Seleção de futebol de cegos permanece há oito anos sem perder títulos

A última derrota foi para a Argentina, no Mundial de 2006, na casa do rival

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A última derrota foi para a Argentina, no Mundial de 2006, na casa do rival

É em um Centro de Treinamento (CT) da Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andef), longe da confusão dos grandes centros, no bairro de Rio do Ouro, em Niterói, que a Seleção Brasileira de futebol de 5 (para cegos) se concentra durante das fases de treinamento. Atletas e comissão técnica se encontram durante uma semana todo mês para realizar coletivos e treinos físicos.

A Seleção está invicta em partidas oficiais desde 2006. Até os Jogos Parapan-americanos do Rio, a equipe de cegos já havia conquistado dois grandes títulos: dois mundiais (1998 e 2002) e os Jogos Paralímpicos de Atenas (2004). De lá para cá, conquistou também o Parapan de Guadalajara (México, 2011), as Paralimpíadas de Pequim (2008) e de Londres (2012) e outros dois mundiais (2010 e 2014).

Manter essa invencibilidade não é fácil, afinal de contas, são quatro mundiais, três Paralimpíadas e dois Parapan-americanos na carreira. O melhor jogador do Brasil e do mundo, Ricardo Steinmetz Alves, o Ricardinho, de 26 anos, reconhece o favoritismo, mas reforça que jogo se decide dentro de campo. “Os resultados sempre aparecem dentro de campo. Se eu não estiver me preparando bem no dia-a-dia, ou seja, me alimentando bem, descansando, fazendo academia e treinando, não vou ter um bom rendimento”, comenta ala ofensivo.

Há mais ou menos três anos, a comissão técnica ganhou reforços com a contratação da nutricionista Vivian Paranhos e do fisiologista João Paulo Borin. Junto com o preparador físico, que já fazia parte da seleção, Luis Felipe Campos, todos pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), eles trabalham de forma integrada para melhorar cada vez mais os rendimentos os atletas.

O mais recente exemplo aconteceu no final do ano passado, para o Mundial realizado em Tóquio (Japão), eles alteraram a alimentação e a rotina de sono e de horário de treino dos atletas gradativamente para que fossem se adaptando ao fuso horário e à temperatura do país oriental. O trabalho deu tão certo que somando a preparação no Brasil mais os quinze dias de aclimatação no Japão foram fundamentais para a conquista invicta do tetracampeonato.

O segredo para se manter no topo

A cada nova conquista brasileira, a vontade dos adversários em quebrar a invencibilidade canarinha só aumenta. Para não perder o posto, é preciso se reinventar, pois a pressão é ainda maior com os Jogos Rio 2016 se aproximando. “Sabemos que um dia essa invencibilidade vai acabar, mas trabalhamos para prolongar esta data com metas, renovação dos atletas (desde o último título paralímpico, em 2012, já são seis os novos jogadores) e mudamos com frequência o esquema tático, pois nossos adversários sabem o nosso jogo”, conta o técnico Fábio Vasconcelos.

O técnico, que conquistou o ouro em Londres 2012 na posição de goleiro lista os adversários mais fortes “Em Toronto, o Paraguai e a Colômbia estarão brigando por uma vaga para Rio 2016 e, na competição do ano que vem, tem as equipes da China, Inglaterra, França e Espanha irão brigar de igual para igual com o Brasil”.

O ala ofensivo Jefferson da Conceição Gonçalves, o Jefinho, de 25 anos, começou na seleção na mesma época em que seu companheiro de posição. Os dois, que formam uma dupla de ataque conhecida por, durante as jogadas, “colar” a bola nos pés, estão na lista de convocados para os Jogos Parapan-americanos de Toronto (Canadá). A maior competição das Américas será entre os dias 07 e 15 de agosto, a seleção de Futebol de cegos entra em campo em busca do tricampeonato.

Apesar da importância do torneio continental, os esforços estão concentrados para os Jogos Paralímpicos do ano que vem. “Muitos dão a medalha como certa, mas é dentro de campo que resolvemos isso. Claro, iremos usar a nossa experiência de 2007 (Parapan) para saber lidar com a pressão de jogar dentro de casa”, avalia Jeffinho.

Ricardinho acrescenta o lado positivo de jogar no próprio país, “a pressão é maior, mas também temos mais apoio da família e dos amigos. Se estivermos focados, fazendo o nosso melhor, poderemos usar essa pressão a nosso favor”.

 

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