Disputa entre petistas é apontada como motivo para morte de jornalista na fronteira
Dois meses após a morte de Paulo Rocaro, ganham força na região suspeitas de que o crime tenha ligação com a disputa entre pré-candidatos a prefeito de Ponta Porã pelo PT. Casal apontado como suspeito foi à imprensa negar tudo e diz que acusações também têm motivação política.
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Dois meses após a morte de Paulo Rocaro, ganham força na região suspeitas de que o crime tenha ligação com a disputa entre pré-candidatos a prefeito de Ponta Porã pelo PT. Casal apontado como suspeito foi à imprensa negar tudo e diz que acusações também têm motivação política.
Enquanto a polícia se limita a informar que as investigações estão em andamento, ganha força a suspeita de que o assassinato do jornalista Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, atacado a tiros no dia 12 de fevereiro em Ponta Porã, a 340 quilômetros de Campo Grande, está ligado à disputa política pela sucessão na prefeitura do município.
Nesta sexta-feira (13) completa-se o segundo mês após a morte.
Na cidade, separada do município paraguaio de Pedro Juan Caballero apenas por uma avenida, os rumores entre formadores de opinião, militantes de diversos partidos políticos, e até no submundo, apontam um suposto racha no diretório do PT como pivô para a encomenda do assassinato do jornalista, conhecido como Paulo Rocaro.
O crime ganhou destaque internacional porque foi a segunda morte violenta de um profissional da imprensa no Brasil em menos de uma semana. E surpreendeu a população da fronteira porque, segundo se comenta em Ponta Porã, havia anos nenhum dos grupos que dividem o poder na região recorria à pistolagem contra personalidades com alguma expressão social.
“Aqui uma morte assim, de alguém com alguma importância, sempre era muito discutida antes de acontecer. Era tudo conversado e, quando acontecia, geralmente todo mundo já sabia até de onde tinha saído a ordem”, comenta um policial aposentado que mora há mais de 30 anos na fronteira.
Silêncio da fronteira
Ninguém quer se manifestar oficialmente sobre o assunto, como é típico na fronteira.
A Polícia Civil se limita a informar que as investigações estão avançando e garante que tem ordens para elucidar o assassinato o quanto antes, ‘doa a quem doer’. O delegado Odorico de Ribeiro de Mendonça Mesquita, que preside o inquérito, decretou sigilo nos trabalhos.
Após a pressão internacional pela elucidação do crime, o governador André Puccinelli determinou “rigor” ao secretário de segurança, Wantuir Jacini, e a equipe da DEH (Delegacia Especializada de Repressão a Homicídios), de Campo Grande, foi destacada para dar apoio ao delegado de Ponta Porã.
O titular da DEH, delegado Edilson dos Santos Silva, diz que ajudou em alguns depoimentos e afirma que está confiante na elucidação completa do crime. “Tudo que podia ser feito, foi feito. O inquérito foi instaurado no dia do ocorrido. Os pedidos iniciais e perícias foram requisitados no mesmo dia. Isso aumenta muito a chance de resolução”, diz.
Extraoficialmente, os rumores são de que até o momento já foram afastadas nas investigações a possibilidade de motivação passional ou de que tenha sido uma cobrança de dívida, por exemplo.
Até eventos do passado do jornalista, como a morte do pai dele, que ocorreu há anos em circunstâncias violentas no município de Antônio João, teriam sido investigados e excluídos da lista de possíveis motivos. A Polícia Civil não confirma.
Mesmo assim, Odorico explica que a grande dificuldade dos crimes de pistolagem na fronteira está ligada à cultura do silêncio absoluto que todos praticam.
“Não é um crime simples. Há uma série de indícios sendo analisados. Mas, só podemos agir com a certeza de que uma eventual denúncia seja muito bem calçada. Há muita informação não oficial rodando pela cidade, mas ninguém quer se comprometer na hora das oitivas”, diz o delegado.
Odorico admite que pediu mais prazo para concluir as investigações porque aguarda resultados de laudos periciais que podem acrescentar novos elementos ao caso, mas diz que não tem como adiantar nada no momento. “Como o inquérito corre em sigilo, é tudo que posso informar”, esquiva-se.
Petistas em disputa
O único envolvido que aceita falar abertamente sobre a morte de Paulo é justamente um dos apontados nas rodas de conversa da cidade e até entre chefes de grupos que atuam na fronteira como eventual suspeito de ser o mandante do crime.
O empresário Cláudio Rodrigues de Souza, presidente do diretório municipal do PC do B de Ponta Porã, e marido da advogada Sudalene Alves Machado Rodrigues, que foi candidata a vereadora pelo PPS, e agora disputa a vaga para ser candidata a prefeita pelo PT, falou com a reportagem acompanhado pela advogada dele e negou qualquer envolvimento.
Cláudio, conhecido como ‘Meia-Água’, e a esposa dele, Sudalene, surpreenderam a população local quando foram à imprensa da região refutando as supostas acusações de que estariam envolvidos como mandantes da morte de Rocaro. Segundo ele, questões políticas seriam a causa da tentativa de envolvimento do casal no caso.
“Eu falo abertamente porque não tenho o que esconder. Não vejo motivo nenhum para meu nome estar sendo citado como mandante deste crime. Primeiro, porque o Paulo Rocaro era um amigo meu, foi quem levantou meu nome em Ponta Porã. O Paulo Rocaro foi quem me apelidou de guru político de Ponta Porã”, afirma.
Sudalene repete o marido, mas admite que exista uma disputa interna no diretório petista de Ponta Porã e acha que está sendo envolvida para ser prejudicada no plano de ser a candidata à Prefeitura pelo Partido dos Trabalhadores.
“Se existe algo são apenas boatos mentirosos e imundos pra q eu saia da disputa na Pre campanha”, afirmou em mensagem enviada por SMS para o celular da reportagem no último dia 5.
Após declarar ao Jornal Regional, de Ponta Porã, no dia 22 de março, que provas poderiam estar sendo plantadas para incriminar a ela e ao marido, Sudalene conta que chegou a conversar com o delegado sobre os boatos. “Oficialmente não existe nada. Eu mesma estive com o doutor Odorico porque não tenho nada a esconder”, relata.
“Qualquer coisa q for dita a meu respeito q não venha da autoridade competente cabe um processo de denunciação caluniosa. Crime punido com reclusão mais danos morais”, avisou, ainda por SMS, a advogada.
No diretório petista, os membros também preferem se calar.
No entanto, todos confirmam que Paulo Rocaro, filiado ao PT desde 14 de junho de 1988, um dos fundadores do partido na cidade, e membro do Diretório Municipal em Ponta Porã, era declaradamente contrário à escolha de Sudalene como candidata da legenda na disputa pela Prefeitura.
Ele estava no grupo que defende a candidatura do ex-prefeito Vagner Piantoni.
Gaivota Pantaneira
No dia 17 de janeiro, após uma reunião do Diretório Municipal do PT, Rocaro publicou na coluna “Gaivota Pantaneira” notas apontadas por correligionários como estopim para as divergências entre o jornalista e Cláudio Rodrigues, além da esposa dele, Sudalene Machado.
Após dar como certo que o candidato petista à sucessão de Flávio Kaiatt seria mesmo o amigo Vagner Piantoni, o jornalista criticou na nota ‘Erros’ a postura de Sudalene durante o evento.
“Quem pisou feio foi a pré-candidata Sudalene Machado. Não sei de quem foi a ideia, mas a advogada entrou na reunião com dezenas de pessoas trajando camisetas vermelhas. Pouquíssimas eram filiadas. Se ela conhecesse um pouco da história do PT, ou se fosse melhor assessorada, jamais tentaria ir para o ‘abafa’ daquele jeito. Era só uma apresentação de candidatos. Pegou mal na militância porque ‘abafa’ é coisa de partido de direita”, disparou Rocaro.
Segundo Sudalene, mesmo com a disputa interna, qualquer suspeita sobre o envolvimento dela ou do marido como mandantes do crime é descabida. “Estou tendo meu nome e dos meus familiares envolvidos em um crime que não temos qualquer ligação, pelo contrário, sentimos muito pelo que ocorreu”, afirmou em entrevista publicada no dia 22 de março, também pelo Jornal Regional.
