Paquera, lanchonete e sacolão: Lojas Americanas chegou a MS nos anos 70 e crise resgata nostalgia
Gigante do varejo que hoje amarga crise financeira foi palco de boas memórias dos campo-grandenses
Thalya Godoy –
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Poucas palavras são suficientes para que o ar nostálgico tome conta do tom das recordações de quem frequentou as Lojas Americanas em Campo Grande nas décadas passadas.
Lanchonete, paquera e até um sacolão são resgatados nas lembranças de quem frequentou o local anos atrás e que hoje já não fazem parte da grande varejista.
“A inauguração das Lojas Americanas na década de 70 foi algo inusitado e trouxe uma nova concepção mercadológica. Nós tínhamos ali uma série de produtos que não tínhamos acesso, muito além dos básicos, que a partir do momento que ela chegou, traz isso”, relembra o presidente da CDL/CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), Adelaido Vila.
Diferentemente dos anos “glamourosos” de décadas atrás, atualmente as Lojas Americanas enfrentam uma recuperação judicial devido a um rombo de R$ 43 bilhões de dívidas. Em Mato Grosso do Sul, a empresa deve a 49 fornecedores que somam, ao todo, R$ 30 milhões, que vão desde chaveiros a indústrias.
Lanchonete era local favorito de encontros
“Eu Lembro”, “Me lembro”, “Lembro”. O verbo se repete tantas vezes nos comentários de uma publicação em rede social sobre a lanchonete que existiu nas Lojas Americanas, em Campo Grande, que é impossível não incluí-la na lista de “novidades” que a grande loja de varejo trouxe à Capital ainda na década de 1970.
O sanduíche Clube Lasa (cortado em triângulo), o sunday e o cachorro-quente eram alguns itens do cardápio que trazem saudade da lanchonete, considerada o “point” diário da época na saída de colégios, universidade, de serviço e até para paquerar.
“As Lojas Americanas eram uma delícia. Não tem ninguém da minha idade, um pouco mais novo ou mais velho, que não se recorde com saudade da loja. Tinha uma praça de alimentação que a gente sente o gosto até hoje da banana split que tinha lá, do bauru, do cachorro-quente, era uma loja imensa”, relembra Mariam Kodjaoglanian Di Giorgio, de 74 anos.
Nas lembranças de Mariam também cabe a nostalgia de encontrar outros produtos que não fazem mais parte do estoque da grande varejista, como bijuterias e até venda de verduras. “Tinha uma época que tinha até sacolão com batata, beterraba e até supermercadinho”, se recorda.
Quando Mário Rodrigues tinha 15 anos, na década de 1980, ele considerava “sagrado” utilizar a loja para cortar caminho entre as ruas Dom Aquino e Cândido Mariano, o que muitos campo-grandenses, a propósito, fazem até hoje. Estudou no Colégio Oswaldo Cruz e depois se mudou para o Colégio Dom Bosco, mas a lanchonete nunca deixou de ser o local de encontro dos estudantes.
Ele relembra que a loja décadas atrás transmitia “um certo aconchego”, atribuído pela organização das prateleiras e os caixas distribuídos conforme o setor.
“Para nós era um verdadeiro shopping. Éramos adolescentes, então era o máximo ir com a turma na Americanas, ver discos, na lanchonete. Podia até ser algo diferente perto de outras lojas, mas já era as pessoas mais adultas que percebiam”, pontua o homem que tem 53 anos atualmente.
Prateleiras escondiam sonhos e paqueras
Vânia Leite, atualmente com 57 anos, contava os dias até os feriados e as férias escolares para viajar para Campo Grande. Na infância, gostava de ir até as lojas Americanas para olhar a sessão de brinquedos e escolher o próximo presente de natal.
Com os olhos vidrados na prateleira pelos brinquedos que eram o sonho de infância, observava qual era o custo do presente. Os meses seguintes eram reservados para guardar economias e os pais complementarem para comprar o presente. “As bonecas Susi eram o sonho de todo mundo, muito diferente de hoje em que as crianças têm duas ou três bonecas Barbie ou LOL”, relembra Vania.
Anos depois, ao se tornar adolescente, Vania continuou frequentando as lojas Americanas nas férias escolares, mas com objetivo diferente. O olhar saiu da sessão de brinquedos e voltou-se para a lanchonete, onde era o ponto de encontro da juventude e local para “paquerar”.
“Eu ia toda tarde nas minhas férias nas Lojas Americanas. Um dia eu entrei e tinha um rapaz moreno de olhos verdes, ele veio ao meu encontro no corredor e me entregou uma rosa-vermelha, coisa muito linda, foi muita emoção. Nesse dia eu estava com os meus pais, eu estava indo na frente porque queria chegar logo na lanchonete. Ele veio no corredor com os olhos brilhando e me entregou a rosa-vermelha, dois dias depois voltei para o interior e ficou aquela lembrança boa. Tudo acontecia nas lojas americanas”, relembra Vânia.
O Midiamax tentou, por semanas, encontrar fotos antigas das Lojas Americanas entre as ruas Dom Aquino e Cândido Mariano, como em acervos antigos pessoais e na Arca de Campo Grande, mas sem sucesso. Caso você, leitor, tenha uma foto dessa época, compartilhe com a gente!
Lojas Americanas inovou
O presidente da CDL, Adelaido Vila, ressalta que as lojas Americanas trouxeram novidades no mercado campo-grandense décadas atrás com produtos e serviços diferentes, o que ajudou a aproximar a população da varejista.
“Grande parte da minha geração tinha nas Lojas Americanas um lugar de lazer. Com o passar do tempo, houve uma desatualização em termos de aparência física, de arrumação e tudo isso acabou gerando distanciamento da população”, atribui Adelaido.
Da época de infância ele relembra que o estabelecimento era um lugar para almoçar coisas diferentes, que não estava acostumado. A comodidade de estar no “coração” do centro foi outro fator relevante para atrair público na época.
“As Lojas Americanas começaram a introduzir na nossa sociedade essa primeira visão de fast-food, uma cidade que na época tinha cerca de 300 mil habitantes”, relembra o presidente da CDL.
Americanas devem R$ 30 milhões em MS
O Jornal Midiamax apurou que das 49 empresas listadas entre os credores das Lojas Americanas em Mato Grosso do Sul, ao menos oito são de contratos de internet.
A rede de lojas deve mais de R$ 7,2 mil só a empresas que fornecem internet para lojas de Paranaíba, Jardim, Aparecida do Taboado, São Gabriel do Oeste, Bonito e Três Lagoas.
As Lojas Americanas também têm dívidas com pelo menos cinco prefeituras do Estado, que se aproximam de R$ 16 mil e provavelmente são do não pagamento de impostos municipais.
Além destes, estão inclusos diversos fornecedores de produtos, entre alimentos, vestuário e bebidas. E indústrias, que são os credores com as maiores dívidas, entre elas a Dimatex que tem R$ 3,7 milhões a receber, a International Paper com dívida de R$ 21 milhões e a Metalfrio, com mais de R$ 1 milhão a receber das Lojas Americanas.
A rede de lojas também deve grandes quantidades para empresa de segurança. À Energisa, concessionária de Energia, a dívida soma pouco mais de R$ 20 mil. Confira a reportagem completa aqui.
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