Líder nacional em vendas via Pix, Mato Grosso do Sul ‘adotou’ forma de pagamento, mas ainda há quem resista

Método preferido de 54% dos pequenos negócios, MS é o Estado que mais vende via Pix

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Comércios ainda resistem ao PIX
Comércios ainda resistem ao Pix (Alicce Rodrigues, Midiamax)

‘Passa Pix?’ De tão corriqueira, a pergunta até caiu em desuso. Afinal, a resposta é quase sempre afirmativa quando feita em estabelecimentos comerciais de Campo Grande. A aceitação é tanta que Mato Grosso do Sul liderou o ranking nacional de aquisição de produtos e contratação de serviços via Pix.

A modalidade de pagamento digital está presente em 54% dos clientes de MPEs (Micro e Pequenos Empreendedores), conforme aponta a 3ª edição da Pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada em 2023, pelo Sebrae em parceria com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No entanto, em Campo Grande, pequenos negócios ainda relutam em aderir.

Esta é a segunda reportagem de uma série de 5 reportagens especiais elaboradas pelo núcleo de Cotidiano do Jornal Midiamax, em alusão aos quatro anos de criação do Pix – o sistema que revolucionou como o brasileiro mexe com dinheiro. Desde o último sábado (17), o leitor pode conferir e refletir os impactos do sistema de pagamentos.

Quase onipresente

No centro de Campo Grande, as tradicionais placas de ‘aceito cartões’, hoje dividem espaço ou foram substituídas, pelo QR Code. Dos grandes aos pequenos empreendedores, comerciantes de diferentes segmentos abraçaram a mudança para não ficar ‘à margem’ do progresso.

Há mais de 30 anos, Odair Gonçalves, de 56 anos, viaja de cidade em cidade vendendo doces, mas foi há dois anos que decidiu estabelecer-se em Campo Grande. Com uma variedade de doces no porta-malas, o vendedor aceita todas as formas de pagamento, mas é enfático ao afirmar que, se for preciso escolher, prefere o Pix.

Odair Gonçalves PIX
Odair Gonçalves em frente a sua banca de doces (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Acho o Pix uma forma mais rápida e fácil de pagar. Não pago taxas e hoje quase todo mundo usa como principal forma de pagamento”, afirma.

Segundo o vendedor, diariamente, cerca de 40 clientes param para comprar doces em sua banca, desse total, ele estima que 70%, ou seja, 28 clientes, utilizam o Pix como forma de pagamento.

“Chuto que mais de 70% dos meus clientes preferem o Pix. Tenho a opção da maquininha ou direto no celular, mas grande parte prefere direto no celular pelo QR Code”, explica.

Na era digital, comércios já nascem com o Pix

Na loja Belle Vie, não é só o tom rosa vibrante que chama atenção, mas também o QR Code impresso em tamanho A4 no balcão, sinalizando a chave Pix como principal forma de pagamento. Inaugurada há três meses, a loja de roupas na Avenida José Nogueira Vieira nasceu tendo o Pix como principal forma de pagamento.

Para fisgar a clientela, a proprietária Fernanda Khargy apostou em descontos nos pagamentos via Pix, o que resultou em uma aprovação imediata dos clientes. “É um meio mais atrativo tanto para mim, como empresária, quanto para os meus clientes, pelos descontos”, ressalta.

PIX por QR Code
QR Code (Alicce Rodrigues, Midiamax)

Após golpe, Pix só com maquininha!

Na lanchonete Itatiaia, a placa que indica a opção de pagamento por QR Code ‘está com os dias contados’. Isso se deve ao fato de que, há um pouco mais de uma semana, o estabelecimento foi alvo do chamado ‘golpe do falso Pix’.

A prática que consiste em apresentar ao comerciante um comprovante de pagamento falso, permitindo que o consumidor saia sem efetuar o pagamento pela compra realizada.

Gabriele Cristina, proprietária do local, relata que a lanchonete — inaugurada há três meses — atende uma média de 400 clientes diariamente, o que dificulta a verificação detalhada de cada comprovante de pagamento.

PIX Maquininha
QR Code será substituído por maquininha (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Um cliente veio, consumiu e, na hora de pagar, afirmou que utilizaria o Pix. Informei o valor de R$ 42,00, e ele me apresentou o comprovante. Só depois, percebi que era falso, mas não havia como identificar o cliente, vários pagamentos tinham valores semelhantes”, lamenta.

Para prevenir futuros golpes, a empresária optou por retirar a placa do QR Code e decidiu manter o Pix apenas por meio da maquininha. Segundo ela, apesar das taxas associadas, seu uso é mais confiável em comparação ao método atual.

“Metade dos meus clientes utilizam o Pix como forma de pagamento, para mim é muito rentável. Como o fluxo aqui é alto, na correria situações como essa do golpe acabam passando despercebidas e para não perder clientes deixaremos só na maquininha agora, a taxa é de R$ 0,50 centavos por Pix”.

Até quem ‘torcia o nariz’, se rendeu à praticidade 

Com o boom do Pix, até quem ‘torcia o nariz’, se rendeu à praticidade proporcionada pelo pagamento digital. Em agosto de 2023, o Jornal Midiamax visitou um dos pontos mais tradicionais de Campo Grande, que apesar de sua longa tradição, era um dos poucos locais no centro que resistiam à adoção do Pix.

Na esquina da Rua Barão Rio do Branco, o Bar do Zé, há 70 anos resiste à modernidade, se mantendo como tradicional ‘boteco raiz’. Tão tradicional que, até então, não aceitava o Pix. Na época, o proprietário, Márcio Okama, via o Pix com desconfiança, atitude compreensível, diante dos inúmeros golpes envolvendo a modalidade. 

