Mais uma vez o Pantanal voltou aos holofotes devido às queimadas e basta um post nas redes sociais para uma enxurrada de comentários surgirem. O mais comum é quem normalize os incêndios no Pantanal, dizendo que eles “ocorrem todos os anos”, como se fosse algo natural.

Mas, será que é mesmo normal?

Os números mostram que não. Não há nada de comum nos incêndios que atingem o Pantanal em 2024. Mais que isso: a situação de seca enfrentada este ano é inédita – ou seja, alcançou níveis extremos em 2024, contribuindo para o avanço dos incêndios.

Mato Grosso do Sul registra 2.593 focos de incêndio até o dia 25. O montante é o maior número já registrado em junho desde o início da série de monitoramentos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em 1998. No Pantanal são 2.473 focos de queimadas até o dia 25 de junho, maior registro da história para o mês.

Os dados de monitoramento mostram o que o Jornal Midiamax viu in loco na semana passada. Equipe de reportagem esteve em Corumbá, cidade com maior número de focos de incêndio do país, e viu de perto a devastação deixada pelas queimadas.

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Militares enfrentam fogo de frente (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Quem mora no Pantanal vivencia avanço do fogo

É só pôr os pés em Corumbá e conversar com qualquer morador antigo para derrubar a teoria de que os incêndios, dessa proporção, se repetem todos os anos. “Esse mês não era para ser assim, é o São João, era para estar frio e chovendo, o tempo seco veio antes”, afirma o corumbaense Marcio Severino, 44.

O diretor institucional da Ecoa, Alcides Bartolomeu de Faria, explica que em épocas anteriores as queimadas de vegetação eram um problema grave, mas jamais ocorreu de forma tão devastadora como agora. “Nada mais falso. A medida é a quantidade de incêndios e áreas devastadas em 2020 e agora em 2024. Os dados estão aí e não adianta brigar com a verdade”, diz.

E a intensidade das queimadas de 2024 surpreende até brigadistas. “A gente não imaginou que junho seria dessa forma. Nessa época a gente trabalha mais voltado a se organizar para começar o período crítico que a gente tem que é agosto e setembro. Então, vocês imaginam aí que a tendência é aumentar esses focos daqui para frente”, afirma o chefe de Brigada Pantanal do Prevfogo, Anderson Thiago.

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Queimadas no Pantanal (Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)

Quem coloca fogo no Pantanal?

O Pantanal de Mato Grosso do Sul enfrenta um mês de junho inédito, com 2.590 focos de queimadas até o dia 24 de junho. O fogo tem se alastrado rápido e consumido centenas de hectares, mesmo diante da mobilização de brigadistas e forças de segurança. Mas, a pergunta que fica é: quem coloca fogo no Pantanal?

Quem vive ou atua com o Pantanal é unânime em dizer que há atuação humana nos incêndios. Principalmente porque há uma questão cultural de atear fogo em folhas e lixo, mas com o tempo extremamente seco, a chamas se alastram com facilidade. Aliado ao vento, o fogo sai de controle rapidamente.

Na segunda-feira (24), a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, sinalizou que o maior problema do bioma são os focos de incêndio criminosos em propriedades privadas. O depoimento aconteceu após a segunda reunião da Sala de Situação para ações de controle e prevenção do desmatamento e enfrentamento de incêndios e queimadas no Pantanal e na Amazônia.

Segundo ela, 85% dos incêndios estão em propriedades particulares. “Nós temos uma responsabilidade sobre as Unidades de Conservação federais, mas, neste momento, dos 27 grandes incêndios, o Governo Federal está agindo em 20, mesmo não sendo da nossa competência, porque o fogo não é estadual, não é municipal, o fogo é algo que destrói a vida e cria prejuízos econômicos, sociais e ambientais”, garantiu Marina.