Físicos brasileiros são céticos quanto à partícula que viaja mais rápido que a velocidade da luz
A partir de março de 2013 um grupo de físicos brasileiros acompanhará em Chicago (EUA) um experimento científico chamado Minos (Main Injector Neutrino Oscillation Search). A finalidade é checar os resultados de uma outra pesquisa, feita durante cerca de três anos na Itália (pelo Opera – Oscillation Project with Emulsion-tracking Apparatus), que verificou que as […]
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A partir de março de 2013 um grupo de físicos brasileiros acompanhará em Chicago (EUA) um experimento científico chamado Minos (Main Injector Neutrino Oscillation Search). A finalidade é checar os resultados de uma outra pesquisa, feita durante cerca de três anos na Itália (pelo Opera – Oscillation Project with Emulsion-tracking Apparatus), que verificou que as partículas de neutrinos (tem carga neutra e massa pequena) viajaram 7 quilômetros por segundo (km/s) mais rápido que a velocidade da luz (cerca de 300 mil km/s), o que contraria parte da Teoria da Relatividade.
Segundo a teoria proposta por Albert Einstein, em 1905, em todo o universo apenas as partículas carentes de massa (como a luz) podem viajar a tal velocidade. Acelerar qualquer objeto a esse limite exigiria uma energia jamais disponível. “Se a descoberta [do Opera] for verdadeira, sobre o que a maioria dos físicos é cética, significará uma revolução dos conceitos mais básicos da física”, disse o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Física, Ronald Shellard, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio.
A expectativa dos físicos brasileiros é que o Minos, que utilizará equipamentos de maior precisão do que o Opera (como relógios atômicos, por exemplo), aponte algum “erro sistemático” que tenha levado a um resultado distorcido. “O erro total não é apenas estatístico, tem o erro sistemático que envolve os problemas de medida do próprio detector e da linha do feixe que produz a luz de neutrinos e todos os equipamentos usados para fazer alguma medida útil dos resultados”, explica o pesquisador Ricardo Avelino Gomes, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), um dos brasileiros que trabalham no Minos.
Gomes salienta que os próprios cientistas (160 pessoas) que participaram do Opera “estão solicitando para a comunidade verificar se encontra algum erro no experimento todo”. Além do Minos, o experimento pode ser refeito no Japão, onde também há um acelerador de partículas que pode disparar um feixe de neutrinos.
A partícula de neutrino se assemelha ao elétron, mas não tem carga elétrica e possui pouca massa. O neutrino está presente no universo e atravessa toda a Terra. A partícula pode ser observada no colapso de estrelas, em explosão de supernovas, na fusão nuclear no interior do Sol, que emite o calor. Uma grande quantidade de neutrino é verificada ainda em reatores de usinas nucleares.
A pesquisa com neutrinos é útil para a astronomia, astrofísica e geofísica. “Serve, por exemplo, para estudar o perfil da composição química da Terra, a quantidade de material radioativo e o calor residual no planeta”, explica Vicente Pleitz, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). A divulgação da pesquisa do Opera já causou a publicação de 30 artigos científicos internacionais, conta Orlando Luis Goulart Peres, do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Os dois pesquisadores não acreditam que novos experimentos confirmem que os neutrinos possam viajar a velocidade maior que a da luz. “Se o experimento for confirmado, vai ficar pouco difícil ter uma teoria boa de primeiros princípios, matematicamente consistente”, aponta Pleitez. “Se a Teoria da Relatividade não fosse correta o GPS [Global Positioning System] estaria marcando lugares sem precisão”, acrescenta Peres.
Para os físicos brasileiros, um dos indícios de que os neutrinos não são mais rápidos que a luz é uma observação feita na Argentina em 1987 de uma supernova (corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas) na Nuvem de Magalhães, galaxia mais próxima da Via Láctea. Os neutrinos “chegaram meses depois de quando se esperava”, lembra Ronald Shellard.
O físico tem esperança de que até o final da década, o Brasil, a Argentina e o Chile façam um experimento conjunto semelhante ao do Opera, em uma caverna que poderá ser aberta ao lado do Túnel Água Negra, na estrada que liga San Juan (na Argentina) à La Serena (Chile).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está financiando a elaboração do projeto de engenharia do túnel. A distância do local para o acelerador de partículas do Cern (na Suíça) é 13 vezes maior (10 mil km) do que o experimento do Opera.
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