Se encontrar emprego já é difícil, imagina para quem sofre preconceito

“Dia D” foi realizado para unir empresas e deficientes

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“Dia D” foi realizado para unir empresas e deficientes

Em cada conversa, uma história de superação e preconceito. Se procurar emprego para quem é dito “normal” já é difícil, imagina para quem é deficiente e alvo de discriminação. Para fazer a ponte entre empresas que tem vagas e as pessoas com deficiência em busca de colocação no mercado formal de trabalho, está sendo realizado durante esta sexta-feira (23), o “Dia D” na Funtrab (Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul). A ação é realizada dois dias depois do “Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes”. 

Nos bancos da Funtrab, esperando a vez de se cadastrar nas empresas, gente de todas as idades. De jovens procurando o primeiro emprego a quem já tem anos de estrada e fala sem medo: a discriminação acontece em todo lugar. 

Estudante de Pedagogia, Millena procura o primeiro emprego (Henrique Kawaminami)Em uma das pontas, começando a vida profissional, nervosa e ao mesmo tempo empolgada, está a estudante de pedagogia Millena Gomes da Silva, de 18 anos. Surda muda, ela conseguiu encaminhamento para uma vaga de assistente administrativo.

Sorridente, ela tenta chamar a interprete, profissional requisitada para fazer a ponte entre repórter e entrevistada. Nesse momento, vemos que se há preocupação desde cedo com o ensino de língua estrangeira às crianças, Libras, a (Língua brasileira de sinais) geralmente não é nem mencionada nas escolas: repórter e fotógrafo não sabem nem o básico. 

Escrevendo, Millena conta que é o primeiro emprego e que precisa trabalhar para melhorar a vida. Sobre o que espera no emprego, o objetivo é “crescer na empresa, mudar de setor e aprender uma profissão”. Questionada sobre a faculdade, ela diz que escolheu pedagogia “para ensinar as crianças”. 

Carlos Menon, 20 anos, é outro que poderíamos dizer que está começando a vida. Só dois anos mais velho do que Milenna, já teve uma ideia do que o espera. Com mobilidade reduzida, pois tem uma perna menor do que a outra e também não pode carregar peso, já percebeu que não vai ser nada fácil trabalhar na área escolhida.

O rapaz é formado em comércio exterior, mas até agora, o único emprego foi de caixa. “É uma área que não tem tanto emprego. Não tem muitas agências de exportação e ter deficiência atrapalha, já que é uma área com poucas vagas”. 

Airton diz deficientes enfrentam dificuldade para crescer no mercado de trabalho Aos 43 anos, Airton Nascimento de Oliveira, tem experiência e uma opinião formada. “Tem preconceito e as empresas raramente dão a oportunidade de um deficiente crescer. Ele entra num cargo e fica a vida inteira”. Oliveira teve poliomielite aos 5 anos e ficou com sequelas. Estudou em escolas regulares e fez faculdade de marketing em busca de conseguir melhores condições de emprego. 

“Ganhei uma bolsa do Prouni e fiz a faculdade achando que que ia conseguir uma melhora significativa, mas os empregos costumam ser abaixo da minha formação”. Peço para ele deixar um recado aos empresários: “Se por ventura um deficiente qualificado se candidatar, porque não dar uma oportunidade?”. 

Cássia Venize, 40 anos, também diz que o preconceito atrapalha e que falta sensibilidade nas pessoas. Ela tem perda auditiva e de visão, que já foi corrigida com um transplante de córnea, mas mesmo assim as vagas de emprego somem dela. 

“Eu sou uma ótima vendedora, mas eu tinha dificuldade em ouvir. Ai você não entende e pergunta de novo para o cliente e ele acha que você está se fazendo de boba. Sempre tem discriminação, são poucas as pessoas que entendem”, conta. 

Wagner é cadeirante há 8 meses e ainda está em fase de adaptação Aos 27 anos, Wagner de Souza tenta recolocar a vida nos trilhos. Cadeirante há oito meses, depois de levar um tiro, ele conta que “não tem mais essa de escolher” emprego, o que aparecer, ele encara.

“Não tem mais essa de escolher. Antes pegava qualquer emprego, não ficava parado. Mas, agora, por ser cadeirante, não tem como”. Wagner tenta agora mudar a vida e se cadastrou para a vaga de auxiliar administrativo. “Foram meses de depressão. Fiquei só o pó, mas agora, vou seguir a vida, voltar a estudar”. 

O coordenador de trabalho da Funtrab, Paulo Cesar Vilela, diz que o objetivo da ação é fazer a inclusão social de pessoas com deficiência. “Ainda há uma resistência das empresas. Então nesse dia, a Funsat fecha o atendimento geral e faz o atendimento destinado à pessoas com deficiência. É uma parceria entre o MTE (Ministério do Trabalho e emprego), a Funsat e as empresas. Desse jeito, fica mais fácil para a empresa e mais fácil para eles [quem busca emprego]. Já saem praticamente colocados”, explica. 

A expectativa da Funsat é atender aproximadamente 800 pessoas. São pelo menos 120 vagas oferecidas para diversos cargos como recepcionista, atendente, caixa, auxiliar de limpeza. O nível de escolaridade  vão desde o ensino fundamental ao ensino superior. 

O superintendente substituto do MTE/MS, Paulo Lissaraça explica que a ação e desenvolvida a nivel nacional para fazer cumprir a lei federal que determina a cota de contratação de deficientes nas empresas. “Quem fiscaliza a Lei Federal é o MTE, então chamamos as empresas dentro do perfil [que são as com mais de 100 funcionários] para comparecer e cumprir essa cota”, afirma. 

Qualificação

Do lado dos empregadores, a qualificação também é apontada como o diferencial. Rosângela Correa é coordenadora de gestão de pessoas da CCR MS Via e diz que a empresa foi participar da ação em busca de um candidato para uma vaga bem específica, de controlador. 

“É o nosso primeiro ano aqui e estamos trabalhando com uma triagem de possíveis candidatos e uma entrevista para identificar se há a possibilidade. O que já identificamos aqui, é que falta escolaridade e preparação para os candidatos. Toda a cadeia, Funtrab, Funsat, empregadores precisam conhecer as demandas das empresas e incentivar a qualificação”, destaca. 

Empresas e deficientes são colocados em contato (Henrique Kawaminami)

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