Estado emocional de Cristina Kirchner definirá futuro da Argentina

Ainda vivendo o impacto da morte fulminante do ex-presidente Néstor Kirchner, ocorrida ontem (27) na cidade de El Calafate, a Argentina tem pela frente um período em que se torna impossível definir o futuro político e econômico do país. Analistas ouvidos pela imprensa argentina divergem nos detalhes sobre o futuro imediato, mas concordam que, a […]

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Ainda vivendo o impacto da morte fulminante do ex-presidente Néstor Kirchner, ocorrida ontem (27) na cidade de El Calafate, a Argentina tem pela frente um período em que se torna impossível definir o futuro político e econômico do país.

Analistas ouvidos pela imprensa argentina divergem nos detalhes sobre o futuro imediato, mas concordam que, a partir de agora, a sequência de ações que movimentará o tabuleiro político da Argentina depende única e exclusivamente do estado emocional da presidente Cristina Kirchner.

O Casal K, como Néstor e Cristina são conhecidos, permaneceu unido durante 36 anos. Ao longo de sua vida política, Néstor Kirchner construiu uma extensa rede de articulações que integrava o seu projeto pessoal de manter-se no poder pelo tempo que fosse possível. Eleito presidente em 2003, ele desistiu da reeleição garantida em 2007 para abrir espaço à sua mulher que, na época, era senadora. Cristina Kirchner foi eleita em 2007, mas o mundo político argentino tinha consciência de que o verdadeiro poder de seu governo emanava do marido.

Néstor Kirchner, nos últimos dias, já não escondia a disposição de candidatar-se às eleições presidenciais de outubro do ano que vem. De acordo com algumas interpretações, em 2015 Kirchner novamente abriria espaço para que a esposa se candidatasse ao cargo. Dessa maneira, o Casal K entraria para a história argentina como os presidentes que se alternaram no poder ao longo de 16 anos. Completado esse ciclo, Néstor e Cristina estariam impossibilitados pela Constituição argentina de retornar à Presidência, mas ainda manteriam grande poder e influência na politica do país.

O comportamento da presidente argentina nos próximos dias, dizem os analistas, definirá o caminho que será seguido pelos partidos políticos até a sucessão presidencial de 2011. Um problema imediato da presidente é o vice, Julio Cobos.

Em 2007, quando a chapa eleitoral que levaria Cristina Kirchner ao poder estava sendo articulada, Cobos decidiu concorrer às eleições internas do Partido Justicialista para disputar a vaga de vice-presidente, iniciativa possível graças à peculiar formatação da política argentina que permite associações políticas aparentemente impossíveis. Na época, Cobos era integrante do partido União Cívica Radical (UCR). Ao tomar a decisão de aliar-se a Cristina Kirchner, Cobos foi expulso do partido.

Em 2008, já ocupando o cargo de vice-presidente da República e também a presidência do Senado e do Congresso argentinos, Cobos acabou se tornando um dos principais opositores do governo federal ao votar no Senado contra um projeto de lei que aumentaria impostos no setor agropecuário. A partir de então, o relacionamento de Cristina Néstor e Julio Cobos deteriorou-se e, hoje, os dois principais personagens da vida política argentina são definidos como “inimigos cordiais”.

Sem o amparo e a força política de Néstor Kirchner, e também sem maioria no Congresso Nacional, a presidente argentina, de acordo com analistas, terá sérias dificuldades para reorganizar não apenas sua influência no Congresso, mas o próprio Partido Justicialista, que era liderado por Néstor Kirchner. A corrida pelo poder político e pela sucessão presidencial fica em suspenso durante os próximos dias, até que a presidente sinalize seus primeiros passos após a morte do marido. Por enquanto, o futuro político da Argentina permanece na área da especulação.

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