Conta de luz mais cara deve elevar inflação em 0,5 ponto

A escassez é apontada como um dos principais motivos para os reajustes

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(Foto: Agência Brasil)
(Foto: Agência Brasil)

O aumento na conta de luz deste ano deve atingir uma média de 14% no país, acima do esperado por analistas, adicionando 0,5 ponto percentual à inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 2018.
Nesta segunda-feira (3), a Aneel (agência reguladora do setor elétrico) autorizou um reajuste ainda mais salgado nas contas da Eletropaulo: 15,84%, valor que passa a valer já nesta quarta-feira (4).
Tal como nas tarifas dos demais estados, a alta da distribuidora paulista ficou acima das projeções -que giravam entre 9,1% e 11,5%-, o que acabou pesando bastante no movimento de elevação das previsões de tarifa para o ano.
A avaliação geral é que a energia elétrica seguirá nos próximos meses como um dos principais fatores de pressão inflacionária, ainda que a inflação, de modo geral, esteja em níveis considerados baixos. Em 12 meses, até junho, o IPCA gira ao redor de 3,7%.
Um ponto importante é que, bastante superiores à inflação, os preços da energia elétrica pesam muito no bolso do consumidor, em especial o de baixa renda. O que faz com que ele sinta menos a inflação cheia em níveis mais baixos.
Só o reajuste da Eletropaulo deverá adicionar 0,14 ponto sobre o IPCA de 2018, a maior parte disso sentida em julho, diz Thiago Curado, economista da consultoria 4E.
Isso após a taxa de inflação prévia mais alta registrada em junho nos últimos 20 anos, influenciada também pela paralisação dos caminhoneiros, iniciada no fim de maio.
Desde o fim do ano passado, o mercado já previa reajustes fortes nas tarifas das distribuidoras de energia, mas as altas têm superado as projeções.
A consultoria GV Energy projetava alta de 10% na tarifa média para o Brasil neste ano.
Segundo Helder Sousa, diretor da TR Soluções, a expectativa era de um aumento de 9,4%, percentual que foi revisado para 14% após os últimos reajustes autorizados.

FALTA DE CHUVAS

A escassez hídrica é apontada como um dos principais motivos para os reajustes mais acentuados.
Quando a geração de energia hidrelétrica fica abaixo do projetado, as distribuidoras precisam compensar o déficit comprando energia no chamado mercado de curto prazo -no qual o preço é volúvel e, em geral, mais caro, pois implica o acionamento de usinas termelétricas.
As chamadas bandeiras tarifárias (adicionais na conta de luz) são um mecanismo para compensar esses gastos extras das distribuidoras e antecipar o reajuste, de forma mais parcelada, já que as bandeiras são aplicadas mês a mês.
“A restrição hídrica, porém, foi tão forte que as bandeiras não foram suficientes para compensar esse maior acionamento das térmicas”, afirmou Pedro Machado, sócio da GV Energy.
Na prática, o atual reajuste na conta de luz da Eletropaulo chegaria a quase 23% se não fossem pelos valores adicionais que já têm sido cobrados por meio das bandeiras tarifárias nos últimos meses.
Outro componente determinante para os fortes aumentos é a elevação do preço pago pelas distribuidoras para comprar energia.
Isso se deve em parte por um erro de projeção das distribuidoras na hora de dimensionar a demanda por energia, afirma Laura Souza, da área de energia do Machado Meyer.
“Houve um cálculo modesto da necessidade de compra de energia no passado, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, onde os reajustes foram mais altos”, diz ela.
Essa compra de energia ocorre em leilões, organizados pelo governo, e nos quais a distribuidora tem a opção de participar ou não -em geral, são fechados contratos para a entrega de energia em prazos que variam de dois a seis anos.
Cabe à distribuidora gerenciar a aquisição de mais ou menos contratos para atender a demanda futura, embora as empresas não tenham controle total da energia que será comprada, pois não escolhem os termos do leilão.
Quando essa equação não é feita com eficiência, a empresa pode ter sobras ou escassez de energia para abastecer a população -nesses casos, pode ter gastos extras e repassar parte do erro de cálculo à conta de luz.
O aumento do custo de compra da energia foi justificado pelo diretor da Aneel, André Pepitone, pela alta do dólar, que elevou o preço da energia comprada da usina de Itaipu, e por uma revisão tarifária ocorrida recentemente.
Um terceiro fator relevante para o aumento é a alta dos subsídios que estão incluídos na conta de luz -que custeiam desde tarifas sociais para famílias pobres até a compra de combustível fóssil para gerar energia em regiões isoladas no Norte do país.
Um dos subsídios que mais pesou no aumento no último ano foi aquele dado às fontes de energia renováveis, como a eólica, afirma Machado, da consultoria GV Energy.

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