Pouco divulgado, Dia da Consciência Negra estreia como “feriado no papel” em Mato Grosso do Sul

O primeiro Dia da Consciência Negra oficializado como data especial no Estado ainda não teve jeito de feriado. Mesmo quem está de folga não sabe ao certo o que a data celebra; comércio funcionou normalmente.

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O primeiro Dia da Consciência Negra oficializado como data especial no Estado ainda não teve jeito de feriado. Mesmo quem está de folga não sabe ao certo o que a data celebra; comércio funcionou normalmente.

O primeiro feriado em Mato Grosso do Sul pelo Dia da Consciência Negra ainda não teve jeito de feriado. Mesmo quem está de folga não sabe ao certo o que a data celebra. “Eu sei que hoje é feriado, estou até de folga. Está na ponta da língua mas não sai o que é a data comemorativa”, desconversa o vendedor Luiz Gazozo, de 33 anos.

Na manhã deste sábado (20), a única referência à data comemorativa na região central de Campo Grande foi a apresentação de adolescentes com necessidades especiais que dançaram em uma roda de capoeira na Praça Ary Coelho. Os capoeiristas especiais se perfilaram batendo palmas no ritmo do berimbau e comemorando a inserção do negro na sociedade brasileira.

A data escolhida para o feriado, 20 de novembro, relembra a data de morte do líder afrodescendente Zumbi dos Palmares.

Também no centro da capital, em meio às compras, a dona de casa Roberta Oliveira, de 32 anos, conta que foi o esposo, José Alves, 38 anos, quem lembrou. “Ele me disse que hoje era feriado e não iria trabalhar. É interessante os negros fazerem manifestações para recordar as pessoas sobre a igualdade e lutarem contra o preconceito”, pondera.

Segundo Roberta, as comemorações seriam melhores com mais medidas do poder público pela causa da igualdade racial. “Deveríamos ter mais bolsas para cursos profissionais e para facilitar aos menos favorecidos entrar em uma faculdade”, defende.

Já o instrutor de capoeira e pedagogo Josimar de Araújo, de 34 anos, acha importante aproveitar o dia para refletir sobre as dificuldades enfrentadas pelos negros. “As pessoas ainda não têm informação do dia no qual é comemorada a consciência negra”, comenta.

Segundo ele, a escolha da capoeira para marcar o feriado no centro de Campo Grande foi natural. “É uma atividade cultural do negro. A dança é uma superação. Os negros lutaram para participar da construção da sociedade. Os alunos de capoeira lutam pela superação e para ganhar resistência. Quando alguém consegue superar uma atividade, já é uma grande conquista”, analisa o instrutor dos alunos especiais.

Feriado “no papel”

Apesar de a lei 3.958, publicada no Diário Oficial do Estado, instituir a data de 20 de novembro como feriado estadual, e de o dia já ser comemorado em 400 cidades e dois estados brasileiros, o dia especial “ficou no papel”.

A maioria das lojas na região central de Campo Grande abriu normalmente. Nem mesmo a chuva atrapalhou as pessoas e os comerciantes não quiseram perder o movimento incentivado pelo pagamento do décimo terceiro. Com os acordos coletivos firmados durante a semana, os comerciários negociaram bônus salariais e folgas extras para trabalhar no feriado.

O gerente de roupas, Cesar de Souza, de 26 anos, disse que, mesmo com a chuva, aguarda um aumento de 25% nas vendas. “ As pessoas aproveitam o dia de folga para vir até o centro e fazer as compras de natal. Com um sábado de feriado, não podemos perder. Abrimos as portas para ganhar mais”, explica.

As costureiras Vanusa Vicente, de 23 anos e Valeria Vicente, de 25 anos, gostaram da oportunidade para visitar as lojas. “Esse feriado deveria existir há muito anos”, resumem.

“Estou de folga e fui informada no trabalho sobre o que seria comemorado hoje. Acredito que os negros ainda sofrem um pouco de preconceito. Muitas pessoas não falam na cara mais ainda consigo notar. Os negros têm que lutar para vencer e ter igualdade”, comenta Valeria.

Mas o assunto ainda gera polêmica. Valeria, por exemplo, diz que acha as cotas para negros em universidades uma forma de discriminação. “Acho que não deveria ter cota nenhuma. Temos que ser todos iguais para concorrer às mesmas vagas”, defende.

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