Carvão usado no Brasil incentiva desmatamento no Paraguai
Entre janeiro e junho de 2010, o Brasil importou 66 mil toneladas de carvão e produtos equivalentes do Paraguai, alta de 120% em relação ao mesmo período de 2009. A movimentação financeira chegou a US$ 5,3 milhões, a décima-primeira categoria de produtos em volume financeiro. De acordo com um comprador de carvão de uma siderúrgica […]
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Entre janeiro e junho de 2010, o Brasil importou 66 mil toneladas de carvão e produtos equivalentes do Paraguai, alta de 120% em relação ao mesmo período de 2009. A movimentação financeira chegou a US$ 5,3 milhões, a décima-primeira categoria de produtos em volume financeiro. De acordo com um comprador de carvão de uma siderúrgica mineira, o volume importado poderia ser até três vezes maior, não fosse a crise por que passam algumas fabricantes de ferro-gusa. Voltadas à exportação, algumas mantêm os fornos desligados desde 2008, ano de início da crise internacional.
Grandes siderúrgicas brasileiras compraram carvão vegetal no Paraguai. É o caso, por exemplo, da Gerdau, uma das maiores do mundo. Questionada sobre a exigência de parâmetros socioambientais dos fornecedores que fazem parte de sua cadeia produtiva, a empresa afirmou: “A Gerdau esclarece que realizou importações pontuais de carvão vegetal do Paraguai, seguindo rigorosamente a legislação ambiental vigente. A última importação do produto do Paraguai foi realizada em 2008 pela empresa”.
O carvão também é adquirido por siderúrgicas como Mat-Prima e Valinho, ambas de Divinópolis (MG); Cisam, de Pará de Minas (MG); e Ferguminas, de Itaúna (MG). Já grande parte das pequenas importadoras ficam nos municípios de Ponta Porã (MS), que faz divisa com a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, e nos municípios de Novo Mundo (MS) e Guaíra (PR), ambos na divisa com a cidade paraguaia de Salto del Guairá.
Criada em 1993, a Mat-Prima tem capacidade de produzir 12 mil toneladas de produtos siderúrgicos por mês. A maior parte é exportada pelos portos do Rio de Janeiro (RJ) e de Vitória (ES). A empresa compra o produto paraguaio por meio de pequenas importadoras e também usa combustível brasileiro fabricado nos Estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. No caso do produto paraguaio, a Mat-Prima avalia que qualquer controle ambiental é de responsabilidade do produtor e da empresa importadora.
Também fabricante de ferro-gusa, a siderúrgica Cisam opera com carvão vegetal produzido no Brasil e no Paraguai. De acordo com um representante da empresa, o carvão é totalmente produzido com madeira oriunda de florestas plantadas, inclusive os carregamentos oriundos do Paraguai. A área de reflorestamento localizada no Paraguai foi implantada na cidade de San Juan Nepomuceno, no departamento de Caazapá, e é um empreendimento comandado por brasileiros. Já as siderúrgicas Ferguminas e Valinho estão com os fornos desligados, à espera da recuperação do mercado. Quando estão em funcionamento, as duas empresas utilizam carvão oriundo do Paraguai.
Tráfico e contrabando
Além dos problemas ambientais, sociais e trabalhistas que se escondem atrás do carvão paraguaio, traficantes de drogas e contrabandistas se valem do fluxo mercantil para introduzir produtos ilegais no Brasil. De acordo com fonte que consultada pela reportagem (cuja identidade será preservada), “o carvão é um convite para esse tipo de atividade, pois bloqueia o scanner [espécie de raio-x] utilizado na fiscalização de fronteira”.
Além disso, o carvão “prejudica o olfato dos cachorros, é sujo e absorve o cheiro dos materiais”. Até alguns anos atrás, o carvão paraguaio entrava quase sem impostos no Brasil. O preço era muito baixo: um caminhão carregado de carvão custava algo em torno de R$ 1 mil. Após muitos conflitos para que o preço do carvão importado fosse aumentado, a tonelada, que entrava no Brasil por cerca de US$ 20 dólares, agora está em torno de US$ 100.
José Alberto Iegas, chefe da delegacia da Polícia Federal (PF) na cidade fronteiriça de Foz do Iguaçu (PR), explica que é difícil estabelecer uma relação direta entre uma eventual carga ilegal de drogas ou contrabando com algum produtor de soja, de carvão ou de qualquer outro produto do Paraguai. “O mais comum é o dono do produto principal nem saber que a carga estava com a droga, sendo que nesses casos normalmente o motorista é cooptado pelo esquema diretamente. Mas acontece também do traficante comprar a carga e misturar, fazendo o serviço completo”.
Ele acrescenta que os flagrantes desse tipo ocorrem normalmente em função de denúncias, investigações, pelo perfil da carga, ou pelo perfil da documentação. Segundo o chefe da PF, embora seja complicado de se apontar a relação direta entre o produto ilegal e algum produtor, é certo, por outro lado, que “os grandes traficantes normalmente possuem várias atividades legais para a lavagem do dinheiro da droga, do contrabando, inclusive pela compra de propriedades rurais, ou por meio de investimentos no gado”.
Em Ponta Porã (MS), a assessoria de imprensa da PF afirma que flagrantes de droga e carga contrabandeada dentro dos carregamentos de carvão e de soja são comuns. Conforme a assessoria, trata-se de um subterfúgio muito usado pelos traficantes da região, sendo que em uma ocasião recente, foi encontrada uma carga de 11,7 toneladas de maconha em um caminhão de soja. De acordo com setor aduaneiro da PF em Foz do Iguaçu (PR), não é só com soja que se verifica a situação de contrabando e tráfico de drogas, mas também com o feijão, o milho, entre outros.
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