Economia brasileira recua 0,2% no 1º trimestre de 2015, diz IBGE

Apenas a agropecuária mostrou alta em relação ao trimestre anterior

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Apenas a agropecuária mostrou alta em relação ao trimestre anterior

A economia brasileira registrou queda de 0,2% no primeiro trimestre de 2015, puxada pelo desempenho negativo do setor de serviços e da indústria, bem pelo recuo do consumo das famílias e dos investimentos. Neste início de ano, o que evitou um tombo ainda maior do PIB foi a agropecuária.

Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (29).

Em valores correntes (em reais), a soma dos bens e serviços produzidos no período chegou a R$ 1,408 trilhão.

Frente aos três primeiros meses do ano passado, a queda foi ainda maior, de 1,6%, com destaque para a primeira queda do consumo das famílias desde o terceiro trimestre de 2003.

O PIB acumulado em quatro trimestres até março registrou queda de 0,9%, a maior desde o terceiro trimestre de 2009, quando o recuo foi de 1,3%. 

 

Desempenho de cada setor

Pelo lado da produção, o resultado negativo nos primeiros três meses deste ano foi puxado pela queda de 0,7% no setor de serviços, que representa mais de 60% do PIB brasileiro. Seguindo o mesmo comportamento, a indústria também recuou em relação aos três últimos meses de 2014, mas em um ritmo menor, de 0,3%. Na agropecuária, a alta foi de 4,7%.    

“Na parte negativa [pela ótica da produção], está a produção e distribuição de eletricidade, gás e água, já que estamos tendo redução no consumo de água e, além disso, estamos, desde o segundo trimestre do ano passado, usando muito mais as térmicas do que vínhamos usando antes, e isso afeta negativamente também”, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

O consumo das famílias, também usado no cálculo do PIB, pela ótica da demanda, caiu 1,5% – a maior retração desde o último trimestre de 2008, quando a baixa foi de 2,1%.

Os investimentos e os gastos do governo mostraram queda de 1,3% (ambos). No setor externo, os resultados foram positivos. Enquanto as importações cresceram 1,2%, as exportações tiveram expansão de 5,7%.

 

Retrato de 2014

Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda do PIB foi ainda maior, de 1,6%. A maioria dos setores teve resultados mais negativos que os vistos na comparação com o quarto trimestre de 2014.

Enquanto os serviços recuaram 1,2%, puxados pela forte queda no comércio, a indústria encolheu 3%, influenciada pela diminuição da produção de veículos no país. Apenas a agropecuária registrou resultado positivo, de 4%, com avanço de culturas como de soja e arroz. 

“A queda de 7% na indústria de transformação foi a que mais puxou a indústria para baixo. E olhando por dentro da indústria de transformação, toda a indústria automotiva teve queda nesse trimestre, desde a parte dos automóveis. A gente teve suspensão dos incentivos fiscais, a própria renda comprometida das famílias. A própria parte da indústria pesada, caminhão, que é considerada investimento, afeta diretamente a taxa negativa dos investimentos… também teve queda, influenciado por aumento de juros, o crédito nesse setor”, afirmou Rebeca.

Pela ótica da demanda, o destaque ficou com o consumo das famílias, que, ao recuar 0,9%, registrou a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2003 nessa base de comparação.

O desempenho é explicado pela “evolução negativa dos indicadores de inflação, crédito, emprego e renda ao longo dos três primeiros meses do ano”, de acordo com o IBGE.

“A gente teve aumento de juros. A Selic [juros básicos da economia] alcançou 12,2% ao ano no primeiro trimestre de 2015, contra 10,4% ao ano no primeiro trimestre de 2014. E o IPCA [a inflação oficial], quando a gente faz a comparação do primeiro trimestre de 2015 contra o mesmo período do ano anterior, também teve aceleração. E isso tudo prejudicou o consumo das famílias”, disse a coordenadora.

As empresas também investiram menos nessa base de comparação, indicando uma retração próxima a 8%, “principalmente pela queda das importações e da produção interna de bens de capital [como máquinas e equipamentos] e, ainda, pelo desempenho negativo da construção civil”. Na mesma esteira negativa, o consumo do governo caiu 1,5%.

Segundo Rebeca, essa queda na despesa de consumo do governo foi a maior desde o quarto trimestre de 2000, quando o recuo chegou a 2,8%. “[O resultado], claro, tem a ver com o ajuste fiscal”, disse. O ajuste é uma força-tarefa para cortar gastos e aumentar a arrecadação, com o objetivo de tirar as contas públicas do vermelho.

 

Investimento e poupança

No primeiro trimestre de 2015, a taxa de investimento alcançou 19,7% do PIB, abaixo do registrado no mesmo período de 2014, de 20,3%. A taxa de poupança também diminuiu, de 17% para 16%.

“Caiu pela evolução do volume, a gente viu que teve uma queda, então, é natural que a taxa de investimento tenha caído”, afirmou Rebeca.

Expectativas negativas

A expectativa do mercado era de que o PIB viria negativo. A previsão do IBC-Br, que pretende ser uma “prévia” do PIB, era de que a economia teria recuado 0,81% nesses três primeiros meses, com chance de o país entrar em recessão.

O próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, havia afirmado no início do ano que o país poderia enfrentar um trimestre de contração na economia, em razão do período de ajuste fiscal adotado por sua equipe econômica.

Para todo o ano de 2015, a previsão mais recente dos economistas do mercado financeiro é de uma queda de 1,24% no PIB.  Se confirmado, será o pior resultado em 25 anos, ou seja, desde 1990 – quando foi registrada uma queda de 4,35%.

 

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