‘O futebol brasileiro parou no tempo há uns 20 anos’, afirma Cafu

O ex-lateral Cafu afirmou que os clubes brasileiros e dos demais países sul-americanos precisam reagir para combater o domínio europeu no Mundial de Clubes. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o capitão da seleção brasileira no título mundial de 2002 avalia que os times nacionais precisam voltar a ser competitivos e superar o medo de enfrentar […]

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O ex-lateral Cafu afirmou que os clubes brasileiros e dos demais países sul-americanos precisam reagir para combater o domínio europeu no Mundial de Clubes. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o capitão da seleção brasileira no título mundial de 2002 avalia que os times nacionais precisam voltar a ser competitivos e superar o medo de enfrentar grandes adversários.

Aos 50 anos, Cafu tem trabalhado como embaixador da Copa do Catar e garante que o Mundial de 2022 será interessante por dispensar a necessidade de viagens. Pelo país ser pequeno, o torcedor poderá ver mais de um jogo no mesmo dia e os atletas não vão mais se desgastar com voos e trocas de hotéis. Confira como foi a entrevista:

Por que os sul-americanos não ganham mais o Mundial de Clubes?

A gente parou de jogar. Por isso agora o futebol europeu está deitando e rolando. O futebol europeu agora leva o Mundial com muito mais seriedade. Eu vi isso quando estava no Milan. Tivemos a oportunidade de estar no Mundial. Eu joguei contra o Milan quando estava no São Paulo e depois joguei pelo próprio Milan contra o Boca Juniors, da Argentina. Nesse período agora, os times europeus dão muito mais importância ao Mundial de Clubes do que davam antigamente. Isso é fato. Eu vi isso quando fomos jogar. Eles levam muito mais à sério e quando isso acontece, o chicote começa a estalar para o nosso lado. Mas isso não impede que um time venha concentrado e ganhe de um europeu.

E o que deve ser feito para o futebol brasileiro mudar isso?

Nós paramos no tempo há muitos anos. Falo isso com dor no coração. Eu sou patriota, brasileiro, amo futebol, discuto futebol e sempre quero que o futebol brasileiro seja competitivo e esteja apto a competir com todos os grandes times do futebol europeu. Mas infelizmente paramos no tempo há uns 20 anos. Temos de resgatar isso novamente. E isso já está acontecendo com os grandes jogos que estamos fazendo. Temos de trazer de volta a alegria de jogar futebol.

Qual a receita para um time sul-americano superar um europeu em um Mundial?

O medo de perder tira a vontade de ganhar. Não pode entrar com medo. Tem de saber o seu potencial. É preciso enfrentar o adversário de igual para igual e fazer com o que ele te respeite desde o começo do jogo. Assim que começa, já vai para cima, ataca, mostra que quer ganhar.

O que mais te impressiona no Bayern de Munique?

O conjunto do Bayern é impressionante. Você pega o Müller, por exemplo. Alguns falam que ele está velho, mas quando ele entra, é um cara que administra o jogo, pensa, domina, toca e faz o gol O conjunto do Bayern é muito bom e até lembra o nosso São Paulo de alguns anos atrás, dos tempos do Telê Santana. O nosso time tinha um elenco forte, com jogadores experientes. Aí chegou o Toninho Cerezo, que todo mundo achou que estava velho, mas foi de extrema importância e ganhou título. O time do Bayern é a mesma coisa. Mescla a juventude com a experiência. Isso tá dando certo. No time deles todo mundo faz gol, todo mundo marca, todo mundo joga…e quem entra não faz ninguém sentir saudades do companheiro que saiu. O conjunto do Bayern é muito forte.

O Brasil vive a era do sucesso de treinadores portugueses. Como você vê essa tendência?

Sempre que chegam ao Brasil treinadores e jogadores que trazem benefícios ao futebol brasileiro, isso é ótimo. O nosso futebol foi um dos maiores exportadores de craques e de treinadores para o mundo inteiro. Agora é o oposto. Estamos trazendo treinadores de outros países. No Flamengo e no Palmeiras isso deu certo. Mesclar essa experiência com outros treinadores que têm uma visão de futebol e de jogo em uma maneira diferente, isso é legal. Não por acaso os resultados vieram com o Jorge Jesus e o Abel Ferreira.

Como embaixador da Copa, o que mais tem chamado a atenção nesses preparativos?

Os estádios, sem dúvida. São impressionantes. Tem estádios com suítes, como se você estivesse em um hotel. A varanda do quarto dá para dentro de um campo de futebol. Então, você vai poder se hospedar dentro do estádio, com ar condicionado em todos os lugares. A facilidade do torcedor poder acompanhar dois ou três jogos no mesmo dia é incrível. É um país em que você não precisa viajar, trocar de hotel, pegar avião ou outro tipo de transporte É muita praticidade. Tudo fica perto. Mas para mim a modernidade dos estádios é o destaque.

Não precisar de viagem ajuda também os jogadores?

É benéfico não só para os jogadores, mas para os torcedores também. Todo muito vai se aproveitar disso, mas os jogadores também. Você ter de sair de uma cidade, vai para outra, pega um voo de três horas, muda de hotel, muda de local de treino, muda o estilo do gramado…isso atrapalha um pouco. E isso atrapalha também a torcida. Aqui todo mundo vai poder ficar hospedado 45 dias em um único lugar e com todos os jogos em estádios próximos Isso traz um benefício para todo mundo.

Você está no Catar acompanhando de perto o Palmeiras. Quais as suas lembranças do tempo que jogou pelo clube?

Joguei em um timaço. Fiquei lá de 1995 a 97. Até na época a torcida costumava apostar de quanto nós ganharíamos os jogos. Infelizmente, aquele elenco ficou pouco tempo junto. Cada jogador foi para um lado. O time não teve condições de jogar por mais tempo juntos, se não daria muito mais trabalho ainda.

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Bia Ferreira - (Foto: Reprodução, Instagram)