Owari, Uragano e caos político em Dourados podem ter ligação com a “Maldição do Ervateiro”
Em maio do ano passado, prefeito da cidade, hoje preso, mandou derrubar a Estátua do Ervateiro, símbolo de uma luta passada; para alguns, o episódio explicaria tanta turbulência política no município
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Em maio do ano passado, prefeito da cidade, hoje preso, mandou derrubar a Estátua do Ervateiro, símbolo de uma luta passada; para alguns, o episódio explicaria tanta turbulência política no município
A história da cidade de Dourados, a segundo maior potência econômica de Mato Grosso do Sul, pode ser dividida em duas eras. Antes e depois de primeiro de janeiro de 2009, data da posse de Ari Artuzi, hoje preso e desprezado por siglas partidárias, no comando da prefeitura.
Sucumbida com as prisões do prefeito, vice-prefeito, vereadores, empresários e servidores públicos a cidade sofreu uma verdadeira avalanche de notícias ruins que abalou as estruturas e deixou a população atônita.
Até os mais experientes analistas ficaram sem respostas para explicar o que aconteceu com a terra de Marcelino Pires. Os cientistas enclausurados na academia nada falaram. Os padres calaram. Os pastores esconderam-se. A cartomante só fala de amor e outros sortilégios.
Sobraram apenas àquelas pessoas que afiam suas línguas debaixo de sibipirunas e sob o manto de superstições apresentam explicações para tudo. Para essa classe de gente que tem medo de gato preto, joga no bicho e não passa debaixo de escada todo este descalabro que sangrou a segunda cidade sul-mato-grossense não passa de uma maldição. Isso mesmo!
Cesar Cordeiro, um jornalista quarentão e bonachão, foi o primeiro a levantar a suspeita de uma “possível” maldição em sua coluna Atenta no dia 28 de abril deste ano. Para ele Dourados está sofrendo com os desígnios da “Maldição do Ervateiro”. Cordeiro questionou na época, quando Dourados sofreu com os ventos de um Tornado, a possibilidade do fenômeno da natureza ser “um aviso do ervateiro”.
A PRIMEIRA MALDIÇÃO DA TERRA
Mas antes de falarmos da “Maldição do Ervateiro” é bom que se saiba que a maldição “é a ação efetiva de um poder sobrenatural caracterizada pela adversidade que traz, sendo geralmente usada para expressar o azar ou algo ruim na vida de uma pessoa, de uma cidade, de uma empresa, de uma nação”.
Na cultura Cristã Ocidental convém afirmar que a maldição é uma manifestação que é contada nos relatos bíblicos desde a antiguidade. A primeira maldição que se tem conhecimento está relacionada à morte. No segundo capítulo do livro do Gênesis consta que depois que Jeová colocou o homem para morar no Éden ordenou: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
O resto da história todos conhecem de cor e salteado. Os humanos, conforme as concepções hebraicas estão fadadas à morte. Nem mesmo Jesus, o filho do criador do Paraíso, não ficou livre do Hades. Pela visão bíblica a desobediência é a causa das maldições. O bispo Marcos Vitor, da Igreja Sara Nossa Terra afirmou que aqueles que deixam de cumprir suas promessas ou quebram seus princípios e seus votos sofrem uma maldição.
A ERVA-MATE
Pouco depois da boca-da-noite de sete de maio de 2009 os operários da empresa Concreaço esmerilharam os pés da Estátua do Ervateiro que estava cravada no canteiro central da esquinas das avenidas Marcelino Pires com Presidente Vargas.
Eles cumpriam ordens do prefeito Ari Artuzi. Nenhuma alegação para o ato. A estátua que representava o “Peão dos Ervais” era uma homenagem aos milhares e milhares de brasileiros e paraguaios que deram à vida para a Companhia Matte Laranjeira que durante um século explorou as árvores nativas da Ilex Paraguarienses
A escultura do Peão dos Ervais foi logo apelidada pela população de “Ervateiro”. Feita pelas mãos do Mestre Cilso, a estátua por seu porte avantajado e por sua aparência azeviche; o mesmo negro do “Chevalier” do pantaneiro Lobivar Matos; a obra de arte foi carimbada pejorativamente de “João Grandão”.
A nominação ofensiva e depreciativa ao então deputado federal petista foi uma forma encontrada pelos adversários do então prefeito Laerte Tetila responsável pela “homenagem”. A estátua era desproporcional e mostrava um Peão ervateiro destoante da realidade contada nos livros de Hélio Serejo. Na cabeça da estátua o artista moldou um chapéu de abas enquanto que o Peão do Erval usava um gorro de tecido conhecido também como barrete.
O Ervateiro que havia sido inaugurado com pompas oficiais em 27 de novembro de 2004 custou aproximadamente R$ 5 mil. Dinheiro que saiu dos cofres da Prefeitura. A colocação da estátua foi envolta de polêmica. Até mesmo o local foi questionado já que atrapalhava a visão dos motoristas.