Claudio Rodrigues afirma que os boatos envolvendo ele e a esposa seriam uma forma de outros grupos tentarem lucrar politicamente com a morte do jornalista.
“Com relação ao crime, eu não consigo entender o porquê as pessoas insistem em dizer que eu fui o mandante. Insistem em dizer que eu briguei com o Paulo. O Paulão é um cara que, eu te falei aqui e vou repetir, eu devo muito a ele. Ele foi quem levantou meu nome, levantou minha moral. Ele foi quem criou o Claudinho político em Ponta Porã. Que até então, eu era só empresário”, afirma.
Briga na padaria
Sobre outro rumor que corre na cidade, de que teria discutido com Paulo Rocaro em uma padaria dias antes do assassinato, Cláudio Rodrigues garante que a suposta briga nunca ocorreu e que os encontros entre eles eram comuns.
“A gente estava sempre se encontrando, em padarias, em lugares da cidade, e eu acho que o último encontro nosso foi na padaria, e ele estava lá trabalhando… Aliás, ele estava lá já… ele tinha acabado de sair do trabalho, e me disse: eu passei a noite inteira preparando matérias, que eu tenho bombas”, relata.
A informação extraoficial, também não confirmada pelo delegado, é de que imagens do circuito interno da tal padaria teriam sido solicitadas pela polícia, mas o sistema de vigilância teria gravado novas cenas por cima da data em que teria ocorrido o encontro entre Rocaro e Rodrigues.
Canhoto no atentado
No dia do atentado, um domingo, Paulo Rocaro estava na casa de Vagner Piantoni. Ele tinha passado a tarde na casa do correligionário e, quando saiu, por volta das 23 horas, foi interceptado por uma dupla de moto e alvejado pelo carona. O pistoleiro atirou pelo lado direito do automóvel e não mirou na cabeça do jornalista.
Foram disparados 12 tiros de pistola 9 mm e cinco atingiram Paulo, todos no abdômen. Outros atingiram o veículo. O jornalista ainda conseguiu dirigir por alguns metros, pediu socorro em um estabelecimento comercial e ligou para a esposa.
O fato, segundo um homem que se apresenta como pistoleiro profissional e atua na região, é significativo. “Ou o atirador era canhoto, e por isso chegou pela direita, ou a intenção não era matar o alvo; era só assustar. Outra coisa que explicaria, se fosse só um susto, é se ele achasse que o cara pudesse reconhecer ele. Daí ele também chegaria pelo lado do passageiro”, analisa.
O homem ainda afirma que teria ouvido boatos sobre imagens de vídeo que teriam flagrado quando o jornalista pedia socorro em um hotel e mostrariam os pistoleiros passando novamente pelo local.
“Se eles deram a volta mesmo e passaram em frente ao alvo, que estava vivo ainda, é porque não queriam matar mesmo. Aqui funciona assim: quando te acertam um serviço, você tem que dar garantia total. Quando é pra fazer mesmo, a gente vai pra acertar na cabeça e terminar o trabalho”, explica.
Paulo Rocaro ainda foi socorrido com vida e morreu durante a cirurgia, às 5h30 do dia 13.
A polícia também não confirma a informação sobre as supostas imagens. Porém, já em 14 de fevereiro, o delegado havia dito à imprensa que solicitou imagens de três câmeras de circuitos de vigilância no trajeto feito pelo jornalista até o momento do atentado.
Devido à suposta motivação política, muitos temem em Ponta Porã que o crime acabe sem elucidação. “O nosso temor é de que, mesmo sem o envolvimento direto de pessoas poderosas, não se faça muita questão de resolver o caso para não respingar em ninguém”, pondera uma colega de trabalho de Rocaro.
Questionado sobre a expectativa com relação à solução do crime, Claudio Rodrigues diz achar possível a polícia chegar aos pistoleiros e mandantes. “Eu acredito que, se a polícia investigar a fundo, se a polícia for a fundo mesmo, e se for de interesse da polícia descobrir realmente os mandantes desse crime, descobrir realmente o motivo desse crime, eu acho que eles vão descobrir”, conclui.
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