Com programa popular de funk no ar, Rádio Nacional quer vencer estereótipos

Há mais de dois meses no ar, o “batidão” do funk carioca conquista ouvintes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e ganha  reconhecimento do público. Ao contrário da maioria dos programas da emissora, tem na internet o público-alvo e ganha adeptos de outros estados. Para  especialistas, o Funk Nacional inova ao divulgar a cultura […]

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Há mais de dois meses no ar, o “batidão” do funk carioca conquista ouvintes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro e ganha  reconhecimento do público. Ao contrário da maioria dos programas da emissora, tem na internet o público-alvo e ganha adeptos de outros estados. Para  especialistas, o Funk Nacional inova ao divulgar a cultura e discutir esterótipos.
 
A linguagem jovem e a seleção musical – “que não agride ninguém, é só melodia” – agradou à produtora do site Funk de Raiz, Cláudia Duarcha. “Gosto do programa por causa das músicas e dos debates”, disse. Ela não conhecia a Rádio Nacional antes de saber da atração, mas passou a divulgar o dial da emissora e os shows ao vivo, sempre às quartas-feiras.
 
Transmitido ao vivo pela internet, o Funk Nacional também cativou ouvintes de outros estados. Da Bahia, o professor Nelson Maca se disse impressionado com a coragem da emissora de divulgar o ritmo. “Tem gente que acha o funk coisa de bandido. Eu não. Como estou sempre em casa durante as tardes, ouço. É interessante, inclusive pela referência histórica da [Rádio] Nacional”, opinou.
 
O programa estreou em julho e é apresentado diariamente das 15h às 16h pela internet e pela rádio. Toca músicas de sucesso, apresenta novos compositores e fala sobre a realidade dos jovens funkeiros nas favelas cariocas. Também são temas de debate, sempre às segundas-feiras, o mercado fonográfico e as condições de trabalho dos músicos, que reclamam das atuais gravadoras.
 
“Há um monopólio das gravadoras que se reflete em escravidão: são contratos vitalícios, contratos retidos, padronizados e uma série de contrapartidas que deixam o músico refém, sem ter seus direitos”, disse o MC Leonardo, presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) e idealizador do programa, ao lado do músico e ex-integrante do Rappa Marcelo Yuka.
 
Apostando na cultura funk, presente em boa parte da periferia da cidade do Rio e com repercussão em outras partes do país, o programa entrou na grade com a condição de deixar de fora músicas que fazem apologia ao tráfico de drogas ou que têm letras pornográficas, os chamados “proibidões”, segundo a Gerência Regional das Rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) no Rio.
 
Durante mais de dois meses no ar, o programa, no entanto, já enfrentou  preconceitos, que foram contornados pela EBC. Segundo o gerente regional, Cristiano Menezes, a maioria era de ouvintes antigos acostumados com a programação. “Às vezes, as pessoas têm dificuldade de aceitar o novo”.
 
Segundo o MC Leonardo, com o passar do tempo, o Funk Nacional recebeu ligações de ouvintes se desculpando “pela ignorância das reclamações” e se declarando fãs. “Nosso trabalho é brigar pelo reconhecimento do funk como um negócio justo para os artistas”.
 
A estudiosa da cultura funk, a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Adriana Facina, avaliou que o diferencial é fugir da “mesmice” patrocinada pelas gravadoras nas emissoras de rádio e televisão comerciais. “Aqui não há limitação estética”. Para ela, é um diferencial a atração apresentar artistas independentes e vinculados a movimentos da sociedade.
 
“São pessoas com uma cultura política, com uma dimensão da riqueza da cultura funk e não gente com uma perspectiva mercadológica ou individualista da própria arte”, afirmou Facina. (Edição: Graça Adjuto)

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