Pesquisadora diz que movimentos sociais urbanos querem mais do que moradia

Os movimentos sociais que lutam por moradia no centro paulistano mudaram o foco de atuação. Eles não querem mais apenas imóveis para viver, mas também acesso à infraestrutura da cidade, diz a arquiteta Diana Helene Ramos, em tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP). “A luta por moradia está aliada a uma […]

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar

Os movimentos sociais que lutam por moradia no centro paulistano mudaram o foco de atuação. Eles não querem mais apenas imóveis para viver, mas também acesso à infraestrutura da cidade, diz a arquiteta Diana Helene Ramos, em tese de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP).

“A luta por moradia está aliada a uma luta pelo direito a cidade”, disse Diana em entrevista à Agência Brasil. A nova ambição da famílias que não têm onde morar se reflete nas frequentes ocupações de imóveis vazios na região central de São Paulo, reforça a arquiteta. Para as pessoas, ficar no centro é muito melhor, não só se encontrarem prédios vazios, mas por ser uma área estruturada.

O representante do Movimento de Moradia Região Centro (MMRC), Nelson Cruz da Souza, confirma a tese da pesquisadora: “no centro, o trabalhador se locomove mais fácil para o emprego.”

A falta de infraestrutura nas áreas mais distantes da cidade é um dos motivos pelos quais Souza participa há quatro anos da ocupação de um edifício na Rua Mauá. “Eles [Poder Público] não procuram equipar a periferia”, reclama.

A expectativa dos que lutam por moradia é que a ocupação dos prédios provoque a desapropriação dos imóveis. Segundo Souza, movimentos como o MMRC, que agrega 3 mil pessoas, são formados por famílias de renda muito baixa. “Tem gente que ganha menos de um salário mínimo”, informa.

São catadores de papel, camelôs e outros profissionais que dependem da grande aglomeração das regiões centrais para trabalhar, completa Diana. A pesquisadora lembra que é preciso diferenciá-los dos moradores de rua, indivíduos que muitas vezes têm problemas psicológicos ou mentais ou simplesmente não querem deixar a vida nômade que levam.

Os sem-teto são pessoas que não conseguem se enquadrar no programas de financiamento habitacional convencionais, ressalta Souza. “Moradia para baixa renda não tem que ser através de banco. Se for através de banco, você estará excluindo o trabalhador.”

Para Diana, existe grande resistência do Poder Público em desapropriar os imóveis vazios para amenizar o déficit habitacional. Ela diz que essa atuação em favor da propriedade privada é nítida em ações de reintegração de posse feitas pela polícia. “A violência que a gente observa deixa claro que é para amedrontar as pessoas, para que elas nunca mais ocupem um prédio”, ressaltou a pesquisadora, que já esteve presente em ocupações desmanteladas nesse tipo de ação.

Apesar de terem de enfrentar o uso da força, Diana considera os movimentos que lutam por moradia cada vez mais organizados. Para ela, isso deve tornar mais acirrada a disputa.

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados