De olho nos juros, brasileiros preferem não comprar a fazer dívidas
consumidores têm sacrificado cartões e optado por pagar à vista
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A elevação da taxa básica de juros para 14,25% ao ano, maior valor desde 2006, serviu como mais um sinal de alerta para o consumidor. O avanço da Selic desestimula a procura por crédito e reduz o consumo de forma geral. Indiretamente, o objetivo do Banco Central é tentar controlar a inflação, que já atinge o dobro da meta no acumulado em 12 meses. Com o poder compra comprometido, medo do desemprego e dos juros altos, consumidores têm adotado comportamento cauteloso. Estão menos dispostos a fazer compras a prazo, tomar empréstimos ou usar o cheque especial.
De acordo com o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Nicola Tingas, há uma tendência de busca por produtos de menor valor, o que facilita a compra à vista. Assim, explica, o cliente encaixa sua compra em seu orçamento. Tingas também conta que, por haver uma expectativa de futuro incerta e insegurança em relação à situação econômica atual, a propensão de o consumidor fazer crediário é muito baixa. “A tendência é não se endividar”, diz.
“Durante um bom tempo utilizei bastante o cartão de crédito, mas devido aos juros muito altos, quebrei todos os cartões e hoje só compro à vista”, diz a pedagoga Leslie Guimarães. “Não utilizo cartão de crédito, nem cheque especial. Trabalho mais com dinheiro vivo, porque eu sei que aquilo que eu tenho, eu posso gastar”, conta a empresária Regina de Oliveira Nobuyasu.
Um levantamento realizado pela Acrefi mostra que os consumidores estão atrasando menos os pagamentos bancários, como parcelas de financiamentos. “Há um movimento de pessoas que procuram não se endividar por causa da insegurança em relação ao futuro e ao desemprego”, conta o economista, que ressalta que neste semestre “a economia surpreendeu demais” para o pior, é claro. A pesquisa mostrou um aumento de 84% na intenção dos consumidores de não entrarem em financiamento neste ano. O estudo aponta ainda que 84% dos brasileiros planejam economizar mais, reduzindo o padrão de consumo.
Em linha com o aumento da Selic, os juros do cartão de crédito rotativo, os mais caros do mercado, subiram para 372% ao ano em junho, ante 360,5% de maio. No parcelado, ainda dentro de cartão de crédito, o juro subiu para 118,2% ao ano em junho. Já os juros do cheque especial subiram para 241,3% ao ano em junho, o maior patamar desde dezembro de 1995, quando atingiu 242% ao ano.
Menos consumo – O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) Marcel Solimeo lembra que a confiança do consumidor atinge mínimas históricas e isso faz com que o brasileiro se torne receoso em relação a assumir dívidas. “A renda do trabalhador está afetada, a insegurança em relação ao emprego é grande, bancos, financeiras e lojas estão mais exigentes na concessão do crédito e, além disso, a elevação na taxa de juros encarece as prestações”, explica.
Solimeo lamenta que, com a piora do mercado de trabalho, a maioria dos consumidores não tem alternativa de escolher entre o pagamento à vista ou a prazo. “Muitos não têm renda para pagamento à vista. Dependendo do valor do produto, eles optam pela compra a prazo ou em não comprar nada.”
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