Em terceiro, Brasil passa Argentina no Pan, mas não anima para Londres-2012

Em relação aos jogos do Rio, o país teve 16 medalhas a menos, porém se consolida como uma potência esportiva continental.

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Em relação aos jogos do Rio, o país teve 16 medalhas a menos, porém se consolida como uma potência esportiva continental.

O Brasil encerrou os Jogos Pan-americanos de Guadalajara neste domingo na terceira colocação do quadro de medalhas, com 48 ouros, 35 pratas e 58 bronzes, e se firmou como potência esportiva continental. O desempenho brasileiro em terras mexicanas foi parecido ao do Rio de Janeiro-2007, em que ameaçou Cuba na vice- liderança da competição, e ainda fez o País ultrapassar a Argentina no quadro de medalhas da história do Pan, mas não serve como indicativo para as Olimpíadas de Londres-2012.

Em relação à edição carioca dos Jogos Pan-americanos, o Brasil teve uma pequena queda de desempenho e conquistou 16 medalhas a menos (no Rio foram 52 ouros, 40 pratas e 65 bronzes). Geralmente o país que sedia a competição se destaca, mas tem participação bem mais discreta quatro anos depois, em terras estrangeiras. O México, que no Rio ficou em quinto com apenas 18 ouros, este ano foi o quarto, com 42.

A pequena oscilação de rendimento em Guadalajara foi fundamental para o Brasil assumir a quarta colocação do quadro de medalhas da história do Pan. Com 27 ouros a mais do que a Argentina, o País passa o rival pela primeira vez em 60 anos de competição continental e soma 287 subidas ao pódio na primeira posição. O terceiro posto do Canadá ainda está longe, com a nação da América do Norte com 85 ouros a mais. Cuba, uma ilha com 11 milhões de habitantes é a segunda colocada na lista, com 839 títulos.

“Este resultado em Guadalajara é importantíssimo por vários aspectos e demonstra a evolução permanente e consolidada do esporte olímpico brasileiro. Já estamos colhendo os frutos da transformação iniciada com os Jogos Rio-2007, que seguem o nosso planejamento conjunto com as Confederações Brasileiras Dirigentes de Esportes Olímpicos rumo aos Jogos Rio-2016”, afirmou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman.

Mais uma vez, a natação foi a modalidade que mais contribuiu para o rendimento do Brasil. No total, foram 24 medalhas, dez de ouro, oito de prata e seis de bronze, com destaque para as performances de Cesar Cielo e Thiago Pereira, agora o maior campeão pan-americano do País, com 12 títulos.

O recorde do nadador do Corinthians veio apenas no último dia de competições da natação, em que ele conquistou seu 11º ouro, com a vitória nos 200m costas e superou o mesa-tenista Hugo Hoyama, agora segundo colocado com dez títulos. Da sala de entrevistas, Thiago viu a equipe do Brasil vencer o revezamento 4x100m medley, prova em que ele nadou a eliminatória, e acrescentar mais uma conquista à sua lista.

O atletismo, apesar da decepção da prata da campeã mundial Fabiana Murer, contribuiu com dez ouros, seis pratas e sete bronzes, contando com os primeiros lugares nos 100m (Rosângela Santos) e 200m rasos (Ana Cláudia Lemos da Silva) feminino, a maratona e o revezamento 4x100m nos dois gêneros e o tricampeonato da campeã olímpica Maurren Maggi no salto em distância.

O judô foi outra modalidade que deixou Guadalajara com um novo recorde. Com o bom desempenho da equipe masculina, o rendimento foi o melhor da história do Pan, com seis medalhas de ouro e uma de prata. Antes, Indianápolis-1987 e Santo Domingo-2003 eram as edições com melhor desempenho do País, com cinco ouros. O judô feminino, em compensação, decepcionou. Foram seis medalhas, sem nenhum ouro: duas pratas e quatro bronzes.

Surpresas e decepções
Os Jogos Pan-americanos de Guadalajara alegraram e decepcionaram os torcedores brasileiros. Azarões conquistaram medalhas importantes para o País e favoritos caíram, principalmente em esportes coletivos, como basquete e futebol.

Entre as gratas surpresas para o esporte nacional está a velocista Rosângela Santos, de 20 anos de idade. Ela já pensou em largar o atletismo e não viajaria a Guadalajara para poder tirar férias, mas foi convencida por seu técnico e conquistou no Estádio Telmex de Atletismo a medalha de ouro dos 100m rasos, prova mais nobre do atletismo.

No masculino, o inédito ouro de Fernando Reis no levantamento de peso também pegou de surpresa a torcida nacional. Aos 21 anos de idade, ele conquistou a categoria acima de 105kg, ao levantar 185kg no arranque e 225kg no arremesso, somando 410kg e quebrando os três recordes pan-americanos. A última medalha do País na modalidade tinha sido um bronze, conquistado por Edmílson da Silva Dantas em Mar Del Plata-1995.

O ouro da equipe masculina de ginástica artística também foi inédito, mas ainda mais histórico. Ao contrário do time feminino, que em meio a divergências entre as atletas ficou apenas na quinta posição, o masculino formado por Diego Hypolito, Arthur Zanetti, Sergio Sasaki, Francisco Barreto, Péricles Silva e Petrix Barbosa mostrou união e venceu a competição, conquistando a milésima medalha do Brasil na história do Pan. Canadá, Cuba e Estados Unidos são os outros países que já atingiram a marca.

