Seja no Face ou no WhatsApp, grupos virtuais unem campo-grandenses pelo gosto em comum
Tem grupo para todos os gostos, basta procurar
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Uma imagem rara, que desperta nostalgia, chegando a marejar os olhos dos saudosos. Ou uma reclamação, um desabafo do mal atendimento, da expectativa não alcançada, que restaura o sentimento de justiça. Coisas assim são possíveis se você participar de alguns grupos famosos entre os internautas campo-grandenses. Sinal dos novos tempos aperfeiçoado pela era das redes sociais, em que todos estão conectados virtualmente, mas afastados no dia a dia, elas, as comunidades virtuais, unem as pessoas pelo gosto em comum. E Campo Grande não ficou de fora, claro.
Aqui, por exemplo, a lembrança e a saudade pela ‘época de ouro’, na qual mesmo sem grande desenvolvimento, a qualidade de vida da cidade manda lembranças, é o mote do grupo ‘Anos Dourados Campo Grande-MS‘. Nela, são cerca de 2.800 pessoas que diariamente se deparam com imagens raras, relatos e lembranças, que numa espécie de quebra-cabeças remontam a história da capital sul-mato-grossense.
“Eu criei e convidei algumas amigas e a partir daí cada um foi convidando. Deu no que deu. Não tinha a menor ideia que esse grupo teria essa repercussão toda. Como cada um vai lembrando uma coisa, tem sempre conteúdo”, conta Mariam Kodjaoglanian Di Giorgio, 67, cirurgiã-dentista aposentada, que criou o grupo há três anos, em julho de 2013.
No espaço, as fotos inegavelmente ganham destaque. Cada postagem é um festival de cliques, que inspiram até matérias jornalísticas (como esta, publicada no Jornal Midiamax). Vêm de acervos pessoais, mas boa parte é do fotógrafo Roberto Higa, que dedica-se a documentar o crescimento da cidade ao longo dos anos. “Tenho registros bem antigos da cidade, mantenho todos os negativos. É um prazer ver as imagens circulando, pena que poucos dão o crédito”, afirma o fotógrafo.
Para entrar no grupo, basta procurá-lo no Facebook. O critério de publicação é simples e pouco criterioso. “Na verdade, eu me preocupo que não seja uma empresa, alguém que não esteja lá para fazer propaganda. o grupo é um momento de lazer para quem gosta dessas lembranças, então o único critério é que goste de contar e ouvir histórias, seja pelos relatos, seja pelas fotos”, aponta Marian, que divide a moderação com mais uma pessoa.
Da comunidade, além das antigas lembranças, celebram-se também as novas amizades. “É interessante como novos laços se fizeram. Teve gente que se reencontrou depois de décadas e novas amizades que se formaram. Inclusive, quando completou um ano de grupo, fizemos um encontro, veio até gente de fora. Tinha quase cinquenta pessoas. Quem não pode ir mandou uma garrafa de vinho, uma garrafa de uísque, flores, mensagens de carinho. Foi formidável”, conclui Marian.
Tiro, porrada e bomba
Já o grupo ‘Aonde NÃO ir em Campo Grande‘ une as pessoas por fins diferentes. Lá, o objetivo é reportar expectativas frustradas em relação a atendimento e qualidade de serviços. Funciona também como uma rede de reclamações, com possibilidade de réplicas, tréplicas. O patrão que for esperto, estará lá. O consumidor atento, também. E também funciona como uma rede de solidariedade, na qual os usuários podem apontar experiências ruins que quase sempre são compartilhadas com mais alguém, geralmente desconhecido.
Criado pela servidora pública Camila Ariosi, em janeiro de 2013, o ‘Aonde NÃO ir em Campo Grande’ já reune quase 72 mil clientes insatisfeitos. Segundo ela, a ideia é justamente dar voz a esse grupo, que quase diariamente traz um relato diferente.