Bar do Zé
No Bar do Zé, Pix é novidade (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Não uso nem na minha conta pessoal, não sei nem como funciona. É uma questão de segurança também, ter todos os dados ou quem não paga, não dá para confiar demais. Todo mundo tem ou dinheiro, ou cartão, não tem como ter uma conta sem um dos dois”.

Ao retornarmos no Bar do Zé — cinco meses depois — uma surpresa, nem sinal da plaquinha que enfatizava ‘Não aceitamos Pix’. Apesar da mudança, o proprietário ressalta que até então o Pix não gerou grande impacto em seu comércio.

“Coloquei o Pix em dezembro, mais por praticidade mesmo. Não deu muita diferença, já aceitamos dinheiro e cartão, foi só para ter uma opção a mais aos clientes”, esclarece.

Para evitar transtornos, Marcio Okama optou pelo Pix direto na maquininha, sem opção no QR Code, segundo ele a medida visa prevenir golpes.

Comerciantes juram que Pix não faz falta

Outros lugares, por sua vez, permanecem convictos com a decisão de não aceitar o Pix, como o caso da chiparia e garaparia “Parada Obrigatória”. Um ano após a visita do Midiamax, em 2022, o local segue com as plaquinhas que indicam que ali o Pix não é aceito, nem por QR Code.

Aberto em 1999, o local é um dos pontos mais movimentados da Avenida José Nogueira Vieira, no bairro Tiradentes. Apesar de não aceitar o famigerado Pix, o proprietário Edson Monte Serrate jura que a clientela não diminui.

Chiparia
Chiparia no Tiradentes (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Ficamos abertos das 6h30 às 18h30 e muita gente circula por aqui. Não aceitar o Pix nunca foi motivo para que o pessoal deixasse de vir”, pontuou na época.

Para os clientes o método não faz falta, Daniel Silva é frequentador assíduo do local e afirma que não vê a recusa em aceitar o Pix como desvantagem.

“Prefiro pagar com cartão porque não precisa ter internet, fora que nem todos os locais têm internet para os clientes e é mais seguro não precisar do celular o tempo todo”, disse.

Pix nem QR Code

Na conveniência situada no posto de gasolina entre as ruas 13 de Maio e Afonso Pena, são tantas placas logo na entrada que fica evidente a política de não aceitação do Pix como forma de pagamento. Funcionária do local há dois anos, Caroline Castro relata que até mesmo os funcionários desconhecem a razão da resistência em adotar o meio de pagamento.

Comércios ainda resistem ao Pix
Comércios ainda resistem ao Pix (Alicce Rodrigues, Midiamax)

“Vou te falar que eu mesma não sei o motivo de não aceitarem. Uma vez a gerente disse ter a ver com homologação, na outra disseram ser uma decisão da marca dona das franquias, mas sinceramente não sei”, diz.

Apesar da resistência em aceitar o Pix, Caroline destaca que os clientes desistem raramente de suas compras ao serem informados da impossibilidade de realizar pagamentos por meio digital.

“Instalamos várias placas para evitar confusões. Inclusive, durante o Carnaval vamos colocar mais placas, pois é comum ter clientes desavisados. Quando alguém chega e só possui o Pix, sugerimos que peça a outro cliente para fazer o pagamento com cartão ou dinheiro em seu lugar e ele transfere o Pix”.

Segurança e cuidado com golpes

Apesar de seguro, criminosos também invadem a tecnologia para fazer vítimas. Portanto, o cliente deve sempre ficar alerta. O golpe mais comum com o Pix é o agendamento — como o caso de Gabriela — quando uma pessoa simula fazer o pagamento, mas está agendado para outro dia e o valor não cai na conta. Em muitos casos, o criminoso simulava com os dados corretos de quem iria receber, fazia um print e apagava a descrição “agendamento” do comprovante.

No geral, a transação financeira tende a ser segura. Ainda assim, alertas emitidos pelo Banco Central orientam usuários a ficarem atentos a indícios de fraude. No caso de quem envia, desconfiar de nome diferente para quem iria enviar, telefone desconhecido pedindo dinheiro, ou até SMS pedindo a conta e senha do banco.

Um dos últimos mecanismos de segurança inclui reconhecimento facial, biometria e limite de transação, conforme os métodos de cada banco. Os critérios podem variar por horário da operação, dia da semana e valor acima do normal do que o consumidor utiliza.

Principais vítimas

Os idosos são as principais vítimas de criminosos que clonam dados bancários ou simulam golpes com o Pix. Entretanto, diversos usuários podem cair na ‘lábia’ de golpistas.

Para operar uma transação com o Pix é preciso utilizar uma chave de transferência que normalmente é um dado pessoal (CPF, CNPJ, e-mail, telefone, outros) que será associado aos seus dados bancários para a transferência se efetivar.

O Banco Central informa que todos os cadastros e transações são realizadas em um ambiente de autenticação digital. Os usuários fazem o Pix por internet banking ou aplicativo, há mecanismos de biometria, reconhecimento facial no celular e as senhas e a verificação de dois fatores no computador.

Todos os dados e as transações trafegam em uma parte da internet que é a rede do sistema financeiro nacional, que existe desde 2002. Apesar de oscilação, o que conhecemos como “Pix fora do ar”, o Banco Central afirma que nunca houve ataque à rede sistêmica.

Confira a primeira reportagem da série

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