Próteses serão melhores que corpo e substituirão quase tudo

Braços robóticos, olhos biônicos, pulmões artificiais. Os avanços da medicina na área de próteses e órteses parecem cada vez mais com o mundo previsto pelos livros e filmes de ficção científica. Com a evolução da tecnologia e da biomedicina, o futuro promete surpreender ainda mais com equipamentos que ultrapassam os limites do corpo e que […]

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Braços robóticos, olhos biônicos, pulmões artificiais. Os
avanços da medicina na área de próteses e órteses parecem cada vez mais com o
mundo previsto pelos livros e filmes de ficção científica. Com a evolução da
tecnologia e da biomedicina, o futuro promete surpreender ainda mais com
equipamentos que ultrapassam os limites do corpo e que podem substituir quase
tudo e até levar a um problema: algumas pessoas podem querer trocar partes de
corpos por próteses.

A opinião é do professor da faculdade de medicina da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e ortopedista do Hospital Mãe
de Deus, de Porto Alegre, Luiz Roberto Marczyk. Segundo o médico, a área evolui
por dois caminhos diferentes: o da tecnologia e o da biomedicina.

Marczyk dá o exemplo dos membros superiores. As próteses de
pernas mais avançadas já conseguem devolver boa parte dos movimentos dos
pacientes – ele lembra o caso do corredor paratleta sul-africano Oscar
Pistorius, que usa prótese nas duas pernas e chegou a participar das
eliminatórias para a Olimpíada-2008. O caso causou polêmica porque a Federação
Internacional de Atletismo (Iaaf) afirmou que as pernas artificiais davam vantagem
para Pistorius. “As próteses estão tão boas que os atletas de
paraolimpíada estão correndo mais rápido que os outros”, diz o médico.
Pistorius disputou a Paraolimpíada de Pequim no mesmo ano e venceu em três
categorias.

Já nas mãos, o problema é maior por causa do movimento dos
dedos. “Hoje, tu tens próteses maravilhosas, bonitas, que imitam a mão.
Mas não tem movimento. E não servem para nada”, explica. O médico diz que
as próteses mecânicas tentam suprir essa necessidade, mas têm um grande desafio,
que é o tato, a sensibilidade da mão. “Se não (tiver sensibilidade), o
paciente vai segurar um copo, vai segurar exageradamente, com muita força, e
vai explodir o copo”. “Hoje é melhor fazer um transplante de mão,
apesar de não funcionar maravilhosamente bem.”

O futuro é das células-tronco?

O médico afirma que as pesquisas com células-tronco abrem
uma nova possibilidade para essa área da medicina que já está em curso: a
criação de próteses biológicas, vivas. “Uma prótese de quadril, hoje, é de
metal ou plástico. No futuro, ela vai ser de um material bioabsorvível e tu
vais cultivar nela células-tronco. Com o passar do tempo, o organismo vai
absorvendo a prótese e substituindo ela por tecido vivo”, afirma. Essas
pesquisas permitem que tenhamos próteses de quase tudo, diz o médico.

Contudo, ao contrário da linha puramente tecnológica, a que
se baseia nas células-tronco está apenas começando, ainda é muito rudimentar.
“Estamos aprendendo o caminho.” Marczyk diz que a linha biológica
parece melhor que a da tecnologia, já que vai fazer com que os pacientes se
sintam melhor com a prótese.

Ou é da tecnologia?

Para o médico André Pedrinelli, chefe do grupo de órteses e
próteses do Hospital das Clínicas da USP, o caminho que a evolução vai seguir é
o da tecnologia. Para Pedrinelli, ainda não se sabe o que vai resultar das
pesquisas de células-tronco e a criação de próteses vivas ainda se mostra muito
difícil. Um dos maiores problemas é que as pesquisas conseguem formar apenas um
tipo de tecido por vez.

“Um membro amputado não é só um tecido. Tem osso, pele,
tendão, nervo, vaso (sanguíneo). Tem toda uma engenharia”, diz o
pesquisador.

O médico diz que o que se espera do futuro é o
desenvolvimento da sensibilidade das próteses e do controle cerebral – já que
as próteses atuais se movimentam por pressão dos músculos.

Muitos carros por uma prótese de última geração

Segundo Pedrinelli, muitas dessas próteses que parecem
futurísticas já estão à disposição dos pacientes. Membros superiores com
capacidade de movimentação dos dedos e até sensores de pressão, que garantem a
capacidade de segurar um copo ou uma caneta sem quebrar o objeto, nem deixá-lo
cair no chão.

“Qual é a queixa do paciente? Se ele vai segurar um
copo de vidro, se ele não tá olhando ele não dosa a força e derruba o copo.
Essas mãos mais novas, elas têm sensores de pressão. (…) Quando ela ‘sente’
que tem uma resistência, ela para na resistência”, diz.

Mas um dos problemas da área é o preço, e não só no Brasil.
“(Nas melhores próteses) se gasta alguns carros. (…) Têm alguns joelhos
protéticos que só o joelho custa R$ 60 mil hoje”, diz o médico. Apesar
dessa evolução, mesmo as melhores próteses de membro superior abaixo do
cotovelo só conseguem recuperar 20% da função do membro, o que indica que há
uma grande evolução a ser feita. No caso de perna, abaixo do joelho, a
recuperação chega a 70% da função do membro.

Melhores que o corpo humano

Segundo os dois especialistas, as próteses, pelo menos de
perna, já se mostram melhores que o membro natural em certos aspectos – se por
um lado é melhor para correr, por outro, a falta de sensibilidade complica
algumas ações, como dirigir um carro.

Mas não deve parar por aí. Braços mais fortes, olhos mais
potentes e muito mais. Para Pedrinelli, até a legislação esportiva terá que mudar.
Um atleta com prótese teria uma grande vantagem em relação ao adversário.

Questionado se, no futuro, as pessoas podem querer trocar
partes do corpo por próteses, o médico do Rio Grande do Sul responde:
“isso fica bem para livro de fantasia, mas é para pensar”.

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