Mesmo com enunciados extensos e cansativos, o que já é considerado uma marca do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), professores de cursinho consideraram bem-elaboradas as provas de Linguagens e de Matemática, aplicadas neste domingo. De acordo com o diretor do Cursinho da Poli Gilberto Alvarez, o Ministério da Educação (MEC) reforçou nesta edição a tendência de exigir um “estudante leitor”, que sabe relacionar os fatos do cotidiano com os conteúdos do ensino médio.

“O Enem mostrou claramente o aluno que se espera do ensino médio, que se acredita que está pronto para o ensino superior. É um aluno sabe os conteúdos básicos e, principalmente, sabe fazer relações com o dia a dia, analisar gráficos, figuras, interpretar”, afirmou Alvarez. Segundo ele, essa tendência de valorizar a interpretação do texto não está inserida apenas nas questões de português ou literatura, mas também na matemática, com muitos gráficos e tabelas.

Para Célio Tasinaso, diretor-pedagógico do Cursinho Oficina do Estudante, as provas deste domingo estavam mais acessíveis em relação às de sábado, quando questões de física e de química foram alvo de críticas pelos estudantes por causa do nível de dificuldade. No entanto, ele lembrou que o Enem está se firmando como uma alternativa aos vestibulares tradicionais e que o nível de exigência está aumentando para dar conta de selecionar candidatos para as universidades federais.

“A prova foi mais difícil (do que em anos anteriores). Mas é uma prova necessária para selecionar. Se vou ter o Enem mesmo como grande vestibular, preciso de um tipo de cobrança maior de conteúdos”, defendeu Tasinaso.

Linguagens

De acordo com o coordenador da Oficina do Estudante, a prova de Linguagens apresentou questões longas e cansativas. “É uma prova bonita, bem feita, mas acaba pecando pela virtude. Passa por todos os gêneros textuais e acaba sendo cansativa demais para os candidatos, que ainda precisam fazer a redação”, afirmou Tasinaso.

A professora Elisa Massaranduba, do cursinho Objetivo, concorda que o nível estava mais exigente este ano. “A prova de Linguagens não foi fácil, a quantidade de textos era grande, com vocabulário mais complicado, tivemos 11 páginas só de português. Mas é uma prova bem feita, com textos desde descoberta do Brasil, passando por charges, tirinhas, bem diversificada. Mas como sempre, longa, pesada”, afirmou.

Para a professora de português Eva Albuquerque, do Cursinho da Poli, as questões cobraram mais conhecimento e capacidade de interpretação dos alunos. “Os candidatos não precisavam ter lido Machado de Assis, por exemplo, mas tinham de ter muita atenção com o enunciado, precisavam mostrar-se como ótimos leitores”, disse a educadora ao reforçar que esse “ótimo leitor” é o perfil de estudante que o MEC busca nas suas avaliações.

Em inglês e espanhol, as questões também foram consideradas bem feitas pelos professores, mas com alguns textos com maior nível de exigência do que em anos anteriores. “Percebemos a presença de vocabulário mais técnico em inglês, caíram palavras de duplo sentido, bem acadêmico”, disse Elaine Callegari, do Objetivo. Para quem optou por espanhol, ela afirmou que foi exigido maior conhecimento da língua por causa de expressões idiomáticas.

Matemática

Nas 45 questões de matemática, os professores de cursinho elogiaram a abrangência de conteúdos cobrados. “Não houve questões específicas de determinado assunto, mas coisas básicas, como calcular volume, área, escala de mapa, conceitos básico de probabilidade. Foi uma prova bem prática, exatamente a intenção que tem o Enem, que é de ver se o aluno que consegue interpretar”, disse Gregório Krikorian, professor do Objetivo.

Apenas exagero em contas com muitas casas decimais, o professor do Cursinho da Poli Eduardo Izidoro, disse que foi uma boa prova. “Os alunos sempre vão reclamar da matemática, mas o nível de exigência estava dentro do previsto. Acho que o único problema foi o tempo, curto para questões tão longas”, afirmou.

Redação

Também neste domingo, os estudantes fizeram a prova de redação, que foi elogiada tanto pelos especialistas consultados pelo Terra quanto pelos estudantes após a saída dos locais de prova. O tema sobre os efeitos da Lei Seca no Brasil foi considerado atual e acessível para os candidatos.

Enem

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado há 15 anos e se consolidou como um dos índices de avaliação da educação brasileira e também como principal meio de acesso às universidades públicas do Brasil. Atualmente, apenas duas das 10 principais instituições federais ainda não adotaram a prova para ingresso por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – situação que, seguindo a tendência atual, deve atingir 100% de adesão nos próximos anos.

Em 2013, foram mais de 7 milhões de inscritos, que podem concorrer a cerca de 1,1 milhão de vagas em instituições públicas e privadas por meio do Sisu, do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

As provas ocorreram neste fim de semana, sábado e domingo. No primeiro dia, foram aplicados os testes de Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Os candidatos tiveram quatro horas e trinta minutos para resolver as questões. Já no segundo dia foram resolvidas as questões de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias e Redação. No domingo, em virtude da Redação, os candidatos tiveram uma hora a mais para terminar o exame.

O gabarito oficial do Enem 2013 será divulgado na página do Inep, órgão responsável pela realização do exame, até o dia 30 de outubro. Até lá, você pode conferir abaixo a correção comentada pelos professores do Cursinho da Poli, ou neste link o gabarito extraoficial de todas as provas sugerido pelos professores do Sistema Ari de Sá, que também comentam as provas em vídeo.