Aos 24 anos, Ana Carolina Oliveira da Costa foi mãe. Ela trabalhava no comércio de Campo Grande, mas não retornou ao trabalho após a licença maternidade. Priorizando os cuidados com a filha no primeiro ano, quando pensou em voltar ao trabalho se deparou com a pandemia de Covid-19. Para ter uma renda, apostou no trabalho informal e assim segue.

Ana Carolina não está só. Ela se une a 40% das mulheres de que optaram pelo trabalho informal, como forma de sobrevivência financeira. Dados do Dieese mostram que 44 mil mulheres estavam desocupadas e 478 mil fora da força de trabalho, no fim de 2022.

Com a chegada de um novo ano, as esperanças por uma recolocação no mercado de trabalho aumentam, mas as mulheres sul-mato-grossenses ainda carregam os reflexos da pandemia.

“Comecei a vender máscaras de tecido para farmácias e lojas. Depois tive a ideia de personalizar as máscaras para as crianças que precisavam ainda ir para escola, aí montei um kit com toalhinha, máscara e caneca, vendi muito”, conta Ana Carolina sobre a volta trabalho.

Agora com dois bebês em casa e precisando complementar a renda, Ana Carolina encontrou novas formas de trabalho. Em 2022 começou a empreender na área gráfica e personalizados e agora está prestes a abrir o próprio negócio formal.

A rotina como funcionária formal não cabe mais na vida de Ana Carolina, que agora tem horários flexíveis para atender as demandas dos dois filhos. Além do benefício de ter mais tempo com as crianças, ela afirma que melhorou financeiramente trabalhando por conta.

Mulheres fazem falta no mercado de trabalho

Presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Listas de Campo Grande), Adelaido Vila afirma que as mulheres fazem muita falta no varejo de Campo Grande, principalmente pela qualidade do serviço prestado por elas.

“Temos uma evasão das mulheres desde a pandemia e elas fazem muita falta no varejo. Além de 70% dos consumidores serem mulheres, elas ficam mais à vontade com mulheres no atendimento”, afirma o presidente da CDL.

A frente da entidade, ele conta que viu o fenômeno de saída de mulheres do mercado de trabalho na pandemia de Covid-19. “Naquele momento elas saíram do trabalho para ficar com as crianças em casa, devido ao fechamento das escolas, depois não voltaram e migraram para trabalhos informais, para ter mais tempo disponível”.

Trabalho de cuidado sobrecarrega mulheres

Neste ano, a redação do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) destacou o trabalho de cuidado realizado por mulheres no Brasil. Muito da falta de mulheres no mercado de trabalho formal, se deve a sobrecarga enfrentada dentro de casa. Conciliar trabalho formal, casa, filhos e casamento, não é uma tarefa simples.

“Há muito tempo que se “delega” o papel de cuidadora, de pessoas [crianças, idosos, enfermos] e da casa, para as mulheres. Na pandemia, isso se intensificou especialmente com a das aulas. Aliado a isso, o mercado de trabalho oferece salários mais baixos às mulheres, principalmente as negras”, afirma a economista e coordenadora do Dieese/MS, Andreia Ferreira.

A economista destaca que muitas mulheres deixaram o mercado de trabalho formal, mas não pararam de trabalhar. “A informalidade foi o caminho encontrado para manter uma renda mínima, já que os sistemas de suporte foram descontinuados ou tiveram seu uso desvirtuado”, destaca ela.

Dados da Organização Internacional do Trabalho comprovam a saída das mulheres do trabalho formal. A taxa de participação regional das mulheres, que girava em torno de 41% no início da década de 1990, aumentou de forma constante para 52,3% em 2019 (média dos três primeiros trimestres).

Em 2020, no mesmo período caiu para 47%, embora nesse ano a média regional tenha atingido 43%. Em 2021, a taxa de participação registou uma recuperação insuficiente, pois subiu para 49,7%, 2,5 pontos percentuais abaixo dos níveis pré-pandemia.

Em 2023, mercado de trabalho contratou 10 mil mulheres

Dados do (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que em 2023, o mercado de trabalho de Mato Grosso do Sul teve saldo de contratações de 10.696 mulheres, contra 22.729 homens, até novembro. O saldo é a diferença entra admitidos e desligados no ano.

O setor de serviços é o que mais emprega mulheres no Mato Grosso do Sul. O saldo de 2023 aponta para 5.772 mulheres contratadas no setor. O comércio é o segundo que mais emprega, com saldo de 1.633 mulheres contratadas no ano. Porém, em todos os segmentos os homens são maioria nas contratações.
O saldo de contratações de mulheres em 2023, até novembro, é o menor dos últimos dois anos. Em 2022, o saldo de mulheres contratadas foi de 16 mil e em 2021, de 17,7 mil.

Levantamento do Dieese mostra que Mato Grosso do Sul tinha 594 mil mulheres ocupadas em 2022, 44 mil sem trabalho e outras 478 mil fora da força de trabalho (não procuravam emprego). Do total de ocupadas, 40% atuavam na informalidade e 69% contribuíam com a Previdência Social.

Em Mato Grosso do Sul, os números mostram que as mulheres ganham 27% menor que os homens. Enquanto a média salarial deles é de R$ 3,3 mil a das mulheres é de R$ 2,4 mil mensais. Além disso, 32% das mulheres ganham até um salário mínimo.