Apesar de tombo no exterior, dólar recua apenas 0,09% no mercado doméstico

A cautela com o ambiente fiscal doméstico e ajustes no mercado futuro de câmbio impediram que o real se beneficiasse de forma ampla da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, após dados fracos de atividade e arrefecimento da inflação nos EUA reforçarem a aposta em aperto monetário menor pelo Federal Reserve. Também teria […]

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Com oscilação de cerca cinco centavos entre a máxima (R$ 5,2176) (Agência Brasil)

A cautela com o ambiente fiscal doméstico e ajustes no mercado futuro de câmbio impediram que o real se beneficiasse de forma ampla da onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior, após dados fracos de atividade e arrefecimento da inflação nos EUA reforçarem a aposta em aperto monetário menor pelo Federal Reserve. Também teria contribuído para limitar o fôlego do real o tombo do Ibovespa, em meio ao resultado abaixo do esperado do PIB brasileiro no terceiro trimestre.

Com oscilação de cerca cinco centavos entre a máxima (R$ 5,2176) e a mínima (R$ 5,1643), o dólar à vista encerrou a primeira sessão de dezembro em baixa de apenas 0,09%, cotado a R$ 5,1971. Apesar da oscilação modesta, a moeda marcou o quarto pregão consecutivo de queda. Na semana, a divisa acumula desvalorização de 3,94% e se situa abaixo de R$ 5,20, após fechar na sexta-feira passada na linha de R$ 5,41.

Operadores ressaltam que a venda de US$ 2 bilhões em leilão de linha de venda com compromisso de recompra pelo Banco Central contribuiu para aumentar a liquidez no mercado spot e, provavelmente, atendeu à demanda típica de fim de anos para remessas de recursos. No mercado futuro, o contrato de dólar para dezembro operou em alta a maior parte do dia, em aparente movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas.

Para o CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, o mercado local experimenta um “dia de ressaca” hoje, após o rali de ontem em meio a um forte apetite ao risco no exterior, na esteira de declarações do presidente do BC americano, Jerome Powell. “Havia medo de que Powell viesse com uma retórica mais forte. A meu ver, ele não mudou muito, mas o mercado teve a interpretação de que o discurso não foi tão duro. O real apreciou bastante e hoje está sem força, com o Ibovespa devolvendo parte da valorização de ontem”, diz Jolig, ressaltando que os ativos locais tiveram bom desempenho até aqui nesta semana, apesar das preocupações com as incertezas fiscais domésticas e a expectativa sobre quem será o futuro ministro da Fazenda.

Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – caiu mais de 1%, e furou a linha dos 105 mil pontos, com perdas de quase 2% da moeda americana frente ao iene e baixa ao redor de 1% em relação ao euro. Ao aceno de alta menor dos juros em dezembro feito pelo presidente do Fed ontem se somaram hoje indicadores que sugerem desaceleração da economia e da inflação nos EUA, o que aumenta a expectativa para a divulgação, amanhã, do relatório de emprego (payroll) americano em novembro.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, apesar de o real ter se beneficiado em parte ontem do ambiente externo positivo, a formação da taxa de câmbio é muito mais influenciada por questões domésticas. Lima ressalta que o real já se valorizava ontem antes da fala de Powell diante da perspectiva de desidratação da PEC da Transição, após informação de que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), teria dito ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva que, do jeito que está, a PEC não passa no Congresso. A proposta prevê gastos extrateto de R$ 198 bilhões e retirada do Bolsa Família da regra do teto por quatro anos.

“É claro que uma fala de Powell mexe com preços no mundo inteiro Mas o que mexe mais aqui é o fiscal. Mesmo se a PEC for reduzida para R$ 150 bilhões, teremos expansão fiscal e estímulo à demanda em uma economia ainda aquecida, o que aumenta o risco inflacionário”, diz Lima, ressaltando que o país vai sair de um cenário de superávit primário de 1% do PIB neste ano para déficit por volta de 1,5% em 2023. “E isso tudo sem nenhuma regra fiscal para ancorar de controlar a trajetória da dívida. Isso bate no câmbio e principalmente nos juro futuros como aumento de risco”.

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