Exploração sexual cresce com maior produção de etanol em MS

Pesquisa feita em cinco cidades de Mato Grosso do Sul (Sidrolândia, Maracaju, Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul e Rio Brilhante) aponta relação entre a expansão da produção de etanol e o aumento da exploração sexual, principalmente de crianças e adolescentes e de mulheres paraguaias trazidas ao Brasil. O estudo Impactos do Setor Sucroalcooleiro na […]

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Pesquisa feita em cinco cidades de Mato Grosso do Sul (Sidrolândia, Maracaju, Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul e Rio Brilhante) aponta relação entre a expansão da produção de etanol e o aumento da exploração sexual, principalmente de crianças e adolescentes e de mulheres paraguaias trazidas ao Brasil.

O estudo Impactos do Setor Sucroalcooleiro na Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em Mato Grosso do Sul foi feito durante o ano passado sob encomenda do Comitê de Enfrentamento da Violência e da Defesa dos Direitos Sexuais de Crianças e Adolescentes do estado (Comcex). Foram coletados relatos por meio de uma técnica conhecida como observação participante, que implica maior interação do pesquisador com informantes. O estudo não apresenta dados quantitativos sobre a exploração.

O relatório, obtido com exclusividade pela Agência Brasil, destaca que “grandes empreendimentos alteram significativamente as dinâmicas das localidades por onde avançam”. No caso da indústria do etanol nos cinco municípios do sul-mato-grossenses, uma das consequências é a mudança de comportamento da população. Muitas vezes, o corpo das mulheres é tratado como mercadoria. “A expropriação do corpo das mulheres e das crianças está colocada e se torna um valor cultural fundante naquelas localidades”, lamenta Estela Márcia Scandola, diretora do Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável – Centro Oeste (Ibiss/CO), responsável pela pesquisa.

Segundo Estela, a exploração sexual tem sido um meio para a fixação dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro, que, segundo ela, ainda é formado por um grande contingente de mão de obra imigrante. “Os serviços sexuais vão ser utilizados inclusive para a manutenção da calma dos trabalhadores diante do fato de estarem longe da família e das suas relações afetivas”, salienta a diretora.

A pesquisa foi encaminhada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (financiadora), ao Ministério Público do Trabalho e à Secretaria de Saúde de Mato Grosso do Sul. Antes da publicação, o estudo foi submetido ao Comitê de Ética da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

Nos municípios em que a pesquisa foi feita funcionam nove das 21 usinas de etanol do estado. Mato Grosso do Sul é o quinto maior produtor de etanol do país. O estado teve a maior taxa de crescimento na produção de cana-de-açúcar entre as safras de 2009 e 2010: 22,58%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A estimativa é que a produção de etanol no estado atinja 2 bilhões de litros este ano.

Os resultados e a metodologia da pesquisa são contestados pela Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul) e pela Secretaria de Assistência Social de Rio Brilhante, uma das cidades pesquisadas.

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