Por que o chocolate está cada vez mais caro no mercado mundial

Crescimento do consumo na China e pragas em lavouras de cacau pressionam o preço do produto 

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Crescimento do consumo na China e pragas em lavouras de cacau pressionam o preço do produto 

Mais do que nunca, os doces beijos do dia dos namorados sairão caro este ano. Ao menos se depender dos chocolates.

O preço do cacau, principal ingrediente da maioria dos chocolates, aumentou bastante no ano passado, obrigando os produtores a aumentar os preços e encolher as porções. De acordo com os analistas, a principal causa é o crescente apetite pelo chocolate na China e em outros mercados asiáticos – particularmente do tipo escuro, que é feito com mais cacau.

“O principal fator na alta do preço é a crescente demanda por cacau na Ásia, embora essa tenha sido bastante forte na Europa e América do Norte”, disse Edward George, diretor de pesquisa em soft commodities do EcoBank.

Outro fator é o harmattan, vento seco e cheio de poeira que começou a varrer os principais países produtores de cacau da África Ocidental em dezembro, início da temporada ideal de colheita do cacau. O harmattan foi pior do que o habitual esse ano.

Os pés de cacau também foram atacados pela vassoura de bruxa e monilíase, fungos que podem causar sérias perdas. O preço médio em dólares por tonelada de cacau era US$ 2.921,05 no mês passado, de acordo com a Organização Internacional do Cacau.

Isso representou pequena alta em relação ao ano anterior – mas manteve-se abaixo do auge observado em agosto – US$ 3.270,27 -, que refletia o temor que o Ebola pudesse prejudicar a colheita de cacau na África.

Várias das maiores empresas de chocolate se recusaram a fazer comentários a respeito dos efeitos do alto preço do cacau para suas atividades. Mas Hershey, Mondelez International e a suíça Lindt & Sprüngli, dona da Russel Stover, aumentaram seus preços em até 8% no ano passado para compensar o custo do cacau. A alta nos preços da Hersheys afetou todos os produtos da empresa.

“Assim como outras empresas da indústria do chocolate, a L&S teve de fazer ajustes de preços ocasionais em alguns produtos durante 2014 para absorver parte dos desafios no custo da matéria prima – ainda que tentemos inicialmente compensar por tais desafios com aumentos no volume e na eficiência”, disse a diretora de comunicações corporativas da Lindt & Sprüngli, Sylvia Kälin, via e-mail. A fabricante dos chocolates M&Ms e Milky Way, Mars, também anunciou planos de aumentar os preços. Sylvia disse que, até o momento, os consumidores não puniram a empresa pela alta nos preços.

Dados da firma de pesquisa de dados de consumo Nielsen indicam os aumentos nos preços. Embora a quantidade de chocolate comprada pelos americanos no ano passado tenha aumentado 1,2%, chegando a quase 1 milhão de toneladas, o valor pago pelo chocolate teve alta de 2,6%, chegando ao total de Us$ 13,6 bilhões.

A Mondelez, dona de diversas marcas que usam chocolate, como Cadbury, Milk e Lu, não teve tanta sorte. Ela foi a primeira a aumentar os preços na primeira metade do ano passado, e os varejistas europeus se recusaram a jogar seu jogo. Isso levou ao que a diretora executiva da Mondelez, Irene Rosenfeld, descreveu em agosto numa conference call como “disputas prolongadas e perdas de distribuição no curto prazo”.

George, o analista de commodities, disse que a reação foi surpreendente. “Várias empresas ficaram chocadas ao ver que os consumidores simplesmente procuraram chocolate mais barato, ou pararam de consumir o produto”, disse ele.

Em seguida, a empresa causou certa indignação no final do ano ao anunciar que não produziria mais as moedas de chocolate – embora isso não tenha sido nada diante das queixas do mês passado, quando a empresa disse que faria ajustes na fórmula dos Cadbury’s Creme Eggs (nos EUA, os Creme Eggs são feitos pela Hershey e, por isso, não serão afetados).

A Mondelez anunciou que a casca dos ovos de chocolate não seria mais feita com o Cadbury Dairy Milk, usando em vez disso “um tradicional leite achocolatado Cadbury padrão”, de acordo com a porta-voz da Mondelez, Valerie Moens. O achocolatado Dairy Milk possui alto teor de leite, e o preço do leite aumentou bastante no ano passado.

A Mondelez também reduziu de seis para cinco o número de Creme Eggs por embalagem. Embora a Mondelez tenha indicado um preço um pouco mais baixo pela embalagem menor, os varejistas determinam o preço final. E, essa semana, a Mondelez anunciou que venderá uma versão mais fina de suas barras de chocolate orgânico Green & Black, na esperança de dar aos consumidores uma opção de preço mais baixo.

Em reunião trimestral com analistas na quarta feira, a Mondelez anunciou que US$ 1,6 bilhão de sua renda decorreu dos preços mais altos, principalmente por causa do alto preço do cacau.
Mas isso não foi o bastante para compensar o custo mais alto da commodity empregada porque os preços mais altos levaram as vendas a cair.

Analistas de investimento pressionaram Irene, questionando sua estratégia. David Driscoll, do Citi Research, disse que a quantidade de chocolate vendida pela empresa na Europa no ano passado teve queda de “mais de 10%” e outras empresas pareciam não ter sofrido tanto. “Por que esses concorrentes não estão seguindo a tendência?”

“A realidade é que alguns de nossos concorrentes multinacionais demoraram um pouco mais para responder com preços mais altos, e isso jogou certa pressão sobre nós”, disse Irene. Ela disse esperar que os preços mais altos da concorrência alcancem os da Mondelez durante o primeiro semestre do ano. “Sem dúvida, a diferença é maior do que gostaríamos que fosse”, disse ela. “Vamos manter o rumo atual.”

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