Jornalista morto na ditadura militar ganha memorial
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, inaugurou ontem (5) à noite, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio, um memorial em homenagem ao jornalista Mário Alves, morto durante a ditadura militar. Vannuchi lembrou que esse foi o 21º ato do governo Lula em memória a personalidades e […]
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O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, inaugurou ontem (5) à noite, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio, um memorial em homenagem ao jornalista Mário Alves, morto durante a ditadura militar. Vannuchi lembrou que esse foi o 21º ato do governo Lula em memória a personalidades e lideranças ligadas à esquerda ou à vanguarda política brasileira.
“É importante multiplicar eventos como esse. São atos para reforçar a idéia de que é preciso criar um consenso nacional a favor da reconciliação, que não se dá sufocando o debate, mas sim convencendo pessoas que participaram do aparelho da repressão a abrir todas as informações, dizendo onde os corpos dos desaparecidos podem ser procurados”, afirmou Vannuchi, adiantando que outros dez memoriais serão inaugurados este ano.
Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde 1939, Mário Alves fundou em 1968 o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), ao lado de militantes históricos como Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho. Secretário-geral do PCBR, ele dirigiu os jornais Novos Rumos e Voz Operária. Foi preso pelos militares em duas oportunidades, em junho de 1964, quando ficou um ano detido, e em 16 de janeiro de 1970. Desta vez, foi levado para oDestacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) e morto, um dia depois, no quartel do Exército da Rua Barão de Mesquita, na Tijuca, zona norte do Rio.
Sua morte, após sessões de tortura, foi testemunhada por outros presos políticos, mas o corpo jamais foi encontrado. Um dos companheiros de prisão foi o professor de história Emir Amed, que chegou a ser levado para a mesma cela de Mário Alves.
“É um resgate cultural, espiritual, político e ideológico de um homem que conheci pessoalmente. Eu vi na cela do DOI-Codi seu colchão ensanguentado. Ele era um intelectual, de uma cultura vastíssima. Lutou pela democracia em nossa pátria e foi massacrado até a morte”, lembrou Amed.
Lúcia Caldas, filha de Mário Alves, representou a família e disse que, apesar das evidências de que ele foi morto, ainda tem esperança de um dia encontrá-lo vivo.
“Eu não sepultei o meu pai, o que é muito difícil para os familiares de qualquer desaparecido político. No plano consciente, sei que ele foi trucidado. Mas em sonhos, me lembro de meu pai e penso se ele não estaria vivo, em algum lugar. É uma esperança que continua aqui dentro”, desabafou Lúcia.
O presidente da ABI, Maurício Azedo, ressaltou a importância de Mário Alves para o jornalismo brasileiro. “Ele é merecedor de todas as homenagens, pelo exemplo que deu de militância social contra a ditadura e de grande intelectual. Foi diretor do jornal do Partidão [PCB], Novos Rumos, onde se destacou pela capacidade de refletir sobre a realidade brasileira e de formular propostas”, assinalou Azedo.
O memorial de Mário Alves traz sua foto e história de vida. Pode ser visto no Salão Nobre da ABI, ao lado das fotos de outros jornalistas brasileiros.
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