Com aumento em papel e dólar, vendas de produtos gráficos têm queda de 30% na Capital

Cenário encarece custos e produtos repassados ao consumidor

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Cenário encarece custos e produtos repassados ao consumidor

O aumento médio de 24% no preço do papel que passou a vigorar neste ano somado a alta de custos fixos e a desvalorização cambial encareceu os custos com a indústria gráfica. Em Mato Grosso do Sul, os comerciantes estão sentindo no bolso a mudança cambial e os reflexos da inflação. Com uma queda de 30% nas vendas, as empresas estão diminuindo os estoques para não ter prejuízo.

A alavancada de 24% nos preços do insumo foi aplicada pela principal indústria do país, Suzano Papel e Celulose, e seguida em todos os Estados. Esse aumento encareceu todos os produtos gráficos, como cadernos, livros, calendários, embalagens de alimentos e remédios, dentre outros.

Com a crise econômica, muitos donos de empresas de outros setores, que investiam nos famosos brindes (calendários de mesas, bloquinhos de anotação e agendas) para os funcionários, diminuíram e até passaram a não adquirir os produtos.

“O faturamento das empresas do Estado diminuiu em torno de 30% nos últimos meses. A explicação é um conjunto de fatores. A matéria-prima, o papel, que vem do Estado de São Paulo já vem com valor 24% maior, o dobro da inflação no ano passado, que foi de 12%. A política fiscal faz com que não haja investimento, com isso qualquer empresário fica retraído em fazer investimento. O desemprego também está cada dia maior”, afirma o presidente do Sindgraf (Sindicato das Indústrias Gráficas) e Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), Julião Gaúna.

Outro problema é a cotação do dólar. “A mudança cambial também influencia e atrapalha o mercado interno. O dólar se transforma num vilão. E isso para muitos setores, não apenas para a indústria gráfica, uma vez que a economia como um todo está recessiva”, diz ele.

 

A coordenadora de atendimento da Gráfica Alvorada, Franciely Macena, aponta um reajuste de 20% nos valores aplicados na empresa. “No ano passado ainda conseguimos segurar, mas com a alta do papel e da chapa, que vem de fora e é cotada no dólar, não teve jeito, nós tivemos que reajustar”, afirma.

Segundo ela, a procura por calendário diminuiu e o estoque de papel também. “Em dezembro do ano passado vendemos bastante bloco, agenda, principalmente, para instituições e faculdades. Tivemos até que fazer o estoque grande, mas depois disso acabamos comprando toda semana. Não tem como estocar. A demanda por calendário, especialmente, entrou em desuso nos últimos anos por causa do celular. As pessoas não têm mais hábito de anotar em calendário”, aponta.

Menor estoque

Proprietário da DRP Produtos Gráficos Cia, Frederico Almeida, está há 13 anos no mercado. “A gente vem sentindo desde agosto para cá essa diminuição nas vendas. É natural uma queda de dezembro ao Carnaval, mas o volume de negócios, de fato, diminuiu de 20% a 30%, provavelmente reflexo da dificuldade que o Brasil está passando, principalmente, quanto ao dólar. A área gráfica surte reflexo direto da cotação da moeda. Antigamente, a gente aproveitava para fazer compra e ter mercadoria em estoque, agora é melhor segurar”, explica.

A inadimplência também afeta o setor. “Com a crise, muitos clientes têm dificuldades por causa do alto índice de inadimplência, isso reflete nas vendas. Com isso, precisamos readequar os custos ao novo mercado. Quando foi anunciado o aumento do papel, nós aproveitamos para reforçar os estoques, e hoje ainda temos estoque para dois meses”, cita o proprietário da Regional Papéis e Produtos Gráficos Zélio Almeida.

Três Lagoas é a capital do Estado quando o assunto é celulose. As maiores fabricante de celulose do mundo, a Fibria e a Eldorado, estão instaladas na cidade. No entanto, a cidade não produz papel, apenas envia a celulose para o mercado interno e externo.

Aposta

Com a crise, as indústrias gráficas estão apostando na melhor gestão. “O caminho é desenvolver a gestão cuidando dos custos operacionais. Nós orientamos os associados a não construir dívidas porque não podemos prever se vai ter faturamento para cobrir. Não dá pra sair fazendo empréstimo ou aumentando o estoque, porque estamos em um momento difícil”, alerta o presidente da Abrigaf e Sindgraf do Estado.

Além do menor estoque, outra saída para o comerciante Frederico Almeida, que trabalha há mais de 30 anos no setor é no repasse do valor. “Nós estamos fracionando na hora de passar os aumentos, ou seja, passando aos poucos”, explica. 

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