Números impressionantes provam por A mais B que o Pix veio para ficar, pelo menos até algo ainda melhor aparecer. Segundo levantamento do Banco Central do Brasil, são 158,3 milhões de usuários mais de R$ 15 trilhões movimentados no Brasil. O sucesso é absoluto.

é líder do ranking nacional de aquisição de produtos e contratação de serviços via Pix, já presente em 54% dos clientes de MPEs (Micro e Pequenos Empreendedores), conforme traz a 3ª edição da Pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada entre os meses de abril e maio de 2023, pelo Sebrae em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas, as transformações também se revelam nas relações interpessoais, mudando hábitos e costumes antigos, maneiras de socializar e até de lidar com as finanças. É uma profunda transformação, e não se sabe onde vai parar.

Esta é a última de uma série de 5 reportagens especiais elaboradas pelo núcleo de Cotidiano do Jornal Midiamax, em alusão aos quatro anos de criação do Pix – o sistema que revolucionou como o brasileiro mexe com dinheiro. Desde o último sábado (17), o pode conferir e refletir os impactos do sistema de pagamentos. Confira as reportagens já publicadas no final.

Adaptação do comércio e relação pessoal

No centro de , as placas de “apenas dinheiro” ou “aceito cartões”, hoje, estão em companhia do QR Code. Comerciantes de diferentes segmentos tiveram de atualizar-se e acompanhar a tendência do pagamento digital para não perder clientes.

Placa decorativa produzida antes do surgimento do Pix. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

É o caso da Barbearia Campo Grande Barbershop, localizada na Rua José Antônio, no Centro da Capital. Proprietário do comércio há 12 anos e inicialmente contrário ao dinheiro digital, o barbeiro Renan Reggiani ressalta que o Pix facilitou muito o processo de pagamento – tanto para remunerar seus funcionários, quanto para os clientes.

Segundo ele, cerca de 80% dos clientes escolhem o Pix como forma de pagamento, atualmente.

“O Pix facilitou muito a questão de pagamento, antigamente a gente tinha que fazer transferência por TED [Transferência Eletrônica Disponível] e [o valor] só ia cair no outro dia, e agora é de imediato. Para os clientes, acho que também foi legal porque agora a gente pode fazer um QR Code. Coloca ali no balcão e ele vai lá, só escaneia e vai direto”, destaca. 

Faturamento sem taxas

Renan enfatiza que a principal vantagem do Pix é a ausência das taxas da maquininha de cartão. Para ele, o pagamento instantâneo sem cobranças ajuda muito o microempreendedor, justamente por garantir que cada centavo recebido chegue ao caixa da loja.

“No começo da barbearia, a gente aceitava só dinheiro, queríamos resgatar um lance cultural de barbearia clássica, mas principalmente, queríamos evitar pagar muita taxa. A gente era uma empresa pequena, e quando você é microempreendedor, é complicado você perder centavos, porque de centavos em centavos, no final do mês é uma grana que faz diferença para pagar uma conta ou comprar um produto, sabe”, explica.

“Mas, com o tempo, com a tecnologia vindo, aí foi apertando. Começou a vir clientes novos na empresa, e começou a ficar raro dele ter dinheiro físico em espécie. Para facilitar a vida, tivemos que ‘dar o braço a torcer' e colocamos a maquininha de cartão. Com a chegada do Pix, veio o QR Code”, complementa Renan.

QR Code está presente no balcão da barbearia. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Engenheiro de Produção e sócio-proprietário da Moti, marca de camisetas de Campo Grande, Ehrick Luz também ressalta a importância do recebimento de pagamentos sem taxas da maquininha. 

“A maioria dos clientes tem escolhido pagar os produtos no Pix, o que ajuda muito, pois não é taxado, e acaba ajudando no que calculamos para conseguir ganhar sobre o produto e o trabalho. Vendas no cartão geralmente diminuem bastante nossa margem”, relata.

Para o barbeiro Roger Reggiani, o principal motivo que fez os clientes preferirem o pagamento pelo Pix é a praticidade. Ele ressalta que, hoje em dia, o recurso digital não está somente restrito aos mais jovens, e clientes de todas as idades utilizam o Pix.

Roger Reggiani trabalhando. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

“Depois da pandemia não tem mais aquilo da galera ter dinheiro no bolso. Os clientes deixaram isso de lado, é muito difícil alguém aparecer com dinheiro na empresa e o Pix acaba fazendo a diferença. E não tem mais aquela faixa etária de não, hoje todo mundo usa. Depois do corte a gente vê o senhorzinho de 60 anos abrindo o celular e usando também. Então o Pix veio para ajudar mesmo, não precisar estar com a carteira cheia de dinheiro com chance de perder alguma coisa, é facilidade na hora de pagar e segurança também”, destaca.