O taekwondo, que no Rio de Janeiro-2007 surpreendeu, em Guadalajara decepcionou. Medalhista nas Olimpíadas de Pequim-2008, Natalia Falavigna não passou da luta de estreia no México. Retornando de lesão, ela sentiu falta de ritmo de competição, foi derrotada logo em sua primeira luta no Pan e não chegou nem perto de defender a medalha de prata que conquistou quatro anos antes.

No masculino, Diogo Silva chegou credenciado como um dos favoritos, mas caiu nas quartas de final e voltou para o Brasil sem medalhas. Derrotado em sua segunda partida no México, o atleta fez críticas ao calendário e ainda reclamou de não poder continuar em Guadalajara para acompanhar as disputas dos outros esportes.

No atletismo, a campeã mundial do salto com vara Fabiana Murrer deixou o ouro escapar para a cubana Yarisley Silva, que conseguiu o melhor salto de sua carreira para conquistar o título no Pan. A brasileira, que meses antes saltou 4,85m, não conseguiu superar o sarrafo a 4,70m e ficou apenas com a prata.

O desempenho do Brasil em alguns esportes coletivos foi abaixo do que o esperado. Representada pelos jogadores que conquistaram o Mundial sub-20, a Seleção de futebol foi eliminada ainda na primeira fase do torneio, sem nenhuma vitória. Sob o comando de Ney Franco, foram dois empates e uma derrota.

A equipe feminina avançou até a final, mas falhou em conquistar no México o tricampeonato. A Seleção abriu o placar contra o Canadá na decisão e perdeu chances de ampliar a vantagem, mas levou o empate e perdeu nos pênaltis a medalha de ouro.

No basquete, as equipes masculina e feminina eram consideradas favoritas, mas caíram no meio do caminho. A queda dos homens, comandados por Rubén Magnano, na realidade foi no início da trajetória no Pan. Com uma vitória e duas derrotas na primeira fase, a Seleção, sem as estrelas que conquistaram a vaga nas Olimpíadas de Londres, logo foi eliminada da briga por medalhas e teve que se contentar com a quinta posição.

O time feminino tinha Érika e Iziane, titulares do Atlanta Dream, vice-campeão da WNBA, mas não conseguiu superar Porto Rico na semifinal e ficou com a medalha de bronze.

Londres-2012
Os resultados em Guadalajara ajudaram o Brasil a garantir mais vagas nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. De acordo com as informações do Comitê Olímpico Brasileiro, a pentatleta Yane Marques, o triatleta Reinaldo Colucci, os canoístas Erlon Souza e Ronilson Oliveira, a Seleção feminina de handebol, que viaja com 14 jogadoras, e a equipe nacional do CCE no hipismo, com cinco atletas, asseguraram no México a presença nas próximas Olimpíadas.

Cesar Castro, dos saltos ornamentais, ficou na terceira colocação na prova do trampolim de 3m e deve ter sua classificação para Londres confirmada. Apenas o campeão do Pan ganharia vaga nas Olimpíadas, mas dois mexicanos terminaram a competição à frente do brasileiro e o país já está assegurado no evento. Por isso o COB dá como certa a participação do brasiliense.

“A vaga é do país e, como o México, –  ouro e prata no trampolim 3m – já estava classificado para Londres, entendemos que o bronze do Cesar Castro vale a vaga para os Jogos Olímpicos”, explicou o superintendente executivo de esportes do COB, Marcus Vinícius Freire. Ao todo, são 104 brasileiros classificados para o maior evento do esporte mundial.

Mas o desempenho no Pan não serve de parâmetro para os Jogos Olímpicos do próximo ano. Na natação e no atletismo, modalidades que mais deram medalhas ao Brasil em Guadalajara, Estados Unidos e Jamaica não mandam suas principais estrelas para a competição.
Nas Olimpíadas de Pequim, um ano após o País conquistar 52 ouros no Pan do Rio de Janeiro, foram três títulos, com Maurren Maggi e Cielo, campeões diante da torcida carioca, e a Seleção feminina de vôlei, que perdeu a final da competição continental para Cuba.

Thiago Pereira, que no Rio de Janeiro conquistou oito medalhas (seis ouros, uma prata e um bronze) teve desempenho discreto no ano seguinte em Pequim. Enfrentando rivais fortes, teve seu melhor resultado nos 200m medley, prova em que ficou com a quarta colocação, atrás dos norte-americanos Michael Phelps e Ryan Lochte e o húngaro Laszlo Cseh.

Nas piscinas, a principal esperança continua sendo Cesar Cielo, que deixou Guadalajara com mais quatro ouros (50m e 100m livre e nos revezamentos 4x100m livre e medley). Felipe França, campeão dos 100m peito, precisará provar que pode competir com os principais nomes da prova em Londres.

Nas pistas de atletismo, Fabiana Murer ainda é a atleta com mais chance de conquistar uma medalha olímpica, mas tem rivais que podem complicar suas pretensões. No revezamento 4x100m masculino, a equipe brasileira promete brigar por medalha.

O vôlei é outra modalidade que pode render boas posições ao Brasil em Londres. O País deixou Guadalajara com a supremacia continental da modalidade, com os ouros de Alison/Emanuel e Juliana/Larissa na praia e das equipes masculina e feminina na quadra, e deve figurar entre os primeiros colocados também na capital inglesa.

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