Empreiteira ganha 1.957% a mais que no 1º ano de Lula

Uma empreiteira que até o fim da década de 90 era desconhecida virou, no ano passado, a maior recebedora de recursos do governo federal. Trata-se da Delta Construções, que recebeu em 2009 R$ 720,1 milhões, quase o dobro de 2008 e 1.957% a mais do que no primeiro ano do governo Lula, 2003. Seu faturamento […]

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Uma empreiteira que até o fim da década de 90 era desconhecida virou, no ano passado, a maior recebedora de recursos do governo federal. Trata-se da Delta Construções, que recebeu em 2009 R$ 720,1 milhões, quase o dobro de 2008 e 1.957% a mais do que no primeiro ano do governo Lula, 2003. Seu faturamento passou de R$ 251,7 milhões, em 2002 (último ano do governo FHC), para R$ 1,3 bilhão em 2008.

Nos últimos três anos, a Delta já era a empresa privada que mais havia recebido recursos do governo. Ficava atrás apenas das financiadores de pesquisa e colheita de café, que foram ultrapassadas neste ano. Em sete anos, já são R$ 2 bilhões pagos a esta empresa só pela União. Os dados são do Siafi (Sistema de Administração Financeira) e foram obtidos pela ONG Contas Abertas.

Fora do governo federal, a companhia tem negócios diversos em vários municípios -de recolhimento de lixo à implantação de lombadas eletrônicas. O crescimento da pernambucana Delta, que migrou para o Rio no governo de Anthony Garotinho em 1999, seguiu o estreitamento de sua relação com políticos de vários partidos. Mesmo assim, ela ainda está longe das gigantes do setor: não chega a 5% do faturamento do Grupo Odebrecht, por exemplo, cuja construtora faturou quatro vezes mais que a Delta.

O aumento do volume de pagamentos no governo federal aconteceu após 2004, quando ela foi a sétima maior empresa doadora da campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo (R$ 415 mil ao comitê partidário) -a empresa já era fornecedora do governo. Também doou mais R$ 1,2 milhão a candidatos do PMDB e PL (hoje PR) e R$ 120 mil a um candidato do PSDB.

Dois anos depois, o maior salto. Ela foi a principal beneficiada por contratos emergenciais (sem licitação) na Operação Tapa-Buraco realizada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para melhorar o asfaltamento das rodovias federais. A direção do órgão é indicada por PT e PR. É de lá que vieram mais de 80% dos recursos recebidos em 2009 do governo federal, quase todos para serviço de manutenção de estradas.

O contato com políticos fluminenses ajudou. Em 2002, a Delta doou recursos (R$ 20 mil) só para dois candidatos: o deputado federal Eduardo Cunha (então no PPB e depois PMDB) e Fábio Silva, que concorreu a deputado estadual. Após a eleição, Cunha, hoje um dos deputados mais influentes do PMDB, indicou a direção da companhia de água e esgoto do Estado, a Cedae. De nenhum recurso recebido em 2002, a Delta pulou para R$ 133 milhões em 2005. As relações com o grupo de Garotinho continuaram. Em 2004, Geraldo Pudim, candidato do ex-governador à Prefeitura de Campos, recebeu R$ 300 mil de recursos da empresa.

A partir de 2006, a empresa parou de fazer doações legais, mas intensificou o contato com novos administradores. Isso ocorreu em Goiânia, desde a posse de Iris Rezende (PMDB) na prefeitura, em 2005.

De acordo com o vereador Elias Vaz (PSOL), os contratos iniciais, na maioria, eram para asfaltamento (e sem licitação). Depois houve contratos de recolhimento de lixo, administração de aterro sanitário, obras de viaduto e implantação de lombadas eletrônicas. “Eles nunca fizeram lombadas eletrônicas. Entramos com uma representação e o governo cancelou esta”, afirmou Vaz.

O lixo tem sido alvo das ações da empresa fora do governo federal, que a partir da administração de Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo ganhou uma parte do contrato de varrição da cidade. No DF, ganhou contrato relacionado a lixo na administração de José Roberto Arruda (sem partido, então no DEM), pelo qual faturou R$ 20,1 milhões em 2009.

Em 2007, na administração petista iniciada dois anos antes em Palmas, capital do Tocantins, a Delta venceu concorrência para o recolhimento do lixo da cidade de 200 mil habitantes num contrato de 24 meses em que receberia R$ 11,5 milhões.

De acordo com o vereador Waldemar Júnior (DEM), no meio do contrato o prazo caiu para 570 dias, e o valor pulou para R$ 14,7 milhões. O contrato venceu e a companhia foi contratada emergencialmente. “Colocaram coisas como recolher lixo em ilhas. Palmas só tem uma, e o dono traz o lixo ao continente”, disse o vereador.

No Rio, durante a gestão de Cesar Maia (DEM), a empresa fez uma proposta muito abaixo de suas concorrentes e venceu a licitação para construir o Estádio João Havelange. Não chegou a terminar a obra: dez meses antes do prazo de conclusão (junho de 2007), a empresa exigiu mais recursos, e OAS e Odebrecht assumiram.

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