Iagro investiga morte de javalis com suspeita de febre aftosa em MS

Vídeo de animais mortos e efeito dos rumores preocupam produtores

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Vídeo de animais mortos e efeito dos rumores preocupam produtores

Um vídeo que circula na internet tem deixado pecuaristas e autoridades sanitárias de Mato Grosso do Sul apreensivos quanto a possibilidade de um foco de febre aftosa. O vídeo em questão traz o diálogo de homens descrevendo sintomas de febre aftosa em um javali doente, supostamente na cidade de São Gabriel do Oeste, a 145 km de Campo Grande. A filmagem foi postada por uma fanpage dedicada a mapear a incidência de javalis pelo Brasil.

De acordo com a fanpage, uma equipe da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) chamada Gease (Grupo Especializado de Atendimento a Vigilância Sanitária) e uma do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) teriam ido a São Gabriel do Oeste fazer a inspeção in loco da denúncia. A informação foi confirmada pelo órgão estadual, porém, num contexto um pouco diferente.

“Enviar equipes para averiguar denúncias é um protocolo padrão. Isso é normal, é um procedimento de rotina. É até importante que haja essas denúncias para nós procedermos com a investigação e possamos mostrar que em Mato Grosso do Sul não há febre aftosa”, afirma Luciano Chiochetta, diretor-presidente da Iagro. Segundo ele, em 2016 já foram realizadas seis denúncias de focos de doenças em rebanhos, porém, nenhuma foi confirmada após as investigações. 

Chiochetta também questiona a forma como a denúncia chegou até à entidade, bem como o conteúdo da filmagem. “O vídeo não traz indícios de que o animal tenha sintomas. Existe todo um procedimento clínico para identificar doenças, não basta por o olho. Além disso, quem publicou deveria ter notificado a Iagro, que é o órgão de defesa do Estado, e não postar o vídeo na internet causando pânico”, considera.

 

 

A equipe da Gease que está em São Gabriel do Oeste também é acompanhado por uma Superintendência de Inteligência da Iagro, coordenada por um delegado de polícia, de acordo com o órgão, que afirmou que a comitiva teve apoio da polícia civil local para verificar a situação. “Mas a gente não sabe nem se esse vídeo foi filmado lá. Por isso também estamos verificando até IP do vídeo, localização geográfica do celular que supostamente filmou, para tentar confirmar se há veracidade na denúncia”, declara a vice diretora-presidente da Iagro, Marina Dobashi, que também contesta a existência de evidências. “O vídeo não tem imagem da cabeça do animal, das pústulas… Não se identifica sintoma de aftosa ali”, acrescenta.

A reportagem entrou em contato com Rafael Salerno, responsáveis pela fanpage ‘Aqui tem javali’, que postou o vídeo. Segundo ele, um dos membros do coletivo, que mora em Mato Grosso do Sul, fez o vídeo e enviou para a fanpage, que fez a publicação e o alerta. “Nós somos um grupo com membros em todo o Brasil que se dedica a identificar a presença de javalis e híbridos em áreas de pastagem e lavoura e que espera do poder público uma gestão de fauna para diminuir os prejuízos que temos. Logo, tudo que é relacionado a javali vai para a fanpage e com esse vídeo não foi diferente. A gente espera que não seja nada, até porque sabemos que são necessários exames clínicos para a confirmação”, afirma Salerno.

Segundo ele, as equipes enviadas pelo Iagro já localizaram a pessoa que fez a filmagem, que teria sido conduzida até a delegacia para prestar esclarecimentos. “Eu acho um certo abuso, porque o camarada não tem nada a ver com isso. Pelo contrário, ele identificou uma situação atípica e deu conhecimento. A coisa mais séria a ser feita é encontrar o animal doente e a propriedade para se fazer um exame no local”, considera.

Para Salerno, que frequenta fóruns e audiências públicas sobre a presença de javalis na fauna brasileira, Mato Grosso do Sul é um dos Estados mais atingidos pela incidência destes animais. “O que nós queremos é que o poder público crie soluções para diminuir os prejuízos. Esse animal hoje é gerido pelo Estado e o nosso papel é fiscalizar”, concluiu.

A reportagem buscou contato com o suposto autor do vídeo, mas as ligações não foram atendidas. De acordo com o diretor-presidente da Iagro, provavelmente nesta sexta-feira um pronunciamento oficial da entidade, com um possível laudo da investigação, deva ser anunciado.

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