Sociedade quer maior participação na regulamentação da publicidade
A decisão de tirar do ar um anúncio de cerveja que traria apelo à sensualidade e apresentaria conteúdo sexista não é suficiente para impedir que novas campanhas utilizem recursos semelhantes para favorecer a venda de bebidas alcoólicas. Na opinião de especialistas, o tema é recorrente e enfrentá-lo exigirá apoio do governo. O diálogo de consumidores […]
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A decisão de tirar do ar um anúncio de cerveja que traria apelo à sensualidade e apresentaria conteúdo sexista não é suficiente para impedir que novas campanhas utilizem recursos semelhantes para favorecer a venda de bebidas alcoólicas. Na opinião de especialistas, o tema é recorrente e enfrentá-lo exigirá apoio do governo.
O diálogo de consumidores e de órgãos de governo com o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar), órgão privado, favoreceu a suspensão do anúncio. O argumento era de que a campanha desrespeitava o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, que em uma das cláusulas determina que modelos não podem ser tratadas como objeto sexual e impede que o apelo à sensualidade seja o principal conteúdo da peça.
O Conar, órgão formado por anunciantes e agências de publicidade, abriu dois processos para avaliar as denúncias, mas decidiu liminarmente tirar do ar a campanha na internet e a propaganda na TV de determinada marca de cerveja. Até o fim do mês, deve ouvir a empresa dona da marca para tomar uma decisão sobre o caso.
A diretora do Instituto Patrícia Galvão – Comunicação e Mídia, Jacira Melo, vê avanço na suspensão do comercial e lembra que a inclusão da cláusula sobre conteúdo sexista ou desrespeitoso à mulher é conquista recente. “Nos últimos dois anos, é notável a diminuição de propagandas agressivas, que oferecem mulher e cerveja como uma coisa única”, afirmou. “Isso acontece por pressão social. Quer dizer que [a publicidade] não é uma espaço impermeável”.
A utilização recorrente de mulheres de forma “estereotipada, preconceituosa e objetificada”, no entanto, mostra que as decisões do conselho não são suficientes para influenciar as agência de publicidade e os anunciantes, avalia a conselheira da organização não governamental Intervozes, de defesa do direito à comunicação, Bia Barbosa.
“O histórico de propagandas que usam a imagem da mulher dessa forma prova que não basta o órgão de autorregulamentação. A autorregulação é bem-vinda, mas temos visto que o setor não se mostra muito aberto à sociedade”, afirmou. Para Barbosa, não somente a propaganda de cervejas deveria ser alvo de regulamentação, mas também a propaganda para crianças, de remédios e de comidas gordurosas, por exemplo.
“Temos uma visão um pouco conservadora de que qualquer tentativa de regulamentação é censura, quando, na verdade, sabemos que a publicidade influencia na formação de valores, princípios e cultura brasileira”, explicou.
A regulamentação da publicidade de bebidas alcoólicas, inclusive com o objetivo de impedir a exposição de jovens a propagandas com conteúdo questionável, também é uma das reivindicações do Instituto Alana, especializado na defesa dos direitos das crianças e adolescentes relacionados ao consumo.
A coordenadora Isabela Henriques lembra que, atualmente, os comerciais são exibidos sem restrição de horário, podendo influenciar negativamente no comportamento dos jovens. “Não é uma questão de moralidade. A associação da bebida alcoólica, cujo consumo exagerado está ligado a problemas de saúde pública – como alcoolismo e acidentes de carro – ao prazer, neste caso [da propaganda suspensa] ao prazer sexual, é um grande mal para os jovens”.
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