O tom é cômico, também, porque as reclamações são sempre muito… espontâneas, digamos assim, no melhor esquema ‘papo reto’ ou ‘tiro, porrada e bomba’: “Fui no estabelecimento tal essa semana. Quem quiser comida fria, mesa grudando, moscas voando, cabelo no prato, pesos e medidas diferentes, proprietário grosso, e mais coisas pode ir lá”, traz uma das reclamações mais recentes.
“Compramos 3 televisores Smart e foi explicitamente explicado que queríamos compatível com NETFLIX, pois bem senhores, me venderam 03 TV da marca Philco a qual não aceita o NetFlix, abrimos protocolo na loja para reclamar, e a mesma não resolveu! Entramos na Justiça agora e estamos tendo o maior transtorno! Pois já houve duas audiências e eles alegam não concordar com a troca da mercadoria!!! Sendo assim, deixo aqui minha indignação a esse estabelecimento que não respeita o consumidor!”, traz outra reclamação.
E dá resultado. Algumas empresas acompanham as reclamações dos clientes e prometem resultados. Outras, no entanto, batem boca com eles. “É triste quando isso acontece, vejo o tempo inteiro. O empresário não entende que se retratar publicamente e consertar o erro pode trazer mais clientes”, considera Carlos Farias, há dois anos no grupo.
Dos primórdios
E muito, muito antes do Facebook se tornar a bola da vez nas relações virtuais, o Orkut também tinha sua ágora. Era a comunidade Campo Grande, que reunia mais de 80 mil pessoas. “Bom, era “10%” da população de Campo Grande e muitos campo-grandenses de fora. Como eu sempre fui opinativa, tinha um lance de discussão mesmo. Houve ameaças sérias, de alguém ir na porta da minha casa, que virou meu amigo depois. Eram madrugadas na internet e muitos amigos que foram gerados. Os xingamentos aconteciam sim, ainda mais quando você fazia algo cobrando as regras”, explica a jornalista Liziane Berrocal, que de tão envolvida nos grupos tornou-se uma web celebridade local.
A comunidade ‘Campo Grande’, no entanto, parecia ser a junção das duas anteriores. Além de fotos e relatos da cidade ‘das antigas’, também era espaço de compartilhamento de experiências – boas e ruins – com os membros. Claro, polêmicas eram uma constante, também. “O lance mais engraçado foi o da Kombi Branca. Um doido que escreveu sobre uma Kombi branca que era motel nos Altos da Afonso Pena, e o caso do Tertuliano, um ‘cara’ que gerou paixões, despertou amores e depois descobrimos que ele era fake, o que gerou muita revolta. Acredito que o dono do Tertuliano vai rir se ler isso aqui. Os barracos eram homéricos, nossa, incontáveis! Discutia-se de TUDO lá. TUDO mesmo”, revela Liziane.
Com o fim do Orkut, a comunidade ficou só na memória, mais uma coisa a se lembrar. “Tinha muitos barracos, polêmicas, mas meu melhor amigo até hoje eu conheci lá”, conta o funcionário público Hussein Cavalcante, hoje residindo em São Paulo. “Os recursos do Orkut eram menos, mas ainda assim, eram discussões intermináveis! Fiz amigos no Orkut que são amigos meus até hoje na comunidade, inclusive encontro alguns para conversar até hoje”, conclui Liziane.
A tendência
Para além das comunidades das redes sociais, os campo-grandenses também se organizam no que é uma verdadeira tendência, atualmente: os grupos de WhatsApp. Tem grupo de moradores de bairro, grupos de torcedores de times e até grupos de pessoas contra a Prefeitura, Câmara ou qualquer outra instituição. “Os grupos de WhatsApp permitem uma conversa mais espontânea, instantânea. A gente usa menos o computador hoje em dia, por isso eles estão tão fortes nos amartphones”, considera o estudante Flavio Augusto Oliveira, 19, criador do grupo ‘Notícias de Campo Grande’, que tem os volumens I, 2, 3, 4, 5, 6, e 7′ Tive que fazer vários porque o WhatsApp só aceita 200 e pouco, daí o que interessar ao pessoal de notícia da cidade, a gente vai compartilhando”, conclui.
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