Expansão do crédito esbarra no endividamento da nova classe média

Um dos principais combustíveis para incentivar o poder de compra das classes C e D, o crédito não deslanchou, apesar das reduções dos juros. Segundo economistas, essa desaceleração indica que a expansão do consumo baseada na inclusão da nova classe média ainda não se esgotou, mas encontrou um limite no endividamento das famílias. Em março, […]

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Um dos principais combustíveis para incentivar o poder de compra das classes C e D, o crédito não deslanchou, apesar das reduções dos juros. Segundo economistas, essa desaceleração indica que a expansão do consumo baseada na inclusão da nova classe média ainda não se esgotou, mas encontrou um limite no endividamento das famílias.

Em março, o estoque das operações de empréstimos e financiamentos no sistema financeiro cresceu 1,7%. Em abril, segundo os dados mais recentes do Banco Central, a expansão totalizou 1,2%. As informações referentes a maio só serão divulgadas no fim de junho.

Segundo o professor Fabio Gallo, especialista em crédito da Fundação Getulio Vargas (FGV), aparentemente está havendo o fim de um ciclo que se iniciou em 2009, quando o governo estimulou a concessão de empréstimos e financiamentos para aquecer a economia em meio à crise daquele ano. Para ele, as reduções de juros, tanto das taxas básicas como dos custos dos empréstimos, terão efeito limitado sobre o crédito, pelo menos neste momento.

“A inadimplência das pessoas físicas está batendo recordes [5,9% em março e abril], e pelo menos 25% dos brasileiros estão com dívidas fortes. A maioria dos endividados vem da classe C, que não soube fazer as contas na hora de comprar um carro em até 60 vezes sem entrada”, avalia Gallo. Ele, no entanto, diz que as prestações atrasadas não são o único problema para destravar o crédito. “Mesmo a família com as contas em dia precisa quitar o financiamento antes de pegar novos empréstimos”, explica.

Apesar dos gargalos para recuperar o crédito, Gallo diz ser precipitado falar em esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo da nova classe média. “As medidas podem até surtir o efeito esperado sobre a economia, mas isso vai levar tempo. A renda da população precisa continuar aumentando, e as famílias têm de liquidar os financiamentos contraídos nos últimos anos”, diz.

Especialista em finanças pessoais da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques também refuta a hipótese de que o modelo de crescimento econômico com base no consumo das classes C e D tenha se exaurido. “Estamos apenas num momento de transição, em que as famílias precisam se reorganizar antes que o crédito atravesse um novo ciclo de crescimento”, acredita.

Sobre as reduções de juros promovidas pelo governo e pelos bancos, Marques diz que, no fim das contas, a população sairá cada vez mais endividada. “A partir do momento em que os consumidores puderem alongar dívida a taxas mais baixas, a capacidade de endividamento aumenta”, avalia. Esse processo, no entanto, diz ele, exige mais cuidado das famílias da nova classe média em relação às finanças.

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