Na Era Vargas, a concessão secular de Tomaz Laranjeira expirou-se e começou a marcha para o oeste. A região da Grande Dourados deu lugar milhares de famílias de nordestinos, italianos e japoneses que destruíram milhares de árvores e construíram a CAND (Colônia Agrícola Nacional de Dourados). Esta colônia transformou a região e fez de Dourados uma grande cidade repleta de lavradores que foram expulsos da terra pela força da Soja em fins da década e 1960.
POR ONDE ANDA O ERVATEIRO?
A estátua do ervateiro depois que foi arrancada do local onde ficou por mais de quatro anos, foi parar no depósito de entulhos e sucatas da Prefeitura, próximo ao Trevo da Bandeira. Ficou por lá no meio da braquiária por um longo período, mas antes disso muita coisa aconteceu pela defesa do “patrimônio público”.
Tão logo a população tomou conhecimento da agressão à estátua do Ervateiro a classe artística, sindicalistas e estudantes universitários se mobilizaram para protestar contra o ato patrocinado pelo prefeito Artuzi. Fizeram uma espécie de “missa de sétimo dia” pedindo a volta da estátua para o mesmo local. De nada adiantou, o prefeito permaneceu irredutível.
Semanas depois os artistas e sindicalistas entraram com uma ação no Ministério Público pedindo a cassação do prefeito por improbidade administrativa. Uma indenização de R$ 5 milhões está sendo cobrada nesta ação que ainda não teve um desfecho favorável ao patrimônio público.
Depois de muito custo a Prefeitura acabou atendendo o Ministério Público e “achou” um local para o Ervateiro. A estátua foi plantada no Parque Arnulpho Fioravante do ladinho de um “suspiro” da rede de esgoto e envolto de ervas daninhas. O preto que tingiu a estátua foi substituído pelo amarelo da bandeira de Dourados em uma cor cinza aguado desfigurando totalmente a obra de arte do Mestre Cilso. Um flagrante desrespeito ao artista mais amado dos douradenses.
AS MALDIÇÕES DO ERVATEIRO
Nas esquinas movimentadas da Avenida Marcelino Pires é apregoado que as maldiçoes do Ervateiro vão chegar a 13. O número do Zagalo, do azar. O mesmo número do partido que estava no Poder quando a estátua foi erigida.
Dizem os especialistas em superstições e crendices que a primeira maldição se deu na fatídica Operação Sanguessuga em quatro de maio de 2006 quando o ex-deputado Grandão se encalacrou no escândalo que abalou o Brasil. Na eleição de 2006 não conseguiu o terceiro mandato.
A segunda maldição foi a derrota do professor Wilson Biasotto que era candidato a prefeito de Dourados. Tetila não conseguiu emplacar seu sucessor e Artuzi foi eleito. A terceira praga recaiu sobre a Praça Antonio João. Passaram-se mais de três e a obra continua inconclusa. Tapumes recobrem as estátuas do Colono, alusiva a agricultores da CAND e do Tenente Antonio João Ribeiro, “herói” da Guerra da Tríplice Aliança que dizimou a Nação Guarani. Estas estátuas tergiversavam e deblateravam em tardes fagueiras com o Ervateiro.
Em seguida os douradenses sofreram com a quarta maldição: uma grande greve dos professores expõe as fraquezas da Administração de Ari Artuzi. As quinta e sexta “calamidades” foram as Operações Owari e Brothers em junho de 2009 que mandaram um bando de gente “boa” da política para a cadeia. O sétimo sofrimento dos douradenses foi o “troca-troca” de secretários feitos por Artuzi que já aparentava não conseguir mais governar o município.
A CPI da Saúde que pode resultar na cassação de Artuzi foi a oitava maldição. O tornado que destruiu metade da cidade em 28 de abril deste foi a nona calamidade provocada pela “Maldição do Ervateiro”. A décima praga considerada a mais trágica foi a Operação Uragano no dia primeiro de setembro que novamente levou uma quadrilha inteira para a penitenciária.
Depois da Uragano Dourados parou. Ninguém mais sabe quem manda na cidade que se transformou em terra de ninguém. Agora faltam apenas mais três desgraças para se cumprir integralmente a chamada “Maldição do Ervateiro”. Pena daqueles que sofrem de triscaidecafobia. Isso mesmo! Este verbete estrambótico significa o medo irracional e incomum do número 13.
COMO QUEBRAR UMA MALDIÇÃO?
Receitas para se quebrar uma maldições devem existir caso contrário os douradenses vão sofrer mais três revezes até que a Maldição do Ervateiro tenha um final.
Um Vate de cabelos encaracolados que pode ser visto com as capivaras do Parque Arnulpho Fioravante quando o sol se põe disse que para que a maldição seja quebrada é necessário que os políticos que não respeitaram os compromissos feitos com o povo saiam da cadeia, reconheçam seus erros, peçam perdão e mudem radicalmente suas vidas.
O profeta das capivaras espreita o Córrego Paragem enquanto suspira as dores dos douradenses e novamente vaticina convidando as pessoas de alma pura e que ainda acreditam que a política pode ser levada a sério e que a cidadania plena é uma necessidade que vá ao derredor da Estátua do Ervateiro e façam suas orações e suas invocações para que o “Todo Misericordioso, o Clemente” salve o que ainda resta de Dourados e do orgulho de ser douradense.
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