Crise na saúde pública de MS: Hospital de Aquidauana também é alvo de denúncias no MPE

Na foto, enquanto faixa agradece “investimentos” no hospital, médicos reclamam que não recebem salários: secretaria de saúde diz que problema é de empresa “terceirizada”.

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Na foto, enquanto faixa agradece “investimentos” no hospital, médicos reclamam que não recebem salários: secretaria de saúde diz que problema é de empresa “terceirizada”.

Os problemas na saúde pública sul-mato-grossense não se restringem à capital, onde a Santa Casa continua sob intervenção e o Hospital Regional corta vagas e suspende cirurgias por “contenção de despesas”. Em Aquidauana, o Hospital Estácio Muniz também se tornou alvo de denúncias no Ministério Público Estadual por suspeita de irregularidades na gestão dos recursos públicos.

A documentação entregue ao MPE relata falta de medicamentos, ambulâncias estragadas, atendimento precário e atraso no pagamento dos médicos. Segundo os funcionários, a situação é realmente de emergência, pois alguns médicos estão desde o mês de junho sem receber salários e faltam medicamentos básicos como antibióticos sedativos e vasodilatadores.

“A última vez que nós recebemos foi em junho, e me parece que o valor já foi repassado para a Prefeitura que não nos repassou o pagamento”, confirma um médico, que prefere não ser identificado.

De acordo com outro membro da equipe, há uma situação de “guerra de nervos” dentro do hospital. “Só o fato de ficar sem receber já deixa o pessoal nervoso. Também há uma questão de falta de informações. Sabemos que falta medicamento, mas quando questionamos, nos dizem que médico não deve questionar, mas sim prescrever”, reclama o profissional.

Para eles, o trabalho está sendo realizado “no limite”. “São três médicos fazendo plantão, com um valor inferior e que ainda atrasa. Ainda falta comunicação do pessoal da administração conosco e quando marcamos uma reunião, ela geralmente não acontece por falta de quorum”, explica um dos médicos.

Na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) a situação é gritante. “Estava péssimo até o momento da denúncia, hoje sabemos que melhorou um pouco. Porém já faltaram medicamentos básicos, a ponto de chegar a faltar antibiótico e o secretário mandar transferir para Campo Grande”, reclama.

O hospital que tem capacidadede seis vagas na UTI, no momento está trabalhando com apenas dois pacientes. “Com dois pacientes está mais fácil, mas e se por um acaso ficar lotado? Estamos lidando com vidas, não com prédios, não é simplesmente transferir para a Capital”, desabafa o médico.

Aguardando o MPE

A denúncia foi protocolada no MPE da cidade, junto ao promotor José Mauricio de Albuquerque. O MPE confirmou o protocolo da documentação, que foi divulgada na Câmara Municipal da cidade em pronunciamento do vereador Wezer Lucarelli (PPS).

“O médico Sérgio Felix contou que a UTI está fechada para internação desde o dia 23 de outubro por falta de medicamentos, conforme se comprova com documentos entregues ao MPE. A situação já foi vivida em dezembro do ano passado”, disse o parlamentar.

Segundo Lucarelli, a situação está complicada em especial pela falta de pagamento dos médicos. “Nosso setor de hemodiálise agora está sem nefrologista, já que o profissional que cuidava dessa área não conseguiu receber a produção médica (honorários), e há profissionais que estão sem receber desde dezembro do ano passado”, denuncia.

O vereador questiona gastos da Prefeitura em outras áreas e diz que pode comprovar as solicitações feitas à administração municipal de Aquidauana por intermédio da prefeitura e da Secretária Municipal de Saúde. “Mas não houve retorno”, lamenta.

Segundo o vereador, quem denuncia a situação tem sido despedido do quadro médico e muitos não aceitam renovar o contrato. “O médico que ganha um determinado valor em Campo Grande, não vai aceitar receber o mesmo aqui. Isso é uma conta muito simples de fazer. Ainda mais aceitar receber tudo atrasado”, explica ele.

Terceirização

O secretário municipal de saúde, Paulo Cesar Rodrigues dos Reis, garante que “a situação é outra”. Segundo ele, o problema com o pagamento dos médicos não é da prefeitura, pois uma empresa terceirizada teria sido contratada!

“Os médicos estão com os salários em dia e apenas na UTI a situação é diferente, pois lá é uma empresa terceirizada que foi contratada. Essa empresa, é quem deve pagar os médicos”, afirma.

Paulo César diz que ainda não conhece o teor das denúncias, porque a prefeitura ainda não foi notificada. Segundo ele, “no momento oportuno” será apresentada documentação rebatendo as denúncias protocolizadas no Ministério Público Estadual. A população aguarda. (Com a edição)

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