Termina drama de mineiros no Chile

Terminou na noite desta quarta-feira, 13, o drama dos 32 mineiros chilenos e um boliviano que ficaram soterrados por 69 dias a 700 metros de profundidade em uma mina de ouro e cobre no norte do Chile. A mina de San José, no deserto do Atacama, sofreu um desabamento em 5 de agosto e soterrou […]

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Terminou na noite desta quarta-feira, 13, o drama dos 32 mineiros chilenos e um boliviano que ficaram soterrados por 69 dias a 700 metros de profundidade em uma mina de ouro e cobre no norte do Chile. A mina de San José, no deserto do Atacama, sofreu um desabamento em 5 de agosto e soterrou os operários.

O resgate que emocionou o mundo foi acompanhado em tempo real por milhares de familiares, mais de mil jornalistas e foi transmitido ao vivo para vários países.

A operação começou às 23h55 de terça, com a subida do mineiro Florencio Ávalos à superfície na cápsula Phoenix 2, decorada com as cores pátrias chilenas, e terminou às 21h56 de hoje, com a retirada de Luís Urzua, que liderou o grupo durante o tempo em que estiveram presos.

Um a um, os mineiros foram saindo do abrigo. Cada resgate durava cerca de meia hora. Logo após deixarem a galeria que foi seu refúgio por dois meses, eles foram levados ao hospital de Copiapó. Mesmo após uma subida considerada arriscada pelos médicos, a maioria agradeceu as equipes de resgate, abraçou a família e alguns até deram declarações à imprensa. Segundo os médicos, a condição de saúde deles é boa.

Rochas de presente

Com um senso de humor que sobreviveu a dois meses de confinamento, Mário Sepulveda, o segundo a deixar a mina, abriu um bolso ao sair e entregou pedaços de rocha do fundo da mina ao presidente chileno e outros funcionários da equipe de resgate.

“Estive com Deus e com o diabo, me disputaram, mas Deus me ganhou. Ele agarrou a minha melhor mão”, disse Sepúlveda horas depois, rodeado de familiares, em declarações transmitidas pela televisão estatal chilena.

Embaixadinhas

“Foi a partida mais dura da minha vida”, disse Franklin Lobos, o 27º a ser resgatado, um ex-jogador profissional que chegou a disputar a Copa Libertadores e demonstrou suas habilidades dos velhos tempos fazendo embaixadinhas logo após sair da cápsula.

Infidelidade

O mineiro Yonni Héctor Barrios Rojas, o chamado de “doutor” na caverna, por ser responsável pelo acompanhamento da saúde dos colegas, passou por uma saia justa momentos após o resgate.

Durante a vigília de familiares no acampamento vizinho à mina, sua mulher Marta Salinas, com quem era casado há 28 anos, descobriu a existência da amante, Susana Valenzuela. Barrios pediu que as duas o recebessem, mas a esposa se negou.

“Ele me pediu, mas acontece que ele também pediu a mesma coisa à outra senhora, e eu sou uma mulher decente”, afirmou. ” A coisa é clara: ou ela, ou eu”, afirmou ao jornal El Mercúrio. Ao sair da mina, Barrios, visivelmente constrangido, abraçou Susana.

Confinamento

O confinamento durou 69 dias. Nos primeiros 17, não houve comunicação nenhuma com o exterior e eles sobreviveram com uma rigorosa dieta de duas colheres de atum enlatado, um gole de leite e meio biscoito a cada 48 horas.

Os milhares de toneladas de rocha que tapavam o túnel de acesso às galerias obrigaram as autoridades a descartar a possibilidade de escavar até o refúgio em onde os operários, todos eles mineiros experientes, tinham se abrigado após o acidente.

A utilização de sondas, uma via mais lenta, mas mais segura, foi a maneira escolhida para resgatá-los pela equipe de especialistas após pedras terem caído quando socorristas tentavam descer até a galeria, apenas dois dias depois do acidente.

Os familiares, desesperados, chegaram a pedir às autoridades que deixassem que mineiros voluntários abrissem passagem, fazendo uso de explosões controladas. Os especialistas se opuseram, porque a instabilidade na jazida poderia desencadear um colapso geral da mina.

Esperança

Em 22 de agosto, quando a perfuração conseguiu alcançar o local onde os trabalhadores estavam soterrados, o mineiro José Ojeda, o sétimo a ser resgatado, enviou pela sonda o bilhete com a mensagem que ficou internacionalmente conhecida após ser exibida pelo presidente Sebastián Piñera: “Estamos bem no refúgio, os 33.”

Desde então, equipes médicas e de engenheiros foram enviadas para o deserto do Atacama, e três perfuradoras – os planos “A”, “B” e “C” foram colocadas em marcha para acelerar o resgate, inicialmente previsto para novembro.

O local, antes pouco conhecido, se transformou em centro das atenções mundiais, com visitas frequentes de personalidades e autoridades. O presidente chileno, Sebastián Piñera, ia semanalmente à mina verificar as operações.

A máquina T-130, que executava o ‘plano B’, adiantou as expectativas do governo chileno. Ela alcançou a galeria da mina San José em 9 de outubro.

O revestimento do túnel cavado pela perfuradora foi concluído em 11 de outubro, dando margem para que o resgate fosse iniciado na noite do dia seguinte.

Custos

Segundo o jornal chileno La Tercera, o custo da operação de resgate foi de aproximadamente US$ 22 milhões, sem contar a manutenção do acampamento Esperanza, que chegou a congregar a cerca de 3 mil pessoas, entre jornalistas e parentes dos trabalhadores.

A maior parte do valor, R$ US$ 15 milhões, foi desembolsada pela estatal Corporação do Cobre (Codelco), a maior produtora de cobre do mundo, já que a mineradora San Esteban, dona da mina San José, está imersa em dívidas e já despediu seus cerca de 275 funcionários.

Elogios

O operativo de socorro foi mundialmente elogiado. “Esse resgate é uma homenagem não só a determinação dos trabalhadores do resgate e ao governo chileno, mas também à unidade e à determinação dos chilenos, que inspiraram o mundo”, declarou o presidente Barack Obama.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, parabenizou Piñera por telefone pelo “extraordinário trabalho”. Em uma conversa de cerca de dez minutos, Lula, segundo a Secretaria de Imprensa da Presidência da República, disse que “todo o mundo está orgulhoso do que o Chile está realizando”.

Piñera também recebeu telefonemas de seus colegas da Argentina, Cristina Kirchner, do Peru, Alan Garcia, do México, Felipe Calderón, e também do venezuelano Hugo Chávez.

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