Delegado constata negligência de médica que aplicou Dipirona em paciente alérgica

Veja o vídeo. A paciente chega andando no primeiro atendimento e, no último, nos braços do sogro. A médica será indiciada por homicídio com dolo eventual, ou seja, quando tem consciência de que seu ato pode ter a consequência do crime.

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Veja o vídeo. A paciente chega andando no primeiro atendimento e, no último, nos braços do sogro. A médica será indiciada por homicídio com dolo eventual, ou seja, quando tem consciência de que seu ato pode ter a consequência do crime.

O delegado Roberto Gurgel de Oliveira Filho, responsável pelas investigações da morte de  Letícia Gottardi Corrêa, de 19 anos, no dia 7 de abril deste ano, vai indiciar a médica infectologista Coroline Franciscato, de 32 anos, por homicídio com dolo eventual, ou seja, quando a pessoa mesmo sem querer efetivamente o resultado, assume o risco de produzi-lo. A informação foi divulgada em coletiva na tarde desta segunda-feira (04) na DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil), em Campo Grande.

“Nós ouvimos todos que estiveram com Letícia naquela madrugada e manhã da morte, todos os envolvidos e para mim não há dúvidas de que ela foi negligente ao atender”, disse o delegado.

Anafilaxia

Tecidos do corpo de Letícia foram encaminhados para perícia em Campo Grande. O laudo da morte é de anafilaxia, a reação alérgica mais grave. Letícia Gottardi teve a medicação Dipirona, da qual é alérgica, aplicada por duas vezes na sua veia, além de Dorflex, um medicamento que também contém a substância dipirona sódica.

No prontuário de atendimento, anexado ao processo, há a observação do médico Iber Gomes Sá Neto, que atendeu primeiramente a paciente, de que ela era alérgica à Dipirona. Em depoimento, a médica relatou ter “folheado” o prontuário de Letícia e afirmou que não viu a observação.

Às 2h do dia 7 de abril, a estudante de odontologia retornou ao hospital com o noivo e o sogro com fortes dores abdominais. “Este foi o primeiro atendimento da médica Caroline Franciscato, que pediu à enfermeira para que ela aplicasse Dipirona.

Com o silêncio do hospital nesta hora, é possível ouvir o sogro informando que Letícia tinha alergia ao medicamento. A porta do consultório estava aberta e, mesmo assim, a enfermeira que ouviu a informação aplicou a injeção.

Neste caso, o delegado explica que de acordo com o Artigo 22, a enfermeira é hierarquicamente inferior à médica e, por isso, está isenta de penalidades.

Letícia voltou ao hospital às 4h e às 6h15, quando foi atendida em apenas um minuto pela médica. “Ela mandou repetir a medicação e foi para a sala de repouso”, disse o delegado. Uma hora mais tarde, Letícia volta ao Hospital carregada pelo sogro, expelindo líquidos pelas costas, boca e nariz.

“Esta hora, o médico Iber Sá Neto já está de volta ao plantão, pede um raio-x, detecta que o pulmão da garota está cheio de água e aí já é tarde. Eles tentam reanimar Letícia, mas ela já está morta”, finalizou o delegado.

Comportamento negligente recorrente

Para o delegado Roberto Gurgel, a médica Caroline Franciscato agiu de forma negligente por mais de uma vez. “Nós investigamos e temos vários relatos comprovando que Caroline agia de forma negligente frequentemente”.

“Uma agente comunitária de saúde, que trabalha há 18 anos na rede municipal de Bonito e há sete anos com a médica, informou que enquanto filas eram feitas com pacientes esperando por atendimento, ou ela estava na internet ou conversando pelo hospital”, relatou.

Outros relatos apontam para a grosseria da médica. “Vários pacientes contam que ela não aceitava ser contestada em suas prescrições médicas. Quando o faziam, ela reagia de maneira grosseira. Ou seja, a morte de alguém era algo que estava prestes a acontecer”, disse o delegado.

O caso

Letícia Gottardi Corrêa, de 19 anos, foi passar o feriado da Páscoa com a família em Bonito, quando sentiu fortes dores abdominais e procurou ajuda médica no Hospital João Darci Bigaton.
Após ser atendida três vezes pela médica infectologista Caroline Franciscato, ela morreu na manhã do dia 7 de abril deste ano.

Desde então, a médica pediu afastamento para a Prefeitura de Bonito, mas foi exonerada do município no dia 9 de maio.

 

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