Cédula? Sei nem o que é

A manicure Bruna Brandão, trabalhadora e gerente da B&P Salão de Beleza, no bairro Tijuca, em Campo Grande, também enfatiza a facilidade do Pix. Segundo Bruna, é raro receber pagamentos em dinheiro hoje em dia no salão.

“As clientes preferem pagar com Pix, com o QR Code fica mais fácil ainda porque não precisam preencher nada, facilitou muito. Antes tínhamos que andar com dinheiro em mãos, de preferência trocadinhos (risos), ou fazer TED, o que era péssimo porque nem sempre caía no mesmo dia. O Pix facilitou muito para todo mundo”, conta.

Pagamento sem sair de casa

A possibilidade da transferência digital do Pix também facilita a prestação de serviços a distância. A ilustradora Victória Amorim conta que, desde a pandemia, nunca mais usou dinheiro. Quando ela por acaso tem a posse de dinheiro em espécie, conta que faz o possível para se desfazer.

“Nunca mais usei dinheiro, inclusive quando tenho faço ao máximo para me livrar. Uso bastante o Pix e o débito, não gosto de dinheiro porque é menos prático”, relata. Na relação com seus clientes, ela explica que o pagamento pelo Pix também proporciona economia por evitar que as pessoas se desloquem para entregar valores fisicamente.

“Os clientes sempre pagam por Pix, nunca me fizeram transferência ou pagaram em dinheiro, até porque o contato é sempre pela internet e não existe uma entrega física. Acredito que as pessoas, com a possibilidade de apenas fazer um Pix de suas casas, não querem gastar tempo vindo pessoalmente entregar um valor, até porque a própria locomoção é um gasto. Além disso, prefiro receber em Pix também, justamente por não utilizar dinheiro”, destaca.

Perrengues antigos que acabaram

Com a facilidade e instantaneidade do Pix, algumas situações chatas que ocorriam na época das transferências TED, DOC e da cédula física, diminuíram ou pararam de acontecer. Roger relembra algumas dessas situações. Ao pedir lanches ou fazer alguma compra coletiva entre os barbeiros, por exemplo, ele lembra que a divisão das contas nem sempre era assertiva.

“O lance de dividir as contas quando não tinha Pix era engraçado. Quando a gente pedia doce ou comidas na barbearia, um pagava R$ 3 a mais, outro pagava menos, outro que não pagava quase nada nas divisões (risos). Ninguém andava com dinheiro trocadinho todos os dias. Então, nessa parte o Pix ajudou também, porque dividindo as contas com todo mundo ali certinho, todos ficam felizes”, relata.

Trabalhadores da Campo Grande em Barbershop (Nathalia Alcântara, Midiamax)

“Outro ‘BO' que tive antes do Pix foi tentando fazer transferência direta na boca do caixa. Depois de um expediente eu fui depositar o dinheiro no banco e bem na hora, a máquina travou com o dinheiro no meio da boca. Saiu o extrato do depósito, mas eu não conseguia puxar de volta, foi um sufoco até eu conseguir ‘desenrolar' e depositar, mas depois de um tempo deu certo. Com o Pix não tenho mais esse problema”, relembra.

Sistema à frente do exterior

Residente a trabalho na Alemanha em 2024, Renan Reggiani conta como funciona o sistema de transferências no país europeu. Ele relata que apesar do país ser de primeiro mundo e avançado em vários aspectos, quando o assunto é o Pix, o Brasil está à frente.

“Na Alemanha, por incrível que pareça, a coisa é muito atrasada. Não porque o país é atrasado, mas porque eles querem ser atrasados nesse aspecto. Eles são meio ‘cabeça dura' para mudança, e gostam muito do dinheiro físico ainda. Agora até existe uma opção de transferência na hora, mas não igual ao Pix. Aqui tem um limite de apenas duas transferências sem taxa por dia, caso você faça mais, tem que pagar uma taxa de 5 euros”, explica.

Renan Reggiani trabalhando em Campo Grande (Reprodução, Redes Sociais)

“Foi durante a pandemia que a galera aqui começou a usar um pouco mais o cartão ou dinheiro digital. Para ter ideia, recentemente eu mudei de celular, e para fazer as atualizações dos meus bancos do Brasil foi muito fácil, consegui ter acesso a tudo. Aqui, meu aplicativo do banco ficou bloqueado, e eu tive que ir presencialmente no banco alemão pedir uma nova senha para conseguir desbloquear. É muito curioso como a Alemanha é um país evoluído em várias partes, mas é ‘burro' em outras”, compara Renan de maneira descontraída.

Confira as demais reportagens da série