Em meio às altas temperaturas, enfrentar o calor se tornou um desafio diário para quem depende do transporte público em Campo Grande. Nem mesmo nos dias de chuva a situação melhora, já que goteiras se espalham pelos ônibus lotados. Sem as linhas executivas, os “fresquinhos”, em circulação e com poucos veículos climatizados, passageiros enfrentam uma situação insalubre – enquanto o preço da passagem sobe ano após ano.
O tema voltou a ganhar destaque após o anúncio da CPI do Consórcio Guaicurus, que promete investigar problemas antigos do sistema de transporte coletivo e propor uma solução para um problema que parece interminável. Atualmente, com a tarifa a R$ 4,95, Campo Grande ocupa a 11ª posição no ranking das passagens mais caras do Brasil, conforme levantamento do UOL com dados das 27 capitais.
Por onde andam os “fresquinhos”?

Os ônibus executivos, conhecidos como “fresquinhos”, foram oficialmente extintos antes mesmo da pandemia. A Prefeitura de Campo Grande justificou a decisão com a alegação de “baixa demanda”.
Por sua vez, o Consórcio Guaicurus afirmou que a retirada desses veículos também ocorreu com anuência da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados), após a medida que proibiu a circulação de ônibus com janelas fechadas para evitar a disseminação da Covid-19.
No entanto, Gabriel Santos, do movimento Ligados no Transporte, que acompanha de perto a crise do transporte público, aponta que a redução das linhas executivas começou bem antes de 2020.
“Até 2019, os ‘fresquinhos’ existiam, mas mais de 80% operavam apenas nos horários de pico e com veículos convencionais, sem ar-condicionado ligado”, explica.
Atualmente, apenas dois dos antigos ônibus executivos ainda circulam – os veículos 4215 e 4216 –, mas com o ar-condicionado desligado. O restante da frota foi vendido.
Embora tivessem uma passagem mais cara que o transporte regular, os “fresquinhos” eram vistos como uma alternativa viável ao sucateamento dos veículos comuns. Até o último reajuste, a tarifa das linhas executivas era de R$ 5,40.
“Os usuários sentem falta, porque eram linhas que ligavam longas distâncias sem passar por terminal, além de serem minimamente mais confortáveis que as porcarias que o consórcio coloca para circular nas linhas convencionais”, critica Gabriel.
Entre as linhas de maior demanda estavam a 391 (Tarumã/Shopping) e a 490 (Nova Campo Grande/Shopping). No entanto, Gabriel explica que o serviço passou por uma redução estratégica para reforçar a narrativa de ‘baixa demanda’.
“O consórcio começou a cortar algumas linhas alegando falta de passageiros, mas como poderia haver demanda se a maioria operava apenas com um veículo e intervalos superiores à 1h30?”, questiona.
De 450 ônibus, só 3 rodavam com ar ligado

Com a extinção das linhas executivas, os passageiros ficaram sem qualquer opção de transporte mais confortável. Em 2023, um levantamento do Ligados no Transporte apontou que apenas 14 dos 450 ônibus da frota regular possuem ar-condicionado, o que representa 3,11% do total. Destes, somente três circulavam com o ar ligado, ou seja, menos de 1% da frota.
“Apenas dois desses ônibus operam em linhas fixas: a 515 (Dahma/Hercules Maymone) e a 521 (Centro/Parque dos Poderes). Os demais não possuem trajeto definido”, explica Gabriel.
Durante a campanha eleitoral de 2024, a inclusão de novos ônibus climatizados figurou como uma das principais promessas de diversos candidatos. No entanto, Gabriel ressalta que, sem mudanças no contrato de concessão, o ar-condicionado deve continuar apenas no discurso político.
“O contrato de concessão não prevê ar-condicionado na frota, então o consórcio não tem obrigação de fornecer veículos assim. Isso só mudaria se houvesse uma lei obrigando, mas depender da boa vontade dos vereadores é complicado”, avalia.
CPI do transporte e possíveis mudanças
A CPI do Consórcio Guaicurus, instaurada neste mês pela Câmara Municipal de Campo Grande, pretende investigar três pontos principais:
- A idade média e o estado de conservação da frota nos últimos cinco anos;
- O equilíbrio financeiro do contrato de concessão, considerando os subsídios públicos recebidos pelo consórcio;
- A fiscalização da Prefeitura, via Agereg e Agetran, sobre o serviço prestado após a assinatura do TAG (Termo de Ajustamento de Gestão) em 2020.
Integram o grupo da CPI os vereadores: Lívio Leite (União) como presidente, Ana Portela (PL) como relatora, Luiza Ribeiro (PT), Maicon Nogueira (PP) e Junior Coringa (MDB) como membros.
Confira os canais de denúncia para colaborar com a CPI do Consórcio Guaicurus:
- WhatsApp: (67) 3316-1514
- E-mail: cpidotransporte@camara.ms.gov.br
- Formulário anônimo disponível no site www.camara.ms.gov.br.
O Jornal Midiamax solicitou esclarecimentos ao Consórcio Guaicurus sobre a qualidade da frota e uma possível volta das linhas executivas, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.
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