De olho na classe C, estrangeiras intensificam aquisições no País
Impulsionadas pelo aumento de renda da classe C, empresas estrangeiras chegam ao Brasil comprando marcas nacionais tradicionais do setor de alimentos e bebidas como a Ypioca e a Yoki. Segundo analistas, as operações de fusões e aquisições devem se intensificar, já que as estrangeiras buscam os mercados emergentes para frear a derrocada dos tradicionais. A […]
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Impulsionadas pelo aumento de renda da classe C, empresas estrangeiras chegam ao Brasil comprando marcas nacionais tradicionais do setor de alimentos e bebidas como a Ypioca e a Yoki. Segundo analistas, as operações de fusões e aquisições devem se intensificar, já que as estrangeiras buscam os mercados emergentes para frear a derrocada dos tradicionais. A mudança na lei do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) serviu como um “empurrão” para antecipar as operações, completam os especialistas.
Na última segunda-feira, o grupo britânico de bebidas Diageo (fabricante do whisky Johnnie Walker e da vodka Smirnoff) anunciou a compra da marca de cachaça Ypioca por cerca de 300 milhões de libras (R$ 940 milhões). Na semana passada, a General Mills (dona da Haagen-Daz) anunciou a compra da fabricante brasileira de alimentos Yoki por cerca de R$ 1,75 bilhão.
Os dois contratos foram assinados antes da nova lei do Cade, que entrou em vigor na terça-feira. Na legislação antiga, as empresas podiam assinar um contato e só depois de 15 dias úteis deviam enviá-lo ao conselho para apreciação. Agora, antes dos contratos serem assinados o órgão precisa dar uma decisão favorável. Com a nova lei, o Cade tem um prazo de 240 dias (prorrogáveis por mais 90) para decidir a questão. Ou seja, as operações podem ficar “paradas” por até 11 meses. Procuradas, a Diageo afirmou que a compra já estava prevista, enquanto a General Mills não se manifestou sobre a informação.
“Essas empresas devem ter optado por fazer os negócios antes da mudança, mas eles iriam ocorrer de qualquer jeito já que o Brasil é foco dos grandes investimentos”, diz David John Denton, sócio da empresa de assessoria de fusões e aquisições, Okto Finance. O aumento da classe média brasileira é o principal fator positivo que fez com que o setor de consumo fosse impulsionado.
“Em um momento de crise internacional, o Brasil aparece com sua grande classe média e com o pleno emprego. As empresas estrangeiras estão vendo o País com mais solidez”, conta. Trata-se de um público novo, que não consumia e agora terá acesso a uma nova gama de produtos”, diz Fernando Cymrot, consultor de fusões e aquisições da JK Capital.
“O Brasil está extremamente atrativo para o investimento estrangeiro e continua, mesmo com a crise, como um mercado potencialmente ativo. Ele sai fortalecido neste contexto internacional. As empresas anteciparam as transações, mas elas não deixariam de acontecer”, comenta o sócio da consultoria KPMG, Alexandre Pierantoni.
Crescimento
De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) em 2011 foram registradas 179 grandes fusões e aquisições no País, sendo oito no setor de alimentação e bebidas. O número no setor foi 100% maior do que o registrado em 2010.
Estudo da consultoria KPMG, que considera fusões e aquisições de todos os portes (pequenas, médias e grandes empresas) contatou que foram efetuadas 817 transações no ano de 2011, crescimento de 12,5% em relação a 2010, que era o recorde anterior. No período, foram realizadas 44 operações envolvendo o setor de alimentação, bebidas e fumo. Para Cymrot, a alta nessas operações deve ganhar força no futuro.
“Esse movimento deve ser intensificado já que há uma pressão para que as grandes empresas migrem sua base de receita para os países emergentes, que apresentam taxas altas de crescimento em relação aos mercados tradicionais”, diz. A opinião é respaldada pelo gerente de economia e estatística da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). “O setor vem crescendo entre 4% e 6% ao ano e, além disso, tem grande competitividade e lucros em larga escala, por isso essa investida estrangeira deve continuar ao longo dos anos”, conta.
Conforme Denton, para a empresa estrangeira é melhor entrar no País por meio de outra empresa do que iniciar todo o processo burocrático. “O custo inicial para montar uma empresa é muito alto, além de ser muito demorado. A aquisição é uma opção interessante de entrar no mercado”, diz.
Consumidor
Os analistas garantem que não há risco de que o aumento das operações gere problemas para o mercado ou para a concorrência. “O mercado brasileiro é extremamente pulverizado e com certeza essas vendas não vão provocar alterações estruturais. O setor continua com diversificado”, conta o sócio da consultoria KPMG.
Cymrot diz que as marcas vendidas, formadas em geral por empresas familiares, vão ficar mais produtivas com as novas operações. “Essas empresas, como a Ypioca e a Yoki, ganham eficiência operacional com a função com as empresas estrangeiras. Além disso, há um ganho de sinergia (integração) no uso de produtos e canais”, diz.
“Essas empresas trazem recursos financeiros e tecnologia que garantem a expansão e eficiência das empresas brasileiras e fortalecimento das marcas e produtos”, diz Pierantoni. Outra vantagem, segundo o consultor da JK capital, é o maior acesso dos brasileiros às marcas estrangeiras. Além disso, com facilidade na distribuição, mesmo os produtos importados podem vir a ter o preço reduzido. “A facilidade logística deve implicar em uma queda dos preços em longo prazo”, conta.
Entenda
– Com o aumento da renda da classe C e a crise internacional, o País ficou mais atrativo para as empresas estrangeiras do setor de alimentos e bebidas, que estão investindo mais no Brasil.
– Nas últimas semanas, duas empresas tradicionais nacionais, a Yoki e a Ypioca, foram compradas por empresas do exterior – Segundo especialistas, essa tendência deve continuar no futuro.
– Analistas afirmam que não há danos ao consumidor já que trata-se de um setor pulverizado (com muitas empresas) e que passa alheio a crise.
– Com a chegada das empresas estrangeiras, seus produtos principais podem ficar mais baratos pela facilidade de distribuição
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