Entre janeiro e fevereiro deste ano, foram registrados 163 acidentes com picada de escorpião em Campo Grande, segundo dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde). As recentes chuvas e sol durante outono, clima quente e úmido, favorecem o aparecimento do animal peçonhento, principalmente em pontos com a rede conectada a esgoto.

O número de exemplares do animal entregues ou recolhidos ao CCZ (Centro de Controle de Zoonoses) para identificação varia, com maior incidência em 2020. Um breve levantamento da Sesau mostra que a região que apresenta maior incidência de casos de acidentes é a do Anhanduizinho.

Com isso, acende-se o alerta para o aparecimento de escorpiões nas residências, o que pode ocasionar acidentes graves, até mesmo com óbitos. Com total de 3.623 ataques de escorpiões de janeiro a novembro de 2023, Mato Grosso do Sul registrou média de cinco acidentes todos os dias durante o período, número 13,04% maior que em todo 2022.

O que favorece o surgimento do animal?

Conforme ex-diretor científico do Instituto Vital Brazil e aluno de doutorado do Icict/Fiocruz (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Osvaldo Cruz), Claudio Maurício Vieira de Souza, o escorpião é uma praga urbana responsável pelo maior número de casos de intoxicação humana na área urbana brasileira.

Conhecido como escorpião-amarelo, o biólogo destaca que o Tityus serrulatus, típico no Centro-oeste, está listado como principal “vilão” em acidentes graves, principalmente, em crianças e idosos, pacientes mais vulneráveis ao veneno.

“Essa é uma das espécies mais venenosas que existem e vem se espalhando em áreas urbanas porque, entre outras coisas, prolifera facilmente e estaria ocupando o lugar de escorpiões menos nocivos”.

O artrópode é atraído por locais habitados por baratas, a principal refeição do escorpião. Logo, a espécie se adapta muito bem à vida no subterrâneo das cidades e, quando buscam um abrigo provisório, acabam subindo pelas tubulações de esgoto, ralos de pias, canos e até caixas de gordura. Ou seja: ambientes úmidos, escuros e com insetos são chamariz para a infestação.

O que fazer ao encontrar um escorpião em casa

Vale lembrar que manusear um escorpião em casa ao encontrá-lo requer muito cuidado. A Sesau informa que a orientação é para que o morador capture e coloque em um recipiente com álcool de forma segura e leve até a coordenadoria do CCZ ou, em caso de acidentes, leve até a unidade de saúde para que seja identificado. Se solicitada a desinsetização, que seja entregue para equipe do CCZ.

Os exemplares são encaminhados para identificação, que é realizada no laboratório de entomologia do CCZ. Caso o morador esteja encontrando escorpiões com frequência, pode ligar ou mandar WhatsApp para o telefone 2020-1796. Serão informados sobre medidas de controle e, se necessário, uma ordem de serviço para desinsetização será feita e o procedimento realizado após vistoria e sem custo.

Dedetização segura

Os escorpiões possuem um quimiorreceptor e se o veneno não cair diretamente no corpo, os animais conseguem levantar o abdômen, se locomover e evitar o veneno. Ou seja, fazer a dedetização é um trabalho complexo e técnico, conforme explica o especialista no serviço, Sergio Ricardo da Silva, da Dedetizadora Morena.

O serviço custa, em média, de R$ 200 a R$ 300, mas varia conforme a metragem, número de cômodos e característica do imóvel. Por exemplo: se é uma casa muito antiga, com rachaduras – ou se o imóvel é uma escola com vários setores. Portanto, o atendimento requer uma avaliação para orçamento.

“Sempre é necessária uma visita para explicar ao cliente o que será feito. Avaliamos situações, se há animais de estimação no local, se há crianças, idosos ou alérgicos, pois é preciso preparar o ambiente antes da aplicação do veneno. Muita gente agenda antes ou depois de viajar, ou pede serviços de urgência após se assustar com um escorpião”.

Sergio explica que o morador pode fazer a dedetização por conta própria, o produto utilizado e que pode ser comprado em lojas agropecuárias é o Lambda-cialotrina, que é um inseticida piretroide de baixo odor, com princípio ativo de controle do animal.

“Também pode despejar água sanitária, é até uma recomendação da Vigilância Sanitária. No caso do veneno, é necessária atenção, preparar o ambiente, não é só jogar o veneno, pois é um serviço técnico. Deve notar portais, rodapé, cantos, frestas, rachaduras. No caso de condomínios, verificar se há uma dedetização periódica. Eu atuo na área há 24 anos. Antigamente, a gente ouvia falar que havia maior infestação na área central, em áreas perto de córregos. Mas, atualmente, a infestação é em toda cidade”.

Dicas e cuidados

Alexandre Moretti de Lima, médico e responsável clínico do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica), diz que 98% dos casos são de quadro leve, só com dor local, entretanto, em pacientes do grupo de risco o caso pode evoluir com maior facilidade.

“Em crianças e idosos a gente tem que tomar cuidado pelo risco de manifestação sistêmica e necessidade de soro. Se evoluir com o quadro cardiopulmonar, com edema agudo de pulmão, taquicardia, hipertensão, sudorese, salivação e palidez, será necessária a utilização de soro escorpiônico”.

Manter o ambiente limpo é um culminante para evitar o aparecimento do escorpião, assim, prevenindo abrigo para baratas, gafanhotos, grilos e outros insetos. Para evitar acidentes com escorpiões, o Ciatox recomenda:

  • Usar água sanitária nos ralos e frestas de portas;
  • Instalar barreiras mecânicas nas portas;
  • Evitar o acúmulo de entulhos;
  • Fechar frestas e rachaduras nas paredes;
  • Manter o ralo do banheiro fechado após o banho;
  • Vedar bem as caixas de gordura.

Já no caso de picada, a orientação é lavar o local com água e sabão, em seguida, procurar uma unidade de saúde mais próxima para atendimento imediato.

“Em raros casos vai ser necessário a utilização de soro antiescorpiônico, mas quanto mais precoce a utilização, menor a chance de mortalidade”.

Caso consiga recolher o escorpião e haja a necessidade do soro antiescorpiônico, a determinação da espécie também auxilia no tratamento para o envenenamento.

O Ciatox também disponibiliza teleatendimento aos profissionais de saúde, diagnóstico e identificação de animais peçonhentos e plantas tóxicas pelos telefones: (67) 3386-8655 e 0800-722-6001 e 150.