Em abril, quase dois meses antes de a bola rolar na África do Sul, o globoesporte.com apresentou aos internautas o Reino do Lesoto, o país dentro do país da Copa do Mundo. Agora, com o torneio chegando ao fim da primeira fase, voltamos ao lugar para ver como o povo basotho, etnia de 99% da população, está assistindo à competição.

Em Morija, cidade rural localizada a 45 quilômetros da capital Maseru, visitamos um povoado que, isolado das facilidades da vida da cidade, habita o alto do morro do Makhaorane. São dois mil metros acima do nível do mar, em um local que neva no inverno e as pessoas caminham sempre enroladas em um cobertor. Por lá cerca de 200 pessoas vivem da criação de cabras e ovelhas, além do plantio de milho.

A subida não é longa e a trilha, sempre aberta, oferece um visual de tirar o fôlego. Do alto, a beleza do aspecto montanhoso do Lesoto esconde as mazelas sociais de um dos países mais pobres do mundo, cuja população de 1.800.000 habitantes sofre com a proliferação da aids: quase 24% dos basotho estão contaminados pelo HIV.

Em um país com 40% da população vivendo com menos de US$ 1,24 (R$ 2,23) por dia, portanto abaixo da linha de pobreza estabelecida pelas Nações Unidas, é normal que muitos ignorem o Mundial da África do Sul para se preocupar com o sustento.

– Eu não sei nada sobre essa Copa do Mundo. Ouvi algumas pessoas falando sobre isso, mas não sei do que se trata – disse em sua língua nativa uma senhora que, para cozinhar, queima lenha dentro do casebre sem se incomodar com a fumaça que toma o local.

Mas enquanto abastecia seu balde na única torneira do povoado, uma outra moradora demonstrou alguma intimidade com o assunto bola. Sem eletricidade no local, para ela as imagens da Copa não são vistas, mas criadas a partir da informação que chega pela antena do rádio.

– Aqui não temos TV, ouvi alguns jogos pelo rádio e estava torcendo pelos Bafana Bafana. Pena que eles foram eliminados – disse a camponesa.

O pequeno Tsekiso, de apenas 11 anos de idade, não aspira ser jogador de futebol, mas diz quem são os seus ídolos: ‘Ronaldino’, como pronunciam, e Kaká. Enquanto tomava conta dos cavalos se alimentando do capim, revelou seu verdadeiro sonho esportivo.

– Quero ser um jóquei – disse o menino, que nunca viu corridas de cavalos, uma vez que elas não existem no Lesoto, mas demonstra imenso afeto pela égua Tinah.

As principais atividades econômicas do Lesoto são a pecuária e as plantações de milho (segundo plano)- Não posso ver todos os jogos, mas tenho visto alguns e torço muito pelo Brasil e pelos demais sul-americanos. Adoro o jeito técnico deles jogarem. Mas também admiro a tática do futebol inglês – opinou.