Transportadoras terceirizadas pela Fibria, em Três Lagoas, podem baixar as portas

Segundo o presidente do Sindicato Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Três Lagoas e Região, Otávio Vieira de Mello, a política de não reajuste no valor pago às terceirizadas, tem sido o estopim para que grandes empresas de transporte deixem Três Lagoas e, no caso das menores, quebrem economicamente, causando o não pagamento de seus funcionários.

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Segundo o presidente do Sindicato Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Três Lagoas e Região, Otávio Vieira de Mello, a política de não reajuste no valor pago às terceirizadas, tem sido o estopim para que grandes empresas de transporte deixem Três Lagoas e, no caso das menores, quebrem economicamente, causando o não pagamento de seus funcionários.

Além da transportadora Transman, terceirizada pela Fíbria Papel e Celulose, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Três Lagoas e Região, Otávio Vieira de Mello, alerta que novos “sumiços” de prestadoras de serviços deste mesmo gênero, tanto para a Fíbria, quanto a outras empresas na Cidade, pode acontecer a qualquer momento.

A transman baixou as portas, em 10 de setembro, deixando os 72 funcionários sem pagamento e direitos trabalhistas, após o encerramento do contrato com a indústria Fibria.

“Quase todo mês temos uma empresa de transporte quebrando e os trabalhadores vêm nos procurar para reivindicar seus direitos. Hoje tenho conhecimento de que há transportadoras trabalhando no vermelho. Uma delas tem tirado do bolso R$ 300 mil para saldar as despesas do mês”, afirmou Mello.

Segundo o presidente, o maior problema consiste na política empregada pela Fíbria, principal contratante de serviços de transporte para carregamento de toras de eucalipto, em não reajustar monetariamente os contratos no momento da renovação com as prestadoras.

“Como as estradas utilizadas para trazer a produção até a Fábrica são de péssima qualidade, a frota sofre avarias constantes, onerando o serviço prestado além do previsto. Isso deixa o transporte inviável, devido ao valor tratado no contrato. A JSL (Júlio Simões), maior transportadora da América Latina, não suportou os custos para manter os caminhões rodando e o baixo valor recebido pela terceirizadora. Foi embora de Três Lagoas, mas pagou o que devia aos funcionários”, denunciou.

Para o representante da Transman, cuja matriz é em Santa Bárbara D’Oeste, em São Paulo, Ronaldo Stenico, no momento em que fecharam o contrato com a Fibria, não tinham conhecimento do estado da estrada para a região do Rio Verde. Local onde a frota iria buscar as toras de eucalipto.

“Nossa frota quebrava constantemente, não sabíamos o tipo de estrada a qual enfrentaríamos. Devido a esse difícil acesso às fazendas produtoras, quase 60% do valor que recebíamos era gasto em reparos nos caminhões”, argumentou.


Condições de trabalho

Muitos dos funcionários da Transman relataram que chegavam a trabalhar 18 horas seguidas.

“Tinha vezes que saíamos do alojamento às cinco horas da manhã e só retornávamos às 11 da noite. No outro dia era a mesma luta. Em muitos casos, essa demora era provocada por defeitos em nossos caminhões”, relatou o motorista Geraldo Bacelar.

Outros contam que, com a carga horária excessiva, cansados, paravam o caminhão no meio da estrada vicinal e dormiam.

“Houve uma vez que parei o veículo na pista que vai para o Rio Verde e, sem perceber, mesmo mantendo o pé no acelerador, dormi por uma hora e meia. Quando acordei levei o maior susto ao olhar no relógio, que indicava o período que apaguei, literalmente”, contou outro motorista que não quis se identificar.

A maioria acredita que a transportadora exigia essa carga horária devido ao contrato com a Fibria, pois, segundo eles, em uma das cláusulas do contrato há a exigência da quantidade de madeira transportada.

Os caminhões que transportam toras de eucalipto são do tipo “bi-trem”. Quando conduzidos por motoristas cansados e estressados pelo excesso de trabalho, se transformam em um perigo ambulante pelas estradas, ruas e avenidas do Município.


Direitos trabalhistas

Nesta quarta-feira (05), a Transman está representada pelo funcionário que atuava como encarregado de transportes, em Três Lagoas, Ronaldo Stenico, no Sindicato dos trabalhadores da categoria.

Através de um acordo com a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), Larissa Serrat de Oliveira Cremonini, a empresa está liberando a denominada “chave de conectividade” (espécie de documento no qual consta uma numeração para identificação do trabalhador). De posse desta, os ex-funcionários poderão sacar na Caixa Econômica Federal (CEF) o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e darem entrada no Seguro Desemprego.

Alguns dos funcionários trabalhavam na Transman, em Três Lagoas, desde sua abertura na Cidade, há 18 meses. Ronaldo Stenico contou que chegou a comprar casa no Município e que trabalha neste grupo desde 2002.

“Faço parte de uma empresa com 30 anos de atividade como transportadora. Trabalho a nove anos no mesmo grupo e nunca recebi meu salário atrasado. O que ocorreu em Três Lagoas foi uma sequencia de erros e falhas nessa prestação de serviços”, explicou Ronaldo.

Fora o FGTS, que será liberado para todos a partir do dia 11 de outubro, os demais direitos trabalhistas, como salário do mês, aviso prévio, 13°, férias e 1/3, serão pagos através do MPT, ao qual reteve o restante do pagamento que a Fibria faria para a Transman.

“O que estamos fazendo agora é a homologação do termo de rescisão com a ressalva que os demais direitos serão pagos no MPT”, explicou o presidente do Sindicato, e reafirmou: “Espero que isto sirva de exemplo para que haja algum tipo de acordo entre as contratantes e suas terceirizadas de forma que o acontecido aqui não volte a se repetir”, finalizou.

Fibria

Em nota enviada ao Midiamax, através de sua assessoria de imprensa, a Fibria disse que se colocou a disposição para quaisquer esclarecimentos às autoridades trabalhistas. Além de informar que todas as cláusulas contratuais para com a terceirizada haviam sido cumpridas.  

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