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Cotidiano

Ferrovias abandonadas e rodovias precárias expõem descaso que resultou em tragédia na BR-262

Desativação das ferrovias transformou rodovias em corredores de carga, tornando o tráfego mais perigoso para veículos leves
Lethycia Anjos -
acidente
Acidente mobilizou Bombeiros, Polícia Civil, PRF e até a aeronave Harpia 03 da Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo da Sejusp. (Foto: Reprodução, Polícia Civil)

Um acidente fatal ocorrido na BR-262 expôs mais uma vez a fragilidade da infraestrutura viária de Mato Grosso do Sul. A colisão entre um ônibus e uma carreta, registrada no último domingo (15), resultou na morte de duas pessoas e deixou uma criança gravemente ferida. O caso reacendeu o debate sobre as condições críticas das rodovias que cortam o Estado, agravadas pelo fluxo intenso de veículos de carga das ferrovias.

Cada vez mais sobrecarregada, a BR-262 tornou-se o principal corredor para o escoamento de minério após desativação da malha ferroviária. Desde então, veículos de passeio disputam espaço com caminhões e carretas, agravando o risco de acidentes e acelerando a degradação da rodovia.

Falha na pista teria causado o acidente

O acidente ocorreu no último domingo (15). (Reprodução, Corpo de Bombeiros)

No dia do acidente, o ônibus seguia no sentido Campo Grande–Corumbá quando, ao passar por uma falha na pista, o motorista perdeu o controle e invadiu a faixa contrária, colidindo com uma carreta. Com o impacto, uma barra de ferro se desprendeu do caminhão, atravessou o para-brisa do ônibus, e as três primeiras fileiras de assentos foram atingidas.

As vítimas foram identificadas como Marcelino Florentino Filho, de 84 anos, que viajava para conhecer a neta recém-nascida; a médica Andrezza das Neves Felski, de 27 anos, que retornava de férias com o namorado, delegado de polícia; e uma menina de 6 anos, a qual foi levada de helicóptero a Campo Grande e precisou ter a perna amputada.

Em depoimento, o motorista do ônibus afirmou que perdeu o controle após passar por uma falha na pista. Já o caminhoneiro relatou que tentou desviar para o acostamento, mas não conseguiu evitar a colisão. No entanto, uma passageira contesta a versão e afirma que não houve falha na pista. O motorista acabou indiciado pela polícia após imagens de câmeras de segurança comprovarem que ele invadiu a contramão de direção.

Rodovia tomada por caminhões

Trecho da BR-262 (Henrique Arakaki/Jornal Midiamax)

A BR-262 é um dos principais eixos logísticos do Estado e atravessa do Pantanal à Bolívia. No entanto, a rodovia tem sofrido impactos devido à sobrecarga de caminhões de transporte de minério e celulose. Isso porque, com a desativação da Malha Oeste, principal ferrovia do Estado, veículos de carga passaram a dominar o tráfego, especialmente entre Campo Grande e Corumbá, trecho que deveria ter atenção redobrada por seu valor ambiental, turístico e estratégico.

Além de Mato Grosso do Sul, a rodovia corta os estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo. Nesse último, a duplicação da BR-262 está em andamento, com previsão de início das obras para abril de 2026, após a publicação do edital em novembro. A duplicação total entre ES até a divisa com MG está estimada em R$ 8 bilhões.

Concessão e duplicações em estudo

No lado sul-mato-grossense, em abril deste ano, o Governo do Estado e a União avançaram nas tratativas para concessão das rodovias federais BR-262 e BR-267, além das estaduais MS-040, MS-338 e MS-395, que compõem a chamada Rota da Celulose. Um estudo encomendado pelo governo estadual prevê a duplicação de 116 km entre Campo Grande e a fábrica da Suzano, em Ribas do Rio Pardo. Além disso, está prevista a instalação de pedágios entre R$ 4,70 e R$ 15,20.

Na ocasião, o governador Eduardo Riedel afirmou que a delegação das rodovias à gestão estadual estava autorizada pelo presidente Lula. O projeto será debatido em audiência pública marcada para 30 de agosto, como etapa obrigatória do processo de concessão.

Ferrovia pode aliviar tráfego, mas reativação avança lentamente

Ponte ferroviária na região do Pantanal
Ponte ferroviária na região do Pantanal (Arquivo Midiamax)

Enquanto isso, a reativação da Malha Oeste, que liga Corumbá (MS) a Mairinque (SP), segue a passos lentos. Com mais de 1.600 km, o trecho está em processo de relicitação pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), após devolvido pela concessionária Rumo S/A em 2021. O novo modelo de concessão prevê ainda que empresas disputem trechos específicos, com possibilidade de devolução parcial aos estados.

Apesar do histórico de descumprimentos contratuais, a Rumo demonstrou interesse em continuar operando trechos estratégicos. Neste ano, a empresa iniciou operação de composições com 135 vagões, retirando cerca de 530 caminhões por dia das estradas. A medida, segundo a Rumo, trouxe alívio para o tráfego rodoviário e os impactos ambientais.

Porém, o TCU (Tribunal de Contas da União) manifestou oposição à repactuação direta do contrato com a Rumo, citando histórico de inadimplência, abandono de trechos e descumprimento de metas. O órgão determinou que qualquer solução consensual deve considerar os antecedentes da empresa.

Projetos e conexões logísticas

Malha ferroviária. (Ricardo Botelho/MInfra)

Além da Malha Oeste, uma das principais apostas logísticas de Mato Grosso do Sul é a Nova Ferroeste, ferrovia de 1.567 quilômetros que ligará Maracaju (MS) ao Porto de Paranaguá (PR), atravessando 66 municípios. O projeto tem como foco o escoamento da produção agrícola e da indústria de celulose, com a promessa de trazer um modal mais eficiente e ambientalmente sustentável.

Outra importante estrutura ferroviária é a Ferronorte (Ferrovia Norte Brasil), que atravessa os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com o objetivo de transportar grãos, especialmente soja e milho, até o Porto de Santos. No território sul-mato-grossense, a ferrovia possui 755 quilômetros de extensão e conecta Rondonópolis (MT) a Aparecida do Taboado (MS), onde se integra à malha ferroviária paulista.

Também há o projeto da Ferrovia do Pantanal, planejada para ligar Panorama (SP) a Porto Murtinho (MS), às margens do Rio Paraguai. A proposta visa atender ao escoamento da produção agrícola da região, incluindo soja, milho e açúcar.

O Jornal Midiamax entrou em contato com o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para solicitar esclarecimento quanto as condições e projetos para recuperação da BR-262, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

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