A alta na inflação da alimentação do Brasil bateu recorde e tem feito famílias reduzirem itens no carrinho do mercado ou gastar mais. No ramo das marmitarias, os proprietários têm feito um verdadeiro ‘malabarismo' com as contas fixas do negócio e as compras para conseguir se manter e não repassar o valor mais caro ao cliente em .

Guilherme Alonso tem uma empresa na Vila Sobrinho há quatro anos, mas percebeu que o cliente tem preferido comprar marmita de tamanho intermediário, nem a mais cara e nem a mais barata. Para garantir a clientela, tem oferecido desconto no pagamento quando o comprador é ‘fiel'. Entretanto, a margem de lucro já reduziu cerca de 20% neste mês.

“Não consigo repassar os valores na mesma medida que o [ no] mercado vai aumentando. O último [reajuste no preço da marmita] fizemos em dezembro, então não consigo aumentar de novo para o cliente em março. Reduzimos nossa margem de lucro, senão o movimento cai demais”, explica.

A qualidade do produto conta, ou seja, em vez de trocar a marca ou fornecedor, Guilherme deixou de adquirir. Outra estratégia para continuar com o negócio aberto foi suspender a compra de legumes, que bateram recorde de alta este ano.

“Antes, uma marmita só de legumes vendia mais barato, hoje em dia é mais caro porque o quilo do arroz é R$ 5 e da cenoura é R$ 13.  Não tem como deixar de gastar, se eu quiser entregar para o cliente tenho que gastar. A marmita mais em conta é R$ 12 e a caprichada é R$ 20, nossa estratégia é reduzir as opções de guarnição e aumentar a variedade de proteína, com a quantidade menor também”.

Marmitas de feijoada, churrasco e massas são as mais caras. (Foto: Leitor Midiamax)

Os gastos não atingem necessariamente apenas a comida, mas o gás de cozinha, o combustível da entrega e o salário dos funcionários. Kelly Pereira abriu a cozinha no início da pandemia, como maneira de se reinventar no mercado, no bairro Jockey Club. Ela também tem deixado de comprar itens e alterou o cardápio.

“Na última sexta-feira (25), queria fazer um vinagrete, assustei com o quilo do tomate R$ 13 perto daqui. O repolho, que era uma coisa tão barata, está R$ 10 o quilo. O cliente não entende, acha que cobramos muito caro, mas estamos segurando o preço o máximo possível. Não é só a cesta, é a embalagem para a marmita não vazar, a água, o gás, o pote de salada. No domingo (27), eu abri o delivery, as pessoas acharam caro a taxa de entrega, mas a está lá em cima, não trabalho com entregador próprio, mas uma empresa de entrega, e eu jogo o endereço, a corrida mínima é R$ 6, esse valor é tabelado no serviço da empresa”, disse.

A parceria de fornecedores está contando na hora de abrir, Kelly explica que precisa pegar produtos fiado. Os únicos dias que precisa aumentar o valor da marmita é nos fins de semana que prepara especialidades, como a feijoada e parmegiana. Afinal, não há como manter o padrão de qualidade sem pesar o bolso.

“A gente tem que contar com os parceiros, tenho fornecedores de gás no bairro e ela me entrega de manhã e eu pago no fim do dia. Ela me dá um tempinho para que eu trabalhe, venda e pague em seguida, porque muitas vezes começamos o dia sem ter dinheiro no caixa, principalmente eu que tenho empresa pequena. Um dia faço e no outro frango, panqueca, batata. Estamos usando a criatividade no momento de crise. Eu não tenho mais expectativa de um dia baixar [preços], cada dia os preços aumentam”, lamenta.

No outro canto da Capital, na Vila Popular, José Souza de Oliveira já vai para o terceiro reajuste no valor do cardápio do ano. As marmitas variam de R$ 13 a R$ 25, e o churrasco é mais caro, devido ao preço da carne bovina.

“Até difícil substituir um produto pelo outro porque está tudo caro de forma geral. Até 2020 fazíamos um reajuste por ano, sempre em janeiro, em 2021 fizemos duas vezes, agora, estamos pensando em aumentar de novo, pela terceira vez porque os valores estão bem salgados”.