Com operações em há seis décadas, a Viação São Francisco vendeu o prédio que ocupava na avenida Euller de Azevedo, no bairro São Francisco. A empresa também remanejou os funcionários e veículos para as demais integrantes do , responsável pelo transporte público de Campo Grande.

Conforme divulgado pelo blog especializado Ligados no Transporte, a empresa, fundada em 1960, era gerenciada por parte de gestores do Paraná e não teria resistido a problemas financeiros que se acumulam desde a pandemia de Covid-19.

O Consórcio Guaicurus é formado pelas empresas: Viação Cidade Morena (empresa Líder), Viação São Francisco, Jaguar Transporte Urbano e Viação Campo Grande. Assessoria jurídica do consórcio confirmou ao Jornal Midiamax que e funcionários da São Francisco foram remanejados com a venda do prédio, mas a empresa segue na composição jurídica do consórcio.

Ainda conforme informações do Ligado no Transporte, a Viação São Francisco atuava principalmente na região norte de Campo Grande, mas agora todas as empresas devem fazer todas as rotas da cidade, sem divisões por área.

Contatada sobre o fechamento da São Francisco e eventuais impactos para a população que usa o transporte público diariamente, a (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) disse que ‘contrato do Município de Campo Grande é com o Consórcio Guaicurus, que não temos informações sobre as empresas que acercam o Consórcio'.

Imóvel abandonado na Euller de Azevedo (Foto: Alicce Rodrigues/Jornal Midiamax)

Lucro de R$ 68,5 milhões

Vale lembrar que perícia judicial analisou os balanços financeiros e constatou que o Consórcio Guaicurus teve lucro de R$ 68 milhões em 5 anos. Apesar disso e de receber R$ 37 milhões em verba pública em 2023, a empresa diz não ter recursos para melhorar o serviço oferecido à população e pede aumento no preço da passagem.

Anexado ao laudo pericial está a DRE (Demonstração do Resultado do Exercício), que é um relatório contábil que demonstra se as operações da empresa estão dando lucro.

Apesar das falhas apontadas por passageiros ao serviço do Consórcio Guaicurus, as planilhas da empresa demonstram que, somente nos 7 primeiros anos de operação, o lucro líquido foi de R$ 68.572.889,10.

O resumo do balanço patrimonial da empresa demonstra a evolução anual do lucro que os empresários que exploram o serviço de transporte urbano de Campo Grande obtiveram nos primeiros anos de contrato. Após registrar prejuízo de R$ 6 milhões no primeiro ano de operação, em que foram feitos os maiores investimentos para o início do serviço, os anos seguintes já trouxeram o retorno ao investimento feito inicialmente.

Em 2013, o lucro acumulado passou para R$ 4,6 milhões positivo, saltando para R$ 13 milhões no ano seguinte, R$ 16 milhões em 2016 e fechando 2019 na casa dos R$ 38,6 milhões. Os dados derrubam a tese apresentada pelos empresários do Consórcio Guaicurus de que enfrentam dificuldades financeiras.

Consórcio renovou apenas 15% da frota

Em 2023, a empresa comprou apenas 71 novos ônibus, que renovaram 15% da frota atual de 450 ônibus. Assim, outros 111 ônibus vencidos continuarão circulando em Campo Grande.

A frota tem idade média de 7,7 anos, acima do ideal estipulado em contrato, que é de 5 anos. Porém, as empresas de ônibus não informaram se, com a renovação, a idade da frota ficará dentro do que estipula o contrato.

O Consórcio Guaicurus ainda mantém 182 ônibus com idade igual ou superior a dez anos, que devem ser substituídos ainda em 2023. Porém, não disse como e nem se vai substituir os 111 ônibus que vão completar uma década este ano. Os 71 serão descontados desse total a substituir.

Na prática, muda pouca coisa para a população, já que não haverá criação de novas linhas de ônibus. Os novos veículos apenas vão substituir 71 dos ônibus velhos que atualmente circulam em Campo Grande. A superlotação e demora, principalmente nos bairros, continua.

Texto: Priscilla Peres e Mariane Chianezi/Jornal Midiamax