Brasil é o 5º país mais perigoso para jornalistas, diz ONG

O mais recente relatório divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) mostra que 2012 foi um péssimo ano para a liberdade de imprensa no mundo. Seis funcionários de mídia, 47 blogueiros (também denominados “cidadãos-jornalistas” no documento) e 88 jornalistas foram mortos no exercício de suas atividades. Trata-se dos números mais altos já registrados desde 1995, […]

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O mais recente relatório divulgado pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) mostra que 2012 foi um péssimo ano para a liberdade de imprensa no mundo. Seis funcionários de mídia, 47 blogueiros (também denominados “cidadãos-jornalistas” no documento) e 88 jornalistas foram mortos no exercício de suas atividades. Trata-se dos números mais altos já registrados desde 1995, quando a ONG internacional começou a publicar seu relatório anual.

De acordo com o relatório, o Brasil é o quinto lugar mais perigoso para a imprensa. “Os 88 jornalistas perderam a vida ao noticiar sobre guerras e bombardeios ou foram assassinados por membros do crime organizado, traficantes de drogas, radicais islâmicos militantes, ou por ordens de funcionários corruptos”, detalha a publicação, que aponta a Síria como o local mais perigoso do mundo para a classe.

Apesar de futura sede da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas de 2016, o Brasil está entre as cinco nações mais perigosas. Cinco repórteres foram assassinados aqui em 2012, dois dos quais, ao que tudo indica, por investigarem casos de narcotráfico. Situação parecida vive o México, onde o perigo se mostra presente para quem noticia fatos sobre o crime organizado, em especial o narcotráfico, a corrupção e as conexões entre os líderes criminosos e os funcionários estatais. Seis jornalistas foram assassinados no país em 2012.

Cemitério de jornalistas

“Um ano excepcionalmente mortal”, resume Ulrike Gruska, da RSF. Entre os motivos para o triste recorde, ela enumera a guerra na Síria, o caos na Somália e a ação dos talibãs no Paquistão. As 47 mortes de blogueiros representaram uma cifra especialmente alta em comparação com as cinco mortes registradas em 2011. Grande parte dessas vítimas vinha filmando, fotografando e relatando sobre os acontecimentos na Síria. “Sem essas pessoas, nada saberíamos sobre a Síria, os massacres teriam permanecido sigilosos”, registra a RSF. A ONG dá ao país árabe o triste título de “Cemitério de jornalistas”, onde 17 jornalistas, 44 blogueiros e quatro funcionários da mídia perderam a vida no ano em curso, e outros 21 repórteres foram presos.

“A sangrenta investida do presidente Bashar al-Assad na Síria afetou duramente os profissionais da mídia, por serem testemunhas indesejadas das atrocidades cometidas por um regime encurralado. Mas os jornalistas também foram alvos de grupos da oposição armada, cada vez mais intolerantes com as críticas, e prontos a tachar de espiões aqueles que não reproduzam seus pontos de vista”.

“Ser jornalista na Síria é como dar um passeio num campo cheio de minas”: assim o profissional Mazen Darwish descreveu o cotidiano jornalístico em seu país natal, numa entrevista em 2011. Há muitos tabus, alguns dos quais são conhecidos, como temas políticos, direitos humanos ou a constituição do regime. Mas também há numerosas linhas invisíveis, que não podem ser ultrapassadas, prosseguiu o profissional de 38 anos. “Ninguém sabe dizer quando a próxima mina explodirá”.

Darwish luta há oito anos pela liberdade de imprensa, tendo fundado o Centro Sírio de Liberdade de Imprensa e de Opinião. Ele foi detido em fevereiro último, sem que se saiba onde está confinado. Todo contato com o mundo externo é proibido. Segundo informações disponibilizadas à RSF, o jornalista vem sendo torturado e o seu estado de saúde é preocupante. A ONG homenageia este ano o engajamento de Mazen Darwish. Um segundo prêmio vai para o jornal afegão 8Sobh (“Oito horas da manhã”).

O relatório da RSF também registra um “ano negro” para a Somália, que apresentou o recorde de 18 jornalistas mortos, a maioria em atentados direcionados. Em seguida vem o Paquistão, que teve um saldo de 11 vítimas fatais. Há anos o país é um dos locais de trabalho mais perigosos para os jornalistas, comenta a Repórteres Sem Fronteiras.

Prisões e torturas

Os demais números divulgados pela RSF também são alarmantes: mais de mil jornalistas e blogueiros foram presos, quase 2 mil sofreram ameaças ou agressões. Segundo o relatório, há atualmente 193 jornalistas presos, 70 dos quais na Turquia. Em 42 desses casos, a ONG está segura de que a detenção esteve relacionada à atuação profissional. Na China há 30 jornalistas e 69 blogueiros presos, a maior parte dos quais há diversos anos e sob as piores condições. Com frequência, é desse modo que funcionários regionais corruptos se livram de seus críticos mais severos. Na Eritreia, 28 jornalistas estão presos, parte dos quais em celas solitárias ou subterrâneas.

“Como uma das últimas ditaduras totalitárias e ocupando o último lugar em nosso índice de liberdade de imprensa, a Eritreia trancafia jornalistas e os deixa apodrecer nos presídios. E isso, à mínima suspeita de que possam representar ameaça nacional ou ter opiniões críticas ao governo”, declarou a ONG.

O relatório condena, ainda, Estados como o Irã, Omã, Cuba e Mali. Somente no mundo ocidental houve ligeiras melhoras no tocante à liberdade de imprensa em 2012, conclui a Repórteres Sem Fronteiras em seu relatório anual.

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