Assinatura do papa aparece em carta envolvendo padre pedófilo
O cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento 16, resistiu a pedidos para suspender um padre americano acusado de abusar sexualmente de crianças, segundo uma carta de 1985 que contém sua assinatura. O Vaticano não quis comentar o conteúdo da carta nesta sexta-feira, mas um porta-voz confirmou ser mesmo a assinatura de Ratzinger. A carta, obtida […]
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O cardeal Joseph Ratzinger, hoje papa Bento 16, resistiu a pedidos para suspender um padre americano acusado de abusar sexualmente de crianças, segundo uma carta de 1985 que contém sua assinatura.
O Vaticano não quis comentar o conteúdo da carta nesta sexta-feira, mas um porta-voz confirmou ser mesmo a assinatura de Ratzinger.
A carta, obtida pela Associated Press, é o maior desafio para o Vaticano, que insiste que Bento 16 não teve nenhuma participação em barrar a expulsão de padres pedófilos durante os anos em que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
O documento, assinado pelo então cardeal Joseph Ratzinger, foi datilografada em latim e faz parte de anos de correspondência entre a diocese de Oakland, na Califórnia, e o Vaticano sobre a proposta de suspensão do reverendo Stephen Kiesle.
“A assessoria de imprensa não acredita ser necessário responder a cada documento tirado de contexto com relação a situações legais específicas”, disse o reverendo Federico Lombardi. “Não é estranho que existam documentos com a assinatura do cardeal Ratzinger.”
Acusações de abuso
“Ele admitiu ter molestado muitas crianças dizendo ser o Flautista de Hamelin [personagem do conto dos Irmãos Grimm] e disse que tentou molestar todas as crianças que se sentaram em seu colo”, disse Lewis VanBlois, um advogado de seis vítimas de Kiesle, que entrevistou o ex-padre na prisão.
“Quando perguntado quantas crianças ele tinha molestado, ele disse ‘toneladas’.”
Mais de seis vítimas chegaram a um acordo em 2005 com a diocese de Oakland, acusando Kiesle de molestá-las quando crianças.
Kiesle foi preso e acusado em 2002 por 13 casos de abuso de crianças nos anos 1970. Apenas dois casos não foram excluídos pela Suprema Corte americana –que considerou inconstitucional uma lei da Califórnia estendendo o tempo para prescrição do crime.
Em 2004, ele foi acusado de molestar uma menina em sua casa em Truckee, em 1995, e sentenciado a seis anos de prisão.
Caso parado
A diocese recomendou suspender Kiesle em 1981, ano em que Ratzinger foi indicado para chefiar o departamento do Vaticano responsável por disciplinar padres que cometeram abusos.
O caso ficou parado no Vaticano por quatro anos, até que Ratzinger finalmente escreveu para o bispo de Oakland, John Cummins. Passaram-se mais dois anos até que Kiesle foi suspenso.
Oficiais da igreja da Califórnia escreveram para Ratzinger pelo menos três vezes para checar a situação do caso. Em um momento, um oficial do Vaticano escreveu dizendo que o arquivo devia ter sido perdido e sugerindo reenviar o material.
Na carta de novembro de 1985, Ratzinger disse que os argumentos para suspender Kiesle são de “grave importância”, mas acrescentou que tais ações requeriam “uma revisão cuidadosa e mais tempo”.
Ele também pediu ao bispo para oferecer a Kiesle “o máximo possível de cuidado paternal” enquanto esperava pela decisão, segundo um tradução para a AP feita pelo professor Thomas Habinek, chefe do departamento de Ciências Clássicas da Universidade do Sul da Califórnia.
O futuro papa também ressaltou que qualquer decisão de suspender Kiesle deveria considerar “o bem da igreja universal” e o “dano que conceder essa dispensa pode provocar dentro da comunidade dos que creem em Cristo, particularmente considerando a pouca idade”. Kiesle tinha 38 anos na época.
“O cardeal Ratzinger estava mais preocupado em em evitar escândalos do que em proteger crianças”, disse Irwin Zalkin, advogado que representa algumas das vítimas.
Suspensão de Kiesle
Kiesle foi sentenciado em 1978 a três anos de liberdade condicional, acusado de amarrar e molestar dois garotos em uma paróquia na área da baía de San Francisco.
Como a condicional terminou em 1981, Kiesle pediu para deixar a vida religiosa, e a diocese enviou o pedido de suspensão a Roma.
Enquanto o destino de Kiesle era julgado em Roma, o padre retornou a Pinole para ser voluntário na igreja de Saint Joseph, onde tinha servido como pastor associado de 1972 a 1975.
Ele foi finalmente suspenso em 1987, apesar de os documentos não indicarem quando, como ou por que, ou qual o papel de Ratzinger na decisão.
Hoje, com 63 anos, Kiesle vive em um condomínio fechado em Walnut Creek, segundo seu endereço registrado na lista de criminosos sexuais.
Kiesle não foi encontrado para comentar o caso. William Gagen, advogado que o representou em 2002, não retornou uma ligação para comentar o caso também.
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