivos que o fazem ver suas derrotas nas urnas com sobriedade. A que considera a maior derrota política é a de 2008, quando foi candidato a prefeito pelo Rio de Janeiro, perdendo as eleições por pouco menos de 50 mil votos.

Gabeira esteve nessa semana em Campo Grande para participar de um congresso quando aproveitou para conversar com lideranças do PV (Partido Verde).

 

Midiamax: Qual a importância de ser jornalista na sua vida política?

Gabeira: Tive uma vida de jornalista muito atribulada. Passei pelas renovações no Jornal do Brasil e movimentos importantes no jornal que trabalhei em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Fiz parte de jornais como o “Panfleto”, destruído pela ditadura, um jornal de oposição.

A experiência mais recente que tive no impresso foi preparando a pauta e agora tenho um programa de ecologia na Band News. Mas sinto que estou na política desde sempre e não enquanto jornalista. Aos 17 anos eu liderava o movimento estudantil e, mais cedo, consegui demitir um professor de Matemática da escola.

 

Midiamax: Por quantas vezes foi candidato?

Gabeira: Costumo dizer que acho que sou o candidato que mais teve derrotas nas eleições do Brasil. Fui candidato a deputado por quatro vezes, uma vez a prefeito, uma a governador e uma vez a presidente. Perdi quase todas (risos). Muitas vezes a gente vai preparado para perder,vai para plantar sementes para o futuro. Eu acho que este é o grande objetivo de mostrar a cara e disputar, dar opção para a população.

 

Midiamax: Na biografia que está no seu blog, há destaque para as eleições para a prefeitura do Rio, quando perdeu por pouco. É a sua derrota mais sentida?

Gabeira: Sim, com certeza. Em 2008 eu estava pronto para ser prefeito, estava na cara do gol e fiquei com 49,8% dos votos, perdi por cinqüenta mil votos. Foi muito difícil.

 

Midiamax: Enquanto político acredita que o dinheiro é capaz de eleger alguém?

Gabeira: Dinheiro por si só não elege ninguém. Candidatos com fortunas não são eleitos. É impossível vencer sem idéias, sem carisma, sem amor pelo povo. Ter conhecimento das pessoas é fundamental, elas sabem logo quando o candidato diz que gosta do povo, mas não gosta. Não acredito que o dinheiro engane a população.

 

Midiamax: É possível considerar que o PV (Partido Verde) perdeu a Marina Silva?

Gabeira: Foi uma perda tanto para o PV como para a Marina Silva. Para o PV porque é difícil eleger um candidato, mesmo que em um partido que só tem crescido. Para ela porque é difícil construir um partido no Brasil. É difícil e trabalhoso. A maioria dos partidos não tem tradição intrínseca e é grande o número de aventureiros e oportunistas.

 

Midiamax: E quanto ao futuro do PV, o que se pode esperar?

Gabeira: O PV precisa dar um passo importante e não pode andar apenas pelas questões consideradas ecológicas, precisa levar em conta as questões gerais do país. O PV se construiu de forma voltada para a defesa do meio ambiente. Isso pode eleger alguns representantes, mas precisamos de muito mais no geral. É preciso elaborar e tratar temas como a saúde, transporte coletivo, cultura, educação, urbanismo e ter o meio ambiente como referência.

 

Midiamax: O que você espera do julgamento do mensalão no STF?

Gabeira: Nunca se sabe na política o que vai acontecer, mas este é um momento especial com o julgamento do mensalão. Há uma expectativa social de controle legal da política, independentemente do resultado do julgamento no Supremo. Acredito em mecanismos que tornem a corrupção administrável, mas não no fim dela.

A transparência, por exemplo, é importante para que o povo acesse e saiba com o que é gasto o dinheiro público. Já é um caminho.

Com a ficha limpa, por exemplo, é importante garantir que os candidatos sujos não voltem ao cenário político e este é o papel do trabalhador da informação, do jornalista.

Entrar na política com a expectativa de crescer é um mito que precisa ser desfeito. O julgamento do mensalão deve desestimular isso.

